Eficácia da musicoterapia na pessoa com dor crónica

Publication year: 2021

ntrodução:

A dor crónica tornou-se um problema major nos cuidados de saúde, pelo sofrimento que causa e pelas implicações ao nível socioeconómico. O controlo eficaz da dor é um dever dos profissionais de saúde e um direito dos utentes. A musicoterapia é um método não farmacológico de alívio da dor e do sofrimento. Esta investigação procura avaliar a eficácia da musicoterapia na pessoa com dor crónica, nomeadamente, estudar o impacto da musicoterapia: na severidade da dor experienciada pela pessoa com dor crónica; na interferência da dor no desempenho de atividades específicas; nas formas de lidar com a dor (coping); e na auto-estima da pessoa com dor crónica. Por último, identificar os benefícios e vantagens apontados pelos participantes na musicoterapia.

Metodologia:

Este trabalho desenvolveu-se no âmbito do projeto “Dói Menor” da Sociedade Artística Musical dos Pousos em parceria com o Politécnico de Leiria. Foi realizado um estudo de investigação quasi experimental, do tipo pré-teste e pós-teste, sem grupo de controlo. Os dados foram colhidos em quatro momentos distintos por profissionais de saúde. As intervenções de musicoterapia foram realizadas por musicoterapeutas da Sociedade Artística Musical dos Pousos. A amostra do estudo tem idade compreendida entre os 37 e os 73 anos, com uma média de 56,2±7,3 anos de idade, sendo constituída por 41 mulheres (83,7%) e 8 homens (16,3%). O número de participantes presente nos quatro momentos de colheita de dados foi distinto, tendo sido apontadas as seguintes razões para que os participantes faltassem a algumas destas sessões: a indisponibilidade para participar em todas as sessões semanalmente; não ter transporte ou não ter acompanhante para se deslocar até ao hospital; não ter conseguido sair do trabalho para participar; sentir-se pior e por esse motivo ficar em casa. Para o tratamento de dados foi utilizado o teste emparelhado não paramétrico de Friedman e o teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas.

Resultados:

77,6% da amostra são casados, 16,3% são separados ou divorciados, 4,1% são solteiros e 2% são viúvos, sendo que 85,7% dos participantes habitam com familiares e 14,3% da amostra habitam sós. Quanto à situação laboral, cerca de 61,2% está reformada, 14,3% encontram-se de baixa médica, 8,2% está empregada e em exercício das suas funções, 4,1% realiza trabalho doméstico e 12,2% encontram-se em situação de desemprego. Relativamente aos diagnósticos clínicos, estes foram agrupados por grupos de diagnóstico homogéneo, de acordo com a Classificação Internacional para Doenças-11 (Organização Mundial da Saúde, 2020). A amostra apontou ter sido diagnosticada com vários diagnósticos clínicos, oscilando entre 1 a 7, sendo a média de 2,4±1,5 de diagnósticos por pessoa. As “doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo” foram apontadas como as mais frequentes (53%), seguido dos “sintomas, sinais ou achados clínicos anormais, não classificados noutra categoria”, que neste estudo diz respeito ao diagnóstico clínico de fibromialgia ou dor neuropática (38,8%) e em terceiro lugar, as “lesões, envenenamentos e outras consequências de causa externa”, que neste estudo diz respeito às hérnias discais cervicais ou lombares (32,7%). O tempo de diagnóstico clínico da amostra (N = 49) foi bastante variável, entre 2 meses a 35 anos, com uma média de 9,0±8,2 anos. O sintoma mais frequente, que a totalidade da amostra referiu experienciar, foi a dor (100%), seguido de cansaço (18,4%), parestesias (12,2%), parésia (6,1%), ansiedade (4,1%), humor deprimido (4,1%), mal-estar geral (2%) e plégia (2%). A musicoterapia diminuiu o impacto na interferência da dor na relação com os outros e na alegria de viver, assim como na interferência global da dor no desempenho de atividades específicas, com significado estatístico (p < 0,05). A musicoterapia teve impacto nas formas de lidar com a dor (coping), a nível cognitivo-comportamental (p < 0,05). A terapia através da música contribuiu ainda para o desenvolvimento de métodos próprios de fazer diminuir a dor ou torná-la mais tolerável (p < 0,05). Os efeitos produzidos tiveram maior expressão, entre o primeiro e o terceiro tempo de estudo. Várias foram as vantagens apontadas pelos participantes relativamente à participação neste estudo e quanto à musicoterapia, nomeadamente: o convívio; relaxamento; sensação de bem-estar; alívio da dor; novas aprendizagens; e a interpretação da dor de outra forma.

