Práticas, dificuldades e necessidades dos enfermeiros na comunicação de más notícias

Publication year: 2019

A comunicação constitui um pilar fundamental na prestação de cuidados. Os enfermeiros adquirem diferentes vivências na comunicação de más notícias, originando situações difíceis e complexas, não só pelos aspetos emocionais associados, mas também devido à problemática relacionada com as estratégias adotadas nessas situações. O presente estudo pretendeu caracterizar a representação do enfermeiro sobre a má notícia, identificar as más notícias comunicadas pelos enfermeiros com maior frequência, caracterizar as práticas dos enfermeiros na comunicação de más notícias, identificar as dificuldades dos enfermeiros na comunicação de más notícias, identificar as necessidades dos enfermeiros na comunicação de más noticias e construir um instrumento de avaliação de práticas e de avaliação de dificuldades dos enfermeiros na comunicação de más notícias. Procurou-se ainda relacionar as práticas e as dificuldades dos enfermeiros na comunicação de más notícias com o grau académico, o tempo de exercício profissional, a realização de formação na área da comunicação de más e o tempo decorrido desde a realização da última formação na área da comunicação de más notícias. Tratou-se de estudo de abordagem quantitativa, não experimental e descritivo-correlacional por meio da aplicação de um questionário, a todos os enfermeiros de um hospital da região centro do país. Os dados obtidos através das questões de resposta fechada foram tratados por meio de estatística descritiva. Para avaliar e testar as hipóteses, recorreu-se a testes não paramétricos, utilizando o teste U de Mann-Whitney e rho de Spearman. Os dados recolhidos através das questões de resposta aberta, foram analisados de acordo com os princípios da análise de conteúdo. A maioria dos inquiridos considera que as más notícias representam notícias geradoras de emoções negativas para a pessoa que a recebe e comunica com maior frequência notícias de morte, seguindo notícias de agravamento do estado clínico e relacionadas com o diagnóstico/doença. Utilizar uma linguagem adequada à pessoa, apresentar-se à pessoa a quem se dirige e respeitar a privacidade, foram as 3 práticas nomeadas com maior frequência pelos participantes, sendo estas boas práticas. Lidar com emoções e sentimentos do recetor da mensagem, gerir a sua esperança, comunicar uma notícia totalmente inesperada, dar início à comunicação da má notícia e transmitir a má notícia pelo telefone, foram as dificuldades nomeadas com maior nível por parte dos enfermeiros do estudo.

As quatro necessidades mais nomeadas pelos participantes foram:

disponibilidade de tempo, presença assídua do psicólogo com papel ativo na equipa multidisciplinar, criação de protocolos de atuação e formação prática. A maioria dos inquiridos considerou ser útil tanto a adoção de um procedimento interno de boas práticas, como a formação em serviço. Portanto, seria interessante que o local de trabalho desenvolvesse ações de formação e adotasse um procedimento de boa prática neste âmbito.