Associações entre problemas de saúde mental, comportamento alimentar e estado nutricional de pré-escolares no Município de Ribeirão Preto/SP
Associations between mental health problems, eating behavior and nutritional status of preschool children in the city of Ribeirão Preto/SