Atitudes dos enfermeiros face à importância da família no processo de cuidar

Publication year: 2021

Cada família tem um segredo, e o segredo é o facto de não ser como as outras famílias” (Bennett, 2000, p. 38) Atualmente, os enfermeiros têm uma responsabilidade acrescida sobre a saúde das populações, nomeadamente no que concerne ao cuidado familiar, pelo que devem desenvolver competências para se poderem constituir como ajuda profissional avançada, que promova respostas adaptativas dos atores intervenientes nestas dinâmicas. A relação interpessoal tem que abranger os outros significativos do utente, nomeadamente a família (Carvalhal, 2010). A transferência do conhecimento, relativo à enfermagem de saúde familiar, para a prática clínica de enfermagem é um desafio. No processo de integrar a teoria à prática, as motivações e atitudes dos enfermeiros são fortemente influenciadas pelas suas perceções de autoeficácia (Cruz A. C., 2015), razão pela qual se entende pertinente conhecer as atitudes dos enfermeiros na abordagem à família para a sua integração no processo de cuidados. A temática das atitudes do enfermeiro para com a família, no processo de cuidado, como domínio recente e devidamente enquadrado nas funções do Enfermeiro Mestre em Saúde Familiar, norteou a tomada de decisão pelos objetivos estabelecidos e atividades desenvolvidas na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Ansião (UCSPA). A par da caracterização dos contextos da prática clínica de enfermagem de saúde familiar, é apresentada a Fundamentação Teórica, são enunciadas as atividades desenvolvidas no âmbito da aquisição de competências do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária-Área de Saúde Familiar, é descrita a Prática Especializada Baseada na Evidência (Investigação), complementadas por análises crítico-reflexivas dos resultados obtidos e do percurso trilhado.

A evidência científica é sustentada na questão de investigação:

“Quais são as atitudes que os enfermeiros, em Cuidados de Saúde Primários (CSP) e em Formação, adotam, face à importância da família no processo de cuidar?”. É usada uma metodologia quantitativa, descritiva, analítica e correlacional, numa amostra constituída por treze enfermeiros, que exercem a sua prática em diversos contextos de cuidados. Como instrumento de colheita de dados, é utilizado um questionário de caraterização sociodemográfica e a Escala “A Importância das Famílias nos cuidados de Enfermagem - Atitudes dos Enfermeiros” (Oliveira et al., 2011). O caminho percorrido, rumo à aquisição de competências em Enfermagem de Saúde Familiar, reconhecidas na integração de conhecimento apreendido e desenvolvido ao longo do período teórico e nos ensinos clínicos precedentes, numa perspetiva de compreensão da importância da Enfermagem de Saúde Familiar na obtenção de ganhos em saúde, junto dos utentes, das famílias e das comunidades, encontra-se refletido no presente relatório. Nas conclusões do estudo, é evidenciado que os enfermeiros têm, na sua maioria, atitudes positivas, face à família nos cuidados de enfermagem. Não se verificam diferenças estatisticamente significativas em relação ao título profissional, às habilitações académicas, à unidade de exercício de funções, ao tempo de exercício profissional na unidade, ao método de organização de cuidados, à formação pós-graduada e à formação em enfermagem de família. São obtidas diferenças com significado estatístico em relação ao género, à idade, ao tempo de experiência profissional, à existência de abordagem geral para o cuidado da família no local de trabalho e à experiência com familiares gravemente doentes. Toda a aprendizagem, vivenciada em contexto de estágio, permitiu essa constatação e concorreu para o enriquecimento pessoal e profissional. A abordagem da relação de enfermagem como profissionalização do cuidado humano, a mudança de paradigma no cuidar, com a transposição de um modelo assistencial tendencialmente “hospitalocêntrico” para um modelo com ênfase crescente na Família, são prementes no entendimento desta unidade, como parte do processo do cuidar, em que a figura do Enfermeiro de Família deve surgir cada vez mais creditada (Regadas & Pinto, 2010).