Acesso à profilaxia pós-exposição ao HIV: barreiras e possibilidades
Access to HIV post-exposure prophylaxis: barriers and possibilities

Publication year: 2021

Introdução:

O número de casos de HIV continua a aumentar globalmente, de forma desproporcional em homens que fazem sexo com homens e outras populações vulneráveis, apesar do desenvolvimento de múltiplas estratégias de prevenção. Dentre essas estratégias, destaca-se a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), ainda que subutilizada, se encontra no centro da cascata de prevenção. Ao seguir seu protocolo os usuários são levados a testagem, podendo ser encaminhados à profilaxia, ao tratamento (caso seja necessário) e até mesmo ofertados à outras estrategias, sendo assim uma ferramenta multipotente para a interrupção da cadeia de transmissão do HIV. Assim, nosso estudo teve como objetivo explorar o acesso aos serviços de saúde que ofertam a Profilaxia Pós exposição ao HIV e as tecnologias disponíveis para auxiliá-lo.

Métodos:

Foram realizadas duas etapas sequenciais: 1ª- Estudo exploratório e descritivo com abordagem qualitativa e 2ª- Estudo de Prospecção de Tecnologias. A pesquisa obedeceu às diretrizes éticas sobre pesquisas com seres humanos, reguladas pela resolução 466/12 e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP (parecer nº 3.280.490). O estudo qualitativo visou explorar as barreiras de acesso à Profilaxia Pós Exposição ao HIV percebidas por usuários e profissionais de saúde nos serviços de saúde especializados. Para isso foi realizada uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. Os participantes da pesquisa foram profissionais médicos e enfermeiros envolvidos no protocolo da profilaxia em Centros de Referência e usuários da prevenção, totalizando 10 participantes, amostragem definida por saturação de dados. As entrevistas gravadas foram transcritas e posteriormente processadas pela Classificação Hierárquica Descendente e por análise de Similitude. A prospecção foi guiada pelo objetivo de identificar e analisar os aplicativos móveis que abordam PEP para infecções por HIV.

Conduzimos um estudo exploratório descritivo em 3 fases sequenciais:

revisão sistemática da literatura, análise de patentes e busca sistemática de lojas de aplicativos. Para a revisão sistemática, seguimos as diretrizes Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyzes adaptadas para uma revisão integrativa nas bases de dados PubMed, Web of Knowledge, Scopus, Cochrane, Embase, Science Direct, Eric, Treasure e CINAHL.

Resultados:

Foram obtidas cinco classes: Informação; Centralização de acesso; Fluxo de atendimento; Relações interpessoais nos serviços de saúde e Dificuldades e Barreiras. Existem diversos fatores dificultadores no acesso à prevenção que perpassam conhecimento, acolhimento e divulgação de informações. Diante do advento da Pandemia de COVID-19 muitos desses problemas se agravam e aumentam a vulnerabilidade de possíveis utilizadores da profilaxia. Na busca por tecnologias que auxiliassem o acesso a PEP, os aplicativos encontrados apenas informam sobre a prevenção e tratamento do HIV tendo como públicoalvo profissionais de saúde, pessoas com HIV ou a população em geral, mas com recursos disponíveis apenas limitados, isto é, principalmente texto, imagens e vídeos. Os três aplicativos com foco exclusivo no PEP foram criados por pesquisadores de universidades brasileiras.

Conclusão:

O acesso à profilaxia pós-exposição ao HIV encontra desafios e barreiras, que vão desde o desconhecimento sobre a profilaxia, o que impossibilita sua busca, à centralização dos serviços de saúde e estigmas que permeiam as estruturas dos serviços de saúde. Nossa revisão não encontrou nenhuma conexão entre os estudos científicos, patentes registradas e os aplicativos disponíveis relacionados ao PEP; esse achado indica que esses aplicativos disponíveis não possuem um embasamento teórico ou metodológico em sua criação.

Introduction:

The number of HIV cases continues to rise globally, disproportionately in men who have sex with men and other vulnerable populations, despite the development of multiple prevention strategies. Among these strategies, HIV Post-Exposure Prophylaxis (PEP) stands out, although underutilized, is at the center of the prevention cascade. By following its protocol, users are tested and may be referred to prophylaxis, treatment (if necessary) and even offered to other strategies, thus being a multipotent tool for interrupting the HIV transmission chain. Thus, our study aimed to explore access to health services that offer Postexposure HIV Prophylaxis and the technologies available to help it.

Methods:

Two sequential steps were carried out: 1st - Exploratory and descriptive study with a qualitative approach and 2nd - Technology Prospection Study. The research followed the ethical guidelines on research with human beings, regulated by resolution 466/12 and approved by the Ethics and Research Committee of the Nursing School of Ribeirão Preto/USP (opinion nº3.280,490). The qualitative study aimed to explore the barriers to accessing HIV Post Exposure Prophylaxis perceived by users and professionals in specialized health services. For this, an exploratory research with a qualitative approach was carried out. The research participants were medical professionals and nurses involved in the prophylaxis protocol in Reference Centers and prevention users, totaling 10 participants, a sample defined by data saturation. The recorded interviews were transcribed and later processed by the Descending Hierarchical Classification and by Similitude analysis. The prospect was guided by the objective of identifying and analyzing mobile apps that address PEP for HIV infections.

We conducted a descriptive exploratory study in 3 sequential phases:

systematic literature review, patent analysis and systematic search of app stores. For the systematic review, we followed the Preferred Reporting Items guidelines for Systematic Reviews and Meta-Analyzes adapted for an integrative review in the PubMed, Web of Knowledge, Scopus, Cochrane, Embase, Science Direct, Eric, Treasure and CINAHL databases.

Results:

Five classes were obtained: Information; Access centralization; Service flow; Interpersonal relationships in health services and Difficulties and Barriers. There are several factors that hinder access to prevention that permeate knowledge, reception, and dissemination of information. With the advent of the COVID-19 pandemic, many of these problems are aggravated and increase the vulnerability of possible users of prophylaxis. In the search for technologies that would aid access to PEP, the apps found only inform about the prevention and treatment of HIV, targeting health professionals, people with HIV or the general population, but with only available resources limited, that is, mainly text, images, and videos. The three applications with an exclusive focus on PEP were created by researchers from Brazilian universities.

Conclusion:

Access to HIV post-exposure prophylaxis faces challenges and barriers, ranging from the lack of knowledge about prophylaxis, which makes it impossible to pursue it, to the centralization of health services and stigmas that permeate the structures of health services. Our review found no connection between scientific studies, registered patents, and available applications related to PEP; this finding indicates that these available applications do not have a theoretical or methodological basis in their creation.