Publication year: 2017
Introdução:
a distribuição trimodal das mortes de vítimas de trauma ainda é amplamente aceita por pesquisadores. Entretanto, estudos apontam uma mudança nesse padrão, passando de tri para bimodal. Este panorama das mortes e os fatores associados ainda não foram investigados no contexto brasileiro, o que reforça a relevância desta investigação. Objetivo:
analisar a distribuição temporal e os fatores associados às mortes de vítimas de trauma. Método:
estudo transversal, quantitativo, constituído por análise retrospectiva de laudos de autópsia de vítimas admitidas no Instituto Médico Legal (IML) Central de São Paulo entre janeiro e dezembro de 2015 que responderam aos seguintes critérios de inclusão: ser vítima fatal de causa traumática; apresentar lesões codificáveis pela Abbreviated Injury Scale; e ter o tempo de morte identificado (tempo entre o evento traumático e a confirmação do óbito). A variável dependente foi o tempo da morte e as independentes contemplaram idade, gênero, raça, causa externa, Injury Severity Score (ISS), New Injury Severity Score (NISS), número de regiões corpóreas acometidas e região corpórea mais gravemente lesada. Estatísticas descritivas e regressão logística múltipla multinomial foram realizadas para análise dos dados, com nível de significância de 5%. Resultados:
a casuística compôs-se de 1.500 vítimas, com predomínio do gênero masculino (75,7%) e da raça branca (58,1%). A idade média foi de 49,7 (±23,6) anos. O trauma contundente prevaleceu na amostra (68,6%) e a causa externa mais frequente foi queda (33,5%). A análise da gravidade do trauma das vítimas mostrou que a maioria apresentava trauma moderado ou grave segundo o ISS (média 21,6±15,3; 58,0% com ISS 16) e o NISS (média 27,7±17,4; 70,9% com NISS 16). As vítimas tiveram em média 2,4 (±1,3) regiões corpóreas acometidas. A distribuição das mortes ocorreu em três momentos distintos:
imediatas (mortes na cena), precoces (mortes em até 24 horas após o trauma) e tardias (mortes com tempo 24 horas após o trauma). Prevaleceram na amostra as mortes tardias (44,7%), seguidas das imediatas (28,2%) e precoces (27,1%). As vítimas de mortes tardias apresentaram maior média de idade e frequência de quedas do que as que morreram precoce ou tardiamente. Entre aqueles que morreram na cena, a gravidade do trauma mensurada pelo ISS e NISS e a média no número de regiões corpóreas acometidas eram maiores em relação aos outros dois grupos. Os fatores associados às mortes imediatas foram número de regiões corpóreas acometidas, NISS e as causas externas pedestre/ciclista, motociclista, ocupante de automóvel, agressões, lesões autoprovocadas e causa desconhecida. Para as mortes precoces, os fatores de risco foram número de regiões corpóreas acometidas, NISS e lesões autoprovocadas. Por fim, para as tardias, os fatores preditivos foram idade e mecanismo de trauma contundente. Conclusão:
a distribuição temporal das mortes foi trimodal, com maior frequência de mortes tardias, e os fatores associados aos óbitos contemplaram variáveis sobre o evento traumático e a gravidade do trauma, além da idade. Os resultados desta investigação trazem importantes subsídios para o estabelecimento de políticas públicas de prevenção do trauma e de estratégias de capacitação dos profissionais da saúde visando à redução desse desfecho clínico.
Introduction:
the trimodal distribution of deaths of trauma victims is still widely accepted by researchers. However, studies point to a change in this pattern, ranging from tri to bimodal. This panorama of deaths and associated factors have not yet been investigated in the Brazilian context, which reinforces the relevance of this investigation. Purpose:
to analyze the temporal distribution and the factors associated with the deaths of trauma victims. Method:
a cross-sectional, quantitative study consisting of a retrospective analysis of autopsy reports of victims admitted to the Central Medical-Legal Institute of Sao Paulo from January to December 2015, who responded to the following inclusion criteria: being a fatal victim of traumatic causes; having lesions coded by the Abbreviated Injury Scale; and having the time of death identified (time from the traumatic event to the confirmation of death). The dependent variable was the time of death, and the independent variables included age, gender, race, external cause, Injury Severity Score (ISS), New Injury Severity Score (NISS), number of body regions affected and body region more severely injured. Data analysis consisted of descriptive statistics and multinomial multiple logistic regression, with significance level of 5%. Results:
the sample consisted of 1,500 victims, predominantly male (75.7%) and white (58.1%). The mean age was 49.7 (± 23.6) years. Blunt trauma prevailed in the sample (68.6%) and the most frequent external cause was fall (33.5%). The analysis of the severity of the trauma of the victims showed that the majority had moderate or severe trauma according to the ISS (mean 21.6±15.3, 58.0% with ISS 16) and NISS (mean 27.7±17.4, 70.9% with NISS 16). The victims had on average 2.4 (±1.3) body regions affected. The distribution of deaths occurred in three distinct moments:
immediate (death on the scene), early (death within 24 hours after trauma) and late (death time 24 hours post trauma). Late deaths (44.7%) prevailed in the sample, followed by immediate deaths (28.2%) and early deaths (27.1%). Victims of late deaths had a higher mean age and higher frequency of falls than those who died early or late. Among those who died on the scene, the severity of the trauma measured by ISS and NISS and the mean number of injured regions were greater than the other two groups. The factors associated with immediate deaths were number of affected body regions, NISS and external causes pedestrian/cyclist, motorcyclist, motor vehicle occupant, aggressions, self-harm and unknown cause. For early deaths, the risk factors were number of body regions affected, NISS and self-harm. Finally, for the late, predictive factors were age and blunt trauma mechanism. Conclusion:
the temporal distribution of deaths was trimodal, with a higher frequency of late deaths, and the factors associated with death included variables on the traumatic event and the severity of the trauma, besides age. The results of this investigation bring important subsidies for the establishment of public policies for the prevention of trauma and training strategies of health professionals aimed at reducing this clinical outcome.