Conclusão:

A musicoterapia parece ter alguns efeitos na pessoa com dor crónica. É necessário estudar os efeitos da musicoterapia na pessoa com dor crónica em Portugal, em larga escala, a curto, médio e longo prazo para que sejam conhecidos os reais efeitos desta terapia.

Introduction:

Chronic pain has become a major concern in Healthcare due to the suffering it causes and its socioeconomic implications. Effective pain management is a healthcare professional’s duty and a patient’s right. Music therapy is a non-pharmacological method of relieving pain and suffering. This research aims to evaluate music therapy’s effectiveness in chronic pain patients, including, it’s impact in: pain severity; pain interference in daily activities; patients’ ability to cope with pain; and patients’ self-esteem. Lastly, to understand the benefits and advantages found in music therapy by users.

Methodology:

This research is part of the “Dói Menor” project, from the Musical Artistic Society of Pousos in partnership with the Polytechnic of Leiria. A quasi experimental investigation was carried out, pretest-posttest design, without control group. The data was collected in four separate occasions, by healthcare professionals. Music therapy sessions were delivered by music therapists from the Musical Artistic Society of Pousos. The sample included people aged between 37 and 73 years old, averaging 56,2±7,3 years old, among which, 41 participants are women (83,7%) and 8 are men (16,3%). The number of participants at the four data collection moments was different, having been pointed out as reasons for not attending: the unavailability to participate in all weekly sessions ;not having transportation to travel to hospital nor having a relative to accompany them to hospital; not being able to leave work; feeling worse and staying home instead. For data analysis, Friedman’s non-parametric paired test and Wilcoxon’stest for paired samples were used.

Results:

77,6% of the individuals are married, 16,3% are separated or divorced, 4,1% are single and 2% are widowed. 85,7% of the participants live with relatives and 14,3% live on their own. Regarding the work status, 61,2% are retired, 14,3% are on sick leave, 8,2% are employed and working, 4,1% are stay-at-home workers and 12,2% are unemployed. Regarding the clinical diagnosis, the participants’ answers have been arranged by diagnostic group, according to the Internacional Classification of Diseases-11 (World Health Organization, 2020). The participants reported having been diagnosed with 1 to 7 clinical diagnosis, on average 2,4±1,5 diagnosis per person. The “diseases of the musculoskeletal system or connective tissue” are more frequent among the study sample (53%), followed by the “symptoms, signs or clinical findings, not elsewhere classified”, in this study relating to fibromyalgia or neuropathic pain (38,8%), followed by the “injury, poisoning or certain other consequences of external causes”, in this study regarding herniated cervical disk or lumbar disk (32,7%). The time of diagnosis was variable, between 2 months and 35 years, averaging 9,0±8,2 years. The most commonly experienced symptom was pain (100%), followed by tiredness (18,4%), paresthesia (12,2%), paresis (6,1%), anxiety (4,1%), depressed mood (4,1%), general malaise (2%) and plegia (2%). Music therapy reduces chronic pain interference in personal relationships with others and in the joy of living, as well as the global interference of pain in daily activities, with statistical significance (p < 0,05). Music therapy had an impact in patients’ ability to cope with chronic pain, on a cognitive-behavioral level (p < 0,05). Music therapy contributed in the development of patients’ own ways to relief pain or make it more bearable (p < 0,05). The greatest expression of effects were found between the first and the third time of the study.

The benefits pointed out by participants about participating in the study and in music therapy were:

conviviality; relaxation; wellbeing; pain relief; learning something new; and interpreting pain differently.

Conclusion:

Music therapy seems to produce some effects in chronic pain patients. It is still necessary to study further, on a short, medium and long-term scale, to deeper understand the real effects of music therapy in Portugal.