Consumo alimentar segundo a classificação NOVA, alterações da pressão arterial e incidência de hipertensão em adultos da Coorte de Universidades Mineiras (CUME)
Food consumption according to the NOVA classification, changes in blood pressure and incidence of hypertension in adults from the Cohort of Universities in Minas Gerais (CUME)

Publication year: 2020

A hipertensão arterial (HA) é um importante problema de saúde pública devido à sua alta magnitude e por constituir o mais relevante fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV), principal causa de morbimortalidade em todo o mundo. Estima-se que o consumo alimentar não saudável constitui um dos determinantes mais importantes para o aumento da pressão arterial (PA) e desenvolvimento da HA. Esta relação tem sido muito estudada usando-se escores pré-definidos ou classificações de alimentos que mesclam aqueles considerados saudáveis e não saudáveis em um mesmo grupo. Com o intuito de contornar este problema, foi proposta, em 2009, a classificação NOVA que separa os alimentos de acordo o grau de processamento em: alimentos in natura/minimamente processados (IN/MP); ingredientes culinários processados (ICP); alimentos processados (AP); alimentos ultraprocessados (AUP).

Objetivo:

Analisar o consumo alimentar segundo a classificação NOVA de adultos da Coorte de Universidades Mineiras (CUME) e sua associação com alterações na PA e incidência da HA.

Método:

Trata-se de um estudo longitudinal com 2.496 egressos de universidades federais do Estado de Minas Gerais que participaram da linha de base (março a agosto de 2016) e da primeira onda de seguimento (março a agosto de 2018) do projeto (taxa de retenção = 80%). Na linha de base, os participantes responderam a um amplo questionário online composto por questões sobre dados do estilo de vida, sociodemográficos, antropométricos, bioquímicos e clínicos, morbidade referida individual e familiar, uso de medicamentos e consumo alimentar. No seguimento, os participantes responderam a um questionário online mais curto com questões sobre mudanças no estilo de vida, consumo alimentar e condições de saúde desde a primeira coleta com o foco na incidência de doenças.

A exposição foi o consumo alimentar dos grupos de alimento segundo a classificação NOVA:

a) in natura/minimamente processados/ingredientes culinários processados (IN/MP/ICP); b) alimentos processados (AP); c) alimentos ultraprocessados (AUP).

Os desfechos foram:

a) alterações nas pressões arteriais sistólica (PAS) e diastólica (PAD) ao longo do tempo: a.1) de maneira contínua (PAS n = 1.547; PAD n = 1.517) (ex.: PAS no seguimento – PAS na linha de base) ou a.2) categorizada (PAS n = 1.547; PAD n = 1.517) (manteve, diminuiu, aumentou); b) incidência de HA, avaliada a partir dos critérios do Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure (JNC), adotado no Brasil (n = 1.840), e do American College of Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA) (n = 1.221).

As associações independentes entre a exposição e os desfechos foram verificadas com a utilização de técnicas de análises estatísticas multivariadas apropriadas:

a) alterações da PA (variáveis contínuas) = modelos de regressão linear; b) alterações da PA (variáveis categóricas) = modelos de regressão multinomial; c) incidência da HA = modelos de regressão de Poisson.

Resultados:

As médias de PAS e PAD na linha de base foram 115,6 mmHg e 75,2 mmHg e no seguimento foram de 115,3 mmHg e 74,9 mmHg, respectivamente. Durante o seguimento de dois anos, 14% e 18% dos participantes aumentaram, respectivamente, a PAS e a PAD, enquanto 15% e 19% dos participantes diminuíram, respectivamente, a PAS e a PAD. Não houve associações significativas entre os grupos alimentares e a PAS. Por outro lado, para cada 1% no aumento do consumo de alimentos IN/MP/IC e de AUP houve, respectivamente, -0,05 mmHg de diminuição e +0,05 mmHg de aumento da PAD ao longo do tempo. Ademais, o aumento percentual da contribuição calórica de alimentos IN/MP/IC no consumo alimentar diminuiu o risco de aumento da PAD (RR = 0,56; IC 95% = 0,35-0,90), enquanto que o aumento percentual da contribuição calórica de AUP no consumo alimentar incrementou o risco de aumento da PAD (4º quintil – RR = 2,02; IC 95% = 1,28-3,18; 5º quintil – RR = 1,75, IC 95 % = 1,10-2,79). Utilizando os critérios diagnósticos do JNC para a classificação da HA, foram identificados 230 novos casos da doença de um total de 1.868 participantes (66/1.000 pessoas-ano); não foram encontradas associações significantes entre a exposição e o desfecho. Já para a classificação da HA segundo os critérios do ACC/AHA, identificou-se 373 novos casos da doença de um total de 1.241 participantes (160/1.000 pessoas-ano). Os maiores consumos (5º quintil) de alimentos IN/MP/IC e AUP se associaram, respectivamente, à redução (RR = 0,72; IC 95% = 0,52-0,98) e ao aumento do risco de HA (RR = 1,35; IC 95 % = 1,011,81) .

Conclusão:

do ACC/AHA O , embora sejam adultos jovens s participantes apresentaram alta incidência de HA com alto nível de escolaridade pelo critério . As maiores contribuições percentuais calóricas na dieta de alimentos considerados saudáveis (IN/MP/IC) e não saudáveis (AUP), diminuíram e aumentaram respectivamente, Palavras chave: o risco de elevação da PAD e de incidência de HA.
Hypertension is an important public health problem due to its high magnitude once it is the most relevant risk factor for cardiovascular diseases (CVD), the main cause of disability and death worldwide. Unhealthy eating habits are one of the most important determinants for increasing blood pressure (BP) and the development of hypertension. This relationship has been studied using pre-defined scores or food classification, which mix both healthy and unhealthy foods in the same group. In order to overcome this problem, the NOVA classification was proposed in 2009.

It separates foods according to the degree of processing into:

unprocessed/minimally processed foods and processed culinary ingredients (U/MP/PCI); processed foods (PF); ultra-processed foods (UPF).

Objective:

To analyze food consumption according to the degree of processing of adults in the Minas Gerais University Cohort (CUME) and its association with changes in BP and the incidence of hypertension.

Methods:

Longitudinal study with 2,496 graduates from federal universities in the State of Minas Gerais that participated in the baseline (March to August 2016) and the first follow-up wave (March to August 2018) of the project (rate retention = 80%). At the baseline, participants answered a comprehensive online questionnaire with questions about lifestyle, sociodemographic, anthropometric, biochemical and clinical data, individual and family reported morbidity, use of medications and food consumption. In the follow-up, they answered a shorter online questionnaire about changes in lifestyle, eating habits and health conditions since the first data collection. The focus was on the incidence of diseases. The exposure was food consumption by food groups according to NOVA.

The outcomes were:

a) changes in systolic (SBP) and diastolic (DBP) blood pressures over time: a.1) continuously (e.g., SBP in follow-up - SBP at baseline) or a.2) categorized (maintained, decreased, increased); b) incidence of hypertension assessed by the criteria of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure (JNC), adopted in Brazil, and the one of American College of Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA).

Independent associations between exposure and outcomes were verified using appropriate multivariate statistical analysis techniques:

a) BP changes continuous variables) = linear regression models; b) BP changes (categorical variables) = multinomial regression models; c) incidence of hypertension = Poisson regression models.

Results:

At baseline, SBP and DBP means were 115.6 mmHg and 75.2 mmHg and in the followup they were 115.3 mmHg and 74.9, respectively. During the two-year follow-up, 14% and 18% of the participants increased, respectively, the SBP and DBP, while 15% and 19% of the participants decreased, respectively, the SBP and DBP. We did not find significant associations between food groups and SBP. On the other hand, for each 1% increase in food consumption U/MP/CI and UPF there was, respectively, -0.05 mmHg decrease and +0.05 mmHg increase in DBP over time. Furthermore, the percentage increase in the caloric contribution of U/MP/CI in food consumption decreased the risk of increasing the DBP (RR = 0.56; CI 95% = 0.35-0.90). On the other hand, the percentage increase in the caloric contribution of UPF in food consumption increased the risk of increasing the DBP (4th quintile – RR = 2.02; CI 95% = 1.28-3.18; 5th quintile – RR = 1.75, CI 95 % = 1.10- 2.79). Using the JNC's diagnostic criteria, 230 new cases of hypertension out of 1.868 participants (66/1.000 personyears) were identified. In this case, we did not find significant associations between exposure and outcome too. However, according to the ACC/AHA criteria, 373 new cases of hypertension out of 1.241 participants (160/1.000 person-years) were identified. The highest consumption of food U/MP/CI and UPF was associated, respectively, with reduction (RR = 0.72; CI 95% = 0.52-0.98) and increase (RR = 1.35; CI 95 % = 1.01-1.81) of the risk of hypertension.

Conclusions:

participants had a high incidence of hypertension, although they are young adults with a high level of education. The highest percentage of caloric contributions to the diet of foods considered healthy (U/MP/CI) and unhealthy (UPF), decreased and increased, respectively, the risk of increased DBP and the incidence of hypertension.