Reprodução social & aleitamento materno (estudo populacional no município de Itupeva, SP)
Publication year: 2002
Apesar do movimento em prol do aleitamento materno e dos esforços para deter o desmame precoce, a freqüência e a duração da amamentação no Brasil permanecem inferiores às recomendações da Organização Mundial de Saúde. Os poucos estudos com base populacional sobre a situação do aleitamento materno no Brasil, em sua maioria tem se baseado no referencial teórico da multicausalidade do processo saúde-doença. Enquanto sub-projeto de uma investigação mais ampla, este estudo transversal de base populacional pretendeu verificar como são associados o perfil de reprodução social das famílias - formas de trabalhar e de viver - e a situação de aleitamento materno. Foi realizado numa amostra significativa de 261 crianças menores de 20 anos, residentes na área urbana da cidade de Itupeva (SP). A partir de um modelo teórico hierarquizado, centrado na categoria da reprodução social, foram compostos os perfis utilizando-se uma base teórico-metodológica-operacional que pré-definiu três grupos sociais homogêneos (GSH's). Para avaliar os padrões de aleitamento materno foram utilizados os indicadores recomendados pela OPS/OMS, sendo a freqüência e a duração mediana calculadas a partir da técnica da tábua de vida. Verificou-se a associação entre as variáveis estudadas através da análise bivariada (teste x2; P<0,05). Foram inseridas num modelo de Regressão de Cox, para a análise multivariada, aqueles que se associaram ao tempo de aleitamento materno num nível de significância de 10% (Teste de Wilcoxon; P<0,10). Os resultados evidenciaram que 44,4% da amostra, constituída por famílias do GSH3, apresentaram as mais precárias formas de reprodução social, se evidenciando como as mais profundamente excluídas da integração social. As famílias que compuseram o GSH1 (19,2%) preencheram os atributos para a inserção qualificada na produção, se mostrando protegidas de precarização do trabalho, com um padrão diferenciado de consumo e de ) representação coletiva e com possibilidade de uso do espaço geo-social, enquanto as 36,4% componentes do GSH2, pareceram lutar pela sua integração na sua vida social, enfrentando a exclusão relativa às suas formas de trabalhar ou de viver. Considerando o aleitamento materno, 97,3% das crianças iniciaram a amamentação e no momento da entrevista 41,0% estavam em aleitamento materno, mas, conforme as curvas de sobrevida, 10,4% já haviam sido desmamadas antes de 1 mês de vida e 38,5% antes dos 6 meses. A duração mediana do aleitamento materno foi de 7,2 meses e do aleitamento materno exclusivo de apenas 28 dias. No total da amostra estudada, observou-se uma associação entre o tempo de aleitamento materno e as variáveis: ordem de nascimento, uso da mamadeira, uso da chupeta, número de filhos, situação conjugal da mãe e escolaridade do pai. Analisando-se os três GSH's separadamente, além do uso de mamadeira e uso de chupeta (comuns aos três GSH's), as variáveis, específicas em cada grupo, associadas ao tempo de aleitamento materno foram: a situação conjugal materna (no GSH1), a renda familiar "per capita" (no GSH2) e a ordem de nascimento, o número de filhos e a escolaridade do pai (no GSH3). Na análise multivariada, o modelo selecionou como significativas apenas as variáveis ordem de nascimento, uso de mamadeira e de chupeta. A reprodução social - explicitada através dos GSH's não foi indicada como uma variável associada à duração do aleitamento materno na análise bivariada, e mesmo sendo inserida no modelo multivariado, não foi selecionada como variável significativa. O fato das variáveis escolaridade do pai, situação conjugal materna, número de filhos e ordem de nascimento se mostraram associadas (P<0,05) tanto à duração do aleitamento materno quanto aos GSH's sugerem a existência de uma relação entre os padrões de aleitamento e os GSH's - perfis de reprodução social - necessitando assim, ser melhor explorada.
Despite the movement in favor of the breastfeeding and the efforts to detain the early weaning, frequency and duration of the breastfeeding in Brazil remain inferior to the recommendations of the World Health Organization. The few population-based studies about the situation of breastfeeding in Brazil are mostly based on the multifactorial conceptual model of the health and illness process. As a sub-project of a wider investigation, this population-based cross-section study was intended to verify the association between the social reproduction profile of the families - working and living conditions - and the breastfeeding status. It was carried out on a representative sample of 261 children, which were less than 2 years old, residents of the urban area of Itupeva city, São Paulo, Brazil. From a hierarchical theoretic model that is focused on the social reproduction category, the profiles were built using a theoretical-methodological-operational basis, which established 3 homogeneous social groups (HSG's). In order to evaluate the breastfeeding patterns, the indicators recommended by OPS/WHO were used, and the frequency and the median duration were calculated by using the lifetable technique. The association between the studied variables was verified through bivariate analysis (X2 test; P<0.05). For the multivariate analysis, the variables associated with the breastfeeding time in a significance level of 10% (Wilcoxon test; P<0.10) were inserted in a Cox Regression model. The results have showned that 44.4% of the sample had the most precarious way of social reproduction. This part of the sample was composed by HSG3 families, most profoundly excluded from social integration. The families that composed the HSG1 (19.2%) have fulfilled all the qualifications for the adequate integration into production, and they seemed to be protected from work's precariousness, with a differentiated pattern of consumption and group representation, and with the possibility of using the geo-social space. Furthermore, the 36.4% components of the HSG2 have given the impression of fighting for their integration into social life and they were facing the social exclusion related to their way of living or working. Regarding the breastfeeding, 97.3% of the children have initiated breastfeeding and 41.0% were in breastfeeding at the moment of the interview. However, according to lifetables, 10.4% had been weaned already weaned before 1 month of life and 38.5% before six months old. The breastfeeding median duration was 7.2 months and exclusive breastfeeding median duration was only 28 days. Over the entire sample, it was observed an association between the breasfeeding time and the following variables: sequence of birth, bottle-feeding, pacifier use, number of children, mother's marital status and father's schooling. When analyzing the three HSG's separately, besides bottle-feeding and pacifier use (which were common to the three HSG's) the specific breastfeeding time variables of each group were: mother's marital status, (in HSG1), the "per capita" familiar income (in HSG2) and the sequence of the birth, number of children and father's schooling (in HSG3). In the multivariate analysis, the model had selected as significant variables: sequence of birth, bottle-feeding and pacifier use. The social reproduction - showed through the HSG's - was not indicated as a variables associated with the duration of breastfeeding in the bivariate analysis and, although it was inserted in the multivariate model, it was not selected as a significant variables. The fact that father's schooling, mother's marital status, number of children and sequence of birth variables were associated (P<0.05) to the breastfeeding duration and to the HSG's, suggests a relationship between the breastfeeding patterns and the HSG's, - social reproduction profiles-, which needs to be more explored.