Exposição ao chumbo e estresse psicológico como preditores de declínio cognitivo durante o envelhecimento: estudo de coorte
Exposure to lead and psychological stress as predictors of cogniyive decline in aging: cohort study
Publication year: 2017
Evidências recentes têm revelado que a exposição ambiental ao chumbo (Pb), relevante contaminante ambiental, pode comprometer o funcionamento do eixo Hipotálamo-Pituitário-Adrenal (HPA), principal regulador neuroendócrino da resposta de estresse. Tanto o estresse como o Pb agem em estruturas cerebrais relacionadas com habilidades cognitivas como o aprendizado, memória e atenção, podendo comprometer seu desempenho em grupos vulneráveis como os idosos. Entretanto, ainda não está elucidado se a exposição prévia ao Pb e aos hormônios do estresse podem influenciar o desenvolvimento de comprometimento cognitivo durante o envelhecimento. Isso é particularmente importante, dado que tanto a exposição ao Pb como ao estresse podem ser prevenidas por ações de enfermagem e multidisciplinares e, assim, amenizar a ocorrência de transtornos cognitivos em idosos. Nesse sentido, o presente estudo analisou se a incidência de comprometimento cognitivo durante o envelhecimento está associada à exposição prévia ao Pb e ao perfil neuroendócrino de estresse. Trata-se de um estudo de coorte iniciado em 2011, com o trabalho Exposição a contaminantes ambientais e declínio cognitivo em idosos saudáveis: influência sobre o estresse psicológico e estresses oxidativo (Estudo CONTAMINA), que analisou o desempenho cognitivo de 129 adultos e idosos saudáveis entre 50 e 82 anos sem comprometimento cognitivo. A exposição ao Pb foi analisada através de questionário sobre exposição ambiental e a partir de amostras de sangue.
O perfil neuroendócrino do estresse foi analisado a partir da concentração de cortisol em amostra de saliva coletadas sob duas condições:
ao longo de dias típicos (pela manhã, à tarde e à noite) e sob estresse agudo (estressor psicossocial Trier Social Stress Test). O comprometimento cognitivo foi diagnosticado por médicos neurologistas especialistas em neurologia cognitiva e do comportamento a partir do desempenho em testes neuropsicológicos, de avaliação funcional, de queixa de memória e de depressão. Dos 129 participantes incluídos na coorte em 2011, 69 foram reavaliados em 2016 e compuseram a amostra do presente estudo. Desses, 18 (26,1%) apresentaram comprometimento cognitivo sem demência (CCSD). Mediante o controle de variáveis de confusão foi observado que a incidência de CCSD está associada com maior concentração de cortisol em situação de estresse agudo. Os participantes que apresentaram CCSD apresentaram cinco anos antes do diagnóstico um perfil hiperresponsivo de cortisol a um estressor agudo psicossocial. Não foi observada associação significativa entre a incidência de CCSD e a exposição prévia ao Pb. A baixa concentração de Pb no sangue, bem como a idade da presente amostra podem ser fatores que explicam essa ausência de associação. De modo geral, os achados do presente estudo sugerem que a exposição prévia a perfis neuroendócrinos do estresse alterados pode influenciar o desenvolvimento de transtornos cognitivos durante o envelhecimento.
Recent evidences have revealed that the exposure to Lead (Pb) - a relevant environmental contaminant - mat affect the functioning of the hypothalamuspituitary- adrenal (HPA) axis, the main neuroendocrine regulator of the stress response. Stress and Pb work in the brain structures related to cognitive abilities - such as learning, memory and attention - what compromise the individuals performance, specially in vulnerable groups, like the elderlies. However, it is not well stated whether the previous Pb exposure and the stress hormones may affect the development of cognitive impairment. This is particularly important once nursing and multidisciplinary actions may prevent the Pb exposure and stress and, so, relieve the occurrence of cognitive disorders in elderlies. In this sense, this investigation assessed whether the incidence of cognitive impairment during the aging is associated with previous Pb exposure and stress neuroendocrine profile. This is a cohort study, started in 2011 with the project Exposure to environmental contaminants and cognitive impairment in healthy elderlies: influence on psychological and oxidative stress (CONTAMINA study). It assessed the cognitive performance of 129 healthy adults and elderlies aged between 50 and 82 years without cognitive impairment. The Pb exposure was assessed trough the environmental exposure questionnaire and blood samples. For assessing the stress neuroendocrine profile, the concentrations of cortisol were obtained from saliva samples under two predetermined conditions: across two typical days (by morning, in the evening and at night) and under acute stress (Psychosocial stress measured for Trier Social Stress Test). The mild cognitive impairment was diagnosed for neurologists specialized in behavioral and cognitive neurology from individuals performance in neuropsychological tests, functional evaluation, and its memory and depression complains. Of the 129 participants who met criteria for the cohort in 2012, 69 were reevaluated in 2016 and comprised this study sample. From these individuals, 18 (26.1%) showed Cognitive Impairment no Dementia (CIND). After controlling the confusion variables, we observed that the incidence of CIND is associated with higher cortisol concentrations during acute stress conditions. Those participants who showed CIND had a hyporesponsive profile to cortisol face an acute psychosocial stressor five years earlier. We did not found a significant association between CIND incidence and previous Pb exposure. The low blood Pb levels and the individuals age may explain the absence of association. In a general way, the findings of this study suggest that the previous exposure to stress neuroendocrine profiles may influence the development of cognitive disorders during the aging.