A relação entre a trajetória de vida e estressores correntes de mulheres que foram privadas de liberdade
The relationship between the life trajectory and current stressors of women who were deprived of freedom
Publication year: 2021
A criminalidade feminina no Brasil é marcada por um viés histórico, em que o crime apresenta um olhar androcêntrico. O aumento de mulheres aprisionadas que são negras e com baixa escolaridade, contribui para reforçar o perfil da população prisional geral. Considerando que a experiência do cárcere pode interferir no comportamento da pessoa, em seus modos de pensar e sentir, contribuindo também, para o processo de adoecimento físico e mental dessas mulheres. Vários estudos prévios têm investigado os principais estressores das mulheres encarceradas, no entanto o presente estudo visa preencher uma lacuna do conhecimento no sentido de contextualizar tais estressores à trajetória de vida de mulheres egressas do sistema prisional. Desse modo, o objetivo desse estudo é analisar como estão contextualizados os principais estressores de mulheres egressas do sistema prisional às suas trajetórias de vida. Trata-se de um estudo descritivo transversal qualitativo, desenvolvido com mulheres que já foram privadas de liberdade e que são assistidas por um conselho vinculado ao município e que dá suporte a mulheres em tais condições. Para a coleta de dados foram utilizadas questões sobre as características sociodemográficas e a técnica de Entrevista Narrativa Etnográfica Clínica (CENI) proposta por Saint-Arnault (2017). A técnica foi empreendida com cinco mulheres que aceitaram participar da pesquisa.
Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo da qual emergiram três grandes temas:
as causas e consequências do encarceramento, vulnerabilidades sociais pregressas agravadas pelo encarceramento e a resiliência, perspectivas futuras e apoiadores sociais. O relato das participantes foi marcado por inúmeras adversidades relacionadas à questão de gênero, raça, escolaridade, dificuldades na infância e à pobreza. O distanciamento dos filhos, o estigma, e a precarização do trabalho foram experiências impulsionadas pela condição do encarceramento. A partir dos resultados depreende-se que a condição de vulnerabilidade e a presença de intensos estressores antecediam a experiência do cárcere e foram agravados por ele. O período de reclusão foi descrito como permeado por sentimentos intensos de solidão e terror, no entanto na qualidade de egressas inúmeras palavras que dão nuances de um enfrentamento resiliente estão presentes nos discursos que representam, também, esperança, gratidão e superação. O presente estudo pode contribuir com a literatura acerca do tema e tem o caráter de ineditismo em relação ao uso da técnica CENI no Brasil e com mulheres egressas do sistema carcerário no cenário internacional
Female criminality in Brazil is flagged by a historical bias, in which crime presents an androcentric look. The increase of imprisoned women who are black and with low education contributes to reinforce the profile of the general prison population. Considering that the prison experience can interfere in the person's behavior, in their ways of thinking and feeling, it also contributs to the process of physical and mental illness of these women. Several previous studies has investigated the main stressors of incarcerated women, however this study aims to fill a knowledge gap in the sense of contextualizing such stressors in the life trajectory of women egress from the prison system. Thus, the objective of this study is to analyze how the main stressors of women egress from the prison system are contextualized in their life trajectories. This is a descriptive, qualitative cross-sectional study, developed with women who have already been deprived of their freedom and who are assisted by a council linked to the municipality and which supports women in such conditions. For data collection, questions about sociodemographic characteristics and the Clinical Ethnographic Narrative Interview (CENI) technique proposed by Saint-Arnault (2017) were used. The technique was carry out with five women who agreed to participate in the research.