O trabalho da mulher e suas condições de saúde: pesquisa realizada em uma comunidade de baixa renda
The women's work and their conditions: research conducted in a low-income community

Publication year: 2003

Esta pesquisa estuda a relação entre o trabalho e as condições de saúde da mulher sob a perspectiva histórico-social fundamentada nas idéias de Breilh (1994), para quem as mulheres com dupla e tripla carga de trabalho apresentam um desgaste, visto como fator desencadeante dos problemas de saúde. Assim, através de um estudo de natureza transversal descritivo, de base populacional, pretendeu-se investigar, na Comunidade Nova Conquista, como o processo saúde/doença da mulher em idade reprodutiva se relaciona à sobrecarga de trabalho. A amostra representativa foi constituída por 309 mulheres de 15 a 49 anos, residentes na Comunidade Nova Conquista, localizada no município de Diadema, SP. Os dados foram coletados através de entrevistas domiciliares realizadas por estudantes de enfermagem e agentes de saúde previamente treinadas. Foram considerados como trabalhos executados pelas mulheres, o doméstico (afazeres relacionados ao cuidado da casa e cuidado com crianças ou idosos), o remunerado (qualquer atividade pelo qual a mulher recebia pagamento, fosse ele formal ou informal, exercido dentro ou fora de casa) e o reprodutivo (desempenhado por mulheres com filhos). As cargas de trabalho foram definidas em única, dupla (com e sem filhos) e tripla: mulheres com carga única executavam somente trabalho doméstico; aquelas com dupla carga incluíram mulheres com trabalho doméstico e trabalho remunerado (dupla sem filhos) ou aquelas com trabalho doméstico e trabalho reprodutivo (dupla com filhos); mulheres com tripla carga executavam trabalho doméstico, remunerado e reprodutivo. Estado nutricional, problemas de saúde dos últimos quinze dias e alguns aspectos preventivos foram analisados de acordo com as cargas de trabalho. A totalidade das mulheres executava o trabalho doméstico, 56,3% tinham trabalho remunerado e 84,1% trabalho reprodutivo.

A grande maioria era submetida à sobrecarga de trabalho:

31,4% trabalhavam com ) sobrecarga tripla (trabalho doméstico+trabalho remunerado+trabalho reprodutivo), 56,3% tinham dupla carga de trabalho (32,7% com trabalho doméstico+trabalho reprodutivo, com filhos & 23,6% com trabalho doméstico+trabalho remunerado, sem filhos) e 12,3% constituiu o grupo com única carga de trabalho. Quase metade das mulheres tinha excesso de peso, sendo que tanto a pré-obesidade quanto a obesidade aumentaram significativamente com as cargas de trabalho. A maioria dos problemas de saúde era de ordem física e os problemas emocionais predominaram significativamente nas mulheres com sobrecarga de trabalho. Metade das mulheres utilizavam o serviço público para resolução dos problemas de saúde, e igual proporção automedicava-se. Não se verificou associação entre providências tomadas diante dos problemas de saúde e cargas de trabalho. A prática contraceptiva mais utilizada pelas mulheres era a pílula, especialmente pelas mulheres sem filhos. A indicação médica foi insignificante na escolha do método. Maior porcentual de mulheres sem filhos não faziam auto-exame da mama e exame Papanicolau. A televisão constituiu-se na principal atividade de lazer para dois terços das mulheres. Maior proporção de mulheres com filhos (dupla e tripla carga de trabalho) dormiam menos de 5 horas diárias, e proporção significativamente maior de mulheres com tripla carga de trabalho fumava ou já havia fumado. Os resultados evidenciam a necessidade de se trabalhar na diminuição da sobrecarga de trabalho da mulher, cabendo aos profissionais de saúde, promover a conscientização da população, além de buscar alternativas de caráter preventivo ou de detecção precoce de problemas de saúde relevantes como é o caso da obesidade, dos problemas emocionais e gastrointestinais, além dos cardiovasculares, conseqüentes da sobrecarga de trabalho.
This research studies the relationship between the women's health conditions under the historical-social point of view based on the Breilh's ideas (1994), in which women with double or triple workload present a stress considered as a triggering factor of health problems. Thus, by means of a descriptive transversal study with a population basis, we had the objective to investigate in the community of Nova Conquista, how the health/disease process in women in a reproductive age is related to overload at work. Our sample consisted of 309 women with ages ranging from 15 to 49 years, living in Nova Conquista community, located in Diadema, SP. Data were collected by means of home interviews performed by previously trained nursing students and health agents. The following chores were considered as work performed by women, domestic (those related to home and care with children or elderly people), remunerated (any activity where women are paid, formal or informal, performed in or out of the house) and the reproductive (for women who had mentioned a previous gestation). Workloads were defined as single, double (with or without children) and triple: women with a single load performing domestic work; those with double load including women with domestic and remunerated work (double without children) or those with domestic and reproductive work (double with children); women with triple load performing domestic, remunerated and reproductive work. Nutritional status, health problems in the last fifteen days and some preventive aspects were analyzed according to work load. The total of women performing domestic work, 56.3% had a remunerated work and 84.1% a reproductive work.

The great majority was submitted to work load:

31.4% worked with triple workload ( domestic + remunerated + reproductive work), 56.3% had double workload (32.7% with domestic + reproductive work with children, 23.6% with domestic + remunerated work without children). Only 12.3% consisted the group with a single workload. Almost half of women had obesity, either pre-obesity or obesity significantly increase with workload. The great majority of health problems were physical and emotional problems related to women's workload. Half women used public health to solve health problems and in the same proportion they had self-medication. No association was verified between measures taken when facing women's problems and workload. The most contraceptive practice used by women was the contraceptive-pill, especially by women without children. The medical indication was not significant when choosing the method. The greatest percentage of women without children did not perform breast self-exam and Papanicolau's test. Television was the main leisure activity for two-thirds of women. A greater proportion of women with children (double and triple workload) slept less than 5 hours a day and a significant proportion of women with triple workload had or still have smoking habits. The results showed the need to work to reduce women's workload being the health professionals responsible to make the population conscious besides trying to seek for preventive alternatives or to detect early health problems significant as obesity, emotional and gastrointestinal problems in addition to cardiovascular due to workload.