Processos de enfrentamento do estresse e sintomas depressivos em pacientes portadores de retocolite ulcerativa idiopática
Stress coping strategies and depressive symptoms among ulcerative colitis patients

Publication year: 2003

Inserindo-se na tradição de estudos sobre as relações entre doenças e processos emocionais, este trabalho investigou as formas de enfrentamento do estresse e a presença de sintomas depressivos em 100 indivíduos portadores de retocolite ulcerativa idiopática (RCUI), usuários do Ambulatório de Doenças Inflamatórias do Cólon do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em São Paulo, que foram comparados a um grupo controle formado por 100 acompanhantes de pacientes de outra unidade da mesma instituição, isentos da doença, garantindo-se similaridade sociodemográfica entre os dois grupos. O grupo de doentes compõe-se predominantemente de mulheres brancas, de baixa instrução, a maioria das quais mantém relacionamento conjugal, reside com familiares e revela ser praticante de crença religiosa. A metodologia consistiu em aplicar aos dois grupos o Inventário de Estratégias de Enfrentamento (Coping) de Folkman e Lazarus e o Inventário de Depressão de Beck. A situação estressante mais relatada entre os portadores de RCUI foi a própria doença (categoria dificuldades pessoais, 60%); para enfrentá-la, recorrem sobretudo a estratégias dos fatores Suporte social (47%) e Reavaliação positiva (40%). No grupo controle, o evento estressante mais referido foi da categoria família (44%) - sobretudo doença em família -; e as estratégias utilizadas, do fator Reavaliação positiva (52%). Quanto ao transtorno do humor, 71% dos portadores de RCUI não apresentavam sintomas depressivos (contra 78% do grupo controle), 9% apresentavam disforia (mesmo percentual do grupo controle) e 20%, sintomas depressivos (contra 13% do grupo controle). A associação entre as características clínicas da RCUI e os sintomas depressivos mostrou que estes estão mais presentes nos indivíduos em situação de maior gravidade da doença. Na associação entre as características clínicas e os processos de enfrentamento mais utilizados ) pelos doentes, verificou-se predominância do fator Suporte social, independentemente da intensidade das manifestações clínicas da doença e da presença ou ausência de sintomas depressivos. Inferem-se dos resultados desafios para a pesquisa, o ensino e a prática da Enfermagem.
This study investigated associations between illness and emotional processes by focusing on stress, coping, and depressive symptoms in a sample of 100 ulcerative colitis (UC) outpatients who attend the inflammatory bowel disease clinic at the Medicine College of the University of São Paulo's Hospital das Clínicas, in São Paulo, Brazil. Patients were compared to a sample control group made up of 100 healthy subjects who kept company to other patients at another unit of the same hospital; both groups' main sociodemographic features were matched. Patients were mostly white women of low instruction, religious practisers, living with a partner, who dwelt with their families or relatives. To both groups were applied the Folkman and Lazarus's Ways of Coping Questionnaire and the Beck Depression Inventory. The most stressful event reported by UC patients was the illness itself (category "personal hardship", 60%) and, in order to cope with it, they resort to Social support (47%) and Positive reappraisal (40%) strategies. In the control group, the most reported stress event belonged to the category "family" (44%) - mostly illness in the family -, and Positive reappraisal (52%) were the most referred coping strategies. As to humor disorders, 71% of UC patients were found to show no depressive symptoms (vs control group's 78%), 9% presented dysphoria (same percentage at control group), and 20% patients showed depressive symptoms (vs control group's 13%). Among UC patients, the association between the disease clinical features and depressive symptoms shows that the latter are more frequent in more severely ill patients. When crossing patients' clinical features and coping processes used, Social support strategies prevail, regardless of disease activity and of presence or absence of depressive symptoms. Findings suggest challenges for Nursing research, teaching, and practice.