Aconselhamento nutricional na atenção básica: conhecimentos e práticas de profissionais, estado nutricional e alimentação da criança antes e após capacitação
Nutritional counseling in the primary health care: professionals knowledge and practices, nutritional status and infant feeding before and after training

Publication year: 2016

Introdução:

O aconselhamento nutricional contribui para a formação de hábitos alimentares saudáveis e promoção do crescimento infantil. No entanto, apesar de investimentos governamentais, diversos estudos mostram problemas para concretização dessa prática, entre os quais se destacam o escasso conhecimento e despreparo dos profissionais de saúde para lidar com aspectos da alimentação das crianças e dificuldades para realizar o acompanhamento do crescimento.

Objetivo geral:

Implementar uma capacitação em aconselhamento nutricional e avaliar conhecimentos e práticas de profissionais de saúde da atenção básica quanto ao acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, o estado nutricional e as práticas de alimentação das crianças, antes e após a capacitação.

Objetivos específicos:

Avaliar o uso e o preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança (CSC), especialmente crescimento e desenvolvimento; Implementar capacitação em aconselhamento nutricional, com avaliação do conhecimento dos profissionais antes e após e sua aplicabilidade na atenção à saúde da criança; Conhecer as dificuldades para realizar aconselhamento nutricional e acompanhamento do crescimento infantil, na perspectiva de profissionais de saúde; Avaliar práticas de alimentação, estado nutricional e acompanhamento do crescimento infantil pelos profissionais de saúde, antes e após a capacitação em aconselhamento nutricional.

Método:

Estudo de intervenção do tipo antes-depois, quanti-qualitativo, descritivo-analítico, conduzido em três fases no município de Itupeva, São Paulo. Incluiu amostra representativa de crianças <3 anos cadastradas nas unidades básicas de saúde com suas respectivas mães e profissionais de saúde. Na 1ª fase (antes), verificou-se o uso e o preenchimento das CSC; avaliaram-se as práticas alimentares das crianças e as práticas profissionais por meio de entrevistas com as mães, e o estado nutricional foi avaliado por antropometria e dosagem de hemoglobina sanguínea. Na 2ª fase (intervenção) implementou-se uma capacitação em aconselhamento nutricional que envolveu 53 profissionais de saúde vinculados à atenção básica do município. Os conhecimentos e as práticas dos participantes foram avaliados por testes aplicados antes e depois da capacitação e por meio de grupo focal. Na 3ª fase (depois), os mesmos procedimentos da 1ª fase (antes) foram adotados. O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e todos os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram digitados no software Epi-Info 3.5.2 em dupla entrada. As variáveis categóricas foram analisadas por meio de frequência absoluta e relativa, teste do Qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher, com uso do software Stata 13.1. O nível de significância foi de 5%. Os dados qualitativos foram transcritos e submetidos à análise de conteúdo.

Resultados:

Foram descritos em quatro manuscritos que contemplaram os objetivos específicos.

Manuscrito 1:

Avaliou uso e preenchimento da CSC com dados da 1ª fase (antes). Apenas 53% das mães portavam a CSC no momento da entrevista, proporção similar à de mães que referiram orientação para levar a CSC aos atendimentos de saúde. Anotações na CSC durante os atendimentos foram referidos por 49%. Esquema vacinal estava completo em 97% das CSC, mas apenas 9% e 8% tinham, respectivamente, gráficos de crescimento e desenvolvimento adequadamente preenchidos.

Manuscrito 2:

Implementou e avaliou a aplicabilidade da capacitação em aconselhamento nutricional e conhecimento dos profissionais antes e após a capacitação. Quatro oficinas com carga horária mínima de 16 horas cada foram desenvolvidas para implementação da capacitação. Participaram 11 enfermeiras, 14 auxiliares/técnicos de enfermagem e 28 agentes comunitários de saúde. Antes da capacitação 55,8% dos profissionais relataram usar muito o aconselhamento nutricional na rotina dos serviços, mas apenas 4% tinham conhecimento satisfatório. Após a capacitação, o conhecimento satisfatório teve incremento de 70%. Foram apontadas potencialidades da capacitação para melhoria dos conhecimentos, mas dificuldades em sua aplicabilidade decorrentes de problemas de infraestrutura dos serviços.

Manuscrito 3:

Descreveu as dificuldades para realizar aconselhamento nutricional e acompanhamento do crescimento infantil na perspectiva dos profissionais. As principais dificuldades para o aconselhamento nutricional referiram-se às suas crenças e experiências pessoais quanto à alimentação infantil. Para o acompanhamento do crescimento, destacaram-se os problemas de infraestrutura e funcionamento dos serviços de saúde, além da manutenção do modelo médico hegemônico.

Manuscrito 4:

Avaliou práticas de alimentação, estado nutricional e acompanhamento do crescimento infantil pelos profissionais de saúde antes e após capacitação em aconselhamento nutricional. Depois da capacitação, constatou-se incremento da prática do aleitamento materno e redução do consumo de alimentos ultraprocessados entre as crianças de 15-23 meses (p<0,05). Não houve mudanças no estado nutricional e diminuiu a proporção de gráficos de crescimento adequadamente preenchidos e de mães que receberam orientações sobre a alimentação e crescimento infantil.

Considerações finais:

Evidenciou-se que capacitações em serviço podem ser medidas simples e facilmente exequíveis para ampliar os conhecimentos dos profissionais e melhorar a assistência à saúde da criança. No entanto, as dificuldades identificadas para sua aplicabilidade podem minimizar todo o investimento realizado e impedir que os efeitos desejados sejam obtidos. Destaca-se a necessidade do efetivo envolvimento dos gestores e investimentos na infraestrutura dos serviços, incorporação do aconselhamento nutricional na educação permanente em saúde, bem como maior ênfase dessa temática nos processos formais de ensino à saúde. Por fim, espera-se que os resultados aqui apresentados possam sensibilizar gestores e profissionais para a revisão de suas práticas e contribuir para a formulação de intervenções efetivas, para que o cuidado com a saúde da criança deixe de ser uma preocupação para se tornar, de fato, uma prática.

Introduction:

The nutritional counseling contributes to the development of healthy feeding habits and promotion of childrens growth. Despite the Brazilian government incentives, several studies presented problems to implement this practice. Among them, there are knowledge scarcity and unpreparedness of primary health care professionals to deal with infant feeding aspects and childrens growth monitoring barriers .

Objective:

To implement primary health care professionals training in nutritional counseling, and to evaluate their knowledge and practices about child growth and development monitoring, the nutritional status and the infant feeding practices before and after training.

Specific Objectives:

To evaluate the use and the filling of the Children Health Handbook (CHH), especially childrens growth and development charts. To implement the nutritional counseling training, and evaluate its applicability in the primary health care centers routine and professionals knowledge before and after training. To identify barriers to perform nutritional counseling and childrens growth monitoring in the professionals perspective. To evaluate infant feeding practices, nutritional status and childrens growth monitoring by primary health care professionals, before and after training in nutritional counseling.

Method:

We carried out a before-after intervention study, quanti-qualitative and descriptive-analytic. It was, carried out in three phases in Itupeva city, São Paulo. We used a representative sample of children under three years old enrolled in the primary health care centers (PHCC), your mothers and health care professionals. In the first phase (before), we interviewed mothers to evaluated childrens eating habits, the professionals practices and the use and filling CHH was checked. In this phase, we also evaluated children's nutritional status by anthropometry and blood hemoglobin dosage. In the second phase (intervention), we implemented a nutrition counseling training that involved 53 primary care health professionals. The knowledge and practices of the participants were evaluated by tests performed before and after training and through focus group. In the third phase (after), we adopted the same procedures of the first phase. The Research Ethics Committee of the School of Nursing of University of São Paulo approved the project and all participants signed a Consent Form. Data were entered into Epi-Info 3.5.2 software double entry. Using Stata 13.1 software, we analyzed categorical variables through absolute and relative frequencies, Pearson and Fisher's exact chi-square test. The significance level was 5%. Qualitative data were transcribed and submitted to content analysis.

Results:

We wrote four manuscripts that contemplated the specific objectives.

Manuscript 1:

In this manuscript, we evaluated the use and the filling of the CHH with data from Phase 1 (before). Only 53% of mothers were carrying the CHH in the interview, similar to the proportion of mothers who reported to have received guidance to take CHH to PHCC. Mothers affirmed (49%) that health care professional took notes during the appointments. The vaccination scheme was completed in 97% of the CHH, however only 9% and 8% had respectively, growth and development charts properly completed.

Manuscript 2:

Reviewed implementation and applicability of training in nutrition counseling and knowledge of professionals before and after training. Four workshops with minimum workload of 16 hours each was developed to implement the training. Study participants were 11 nurses, 14 nursing assistants and 28 community health workers. Before the training 55.8% of the professionals reported 'use a lot' the nutritional counseling in the services routine, but only 4% had proper knowledge. After the training, this percentage increased 70%. The training had a positive impact in the knowledge improvement, however, according to the health care professionals there are difficulties in its applicability due to the services infrastructure problems,.

Manuscript 3:

We identified the barriers to implement the nutritional counseling and childrens growth monitoring, from the perspective of professionals. The main barriers for nutritional counseling were professionals personal beliefs and experiences regarding infant eating. The health services infrastructure, functioning and the maintenance of the hegemonic medical model were identified as problems for children growth monitoring.

Manuscript 4:

This manuscript evaluated the feeding practices, nutritional status and childrens growth monitoring by primary health care professionals before and after training in nutrition counseling. After the training there was an increase in breastfeeding practices and a reduction of ultra-processed food consumption between children 15-23 months old (p<0.05). There were no changes in nutritional status and there was a decreased of the proportion of proper completed filling of the growth charts and of mothers who received guidance on nutrition and childrens growth.

Final considerations:

It was evident that professional training may be a simple and easily achievable measure to expand the health care professionals knowledge and to improve children health care. However, the desired effects might not be addressed due to the barriers of the practices implementation. Effective involvement of managers and investment in infrastructure of the services is needed, as far as the incorporation of nutritional counseling in permanent health education, and a stronger emphasis in formal health education processes. Finally, there is hope that the presented results might let managers and professionals aware of their practices and to contribute for the effective interventions development to enable proper children's health care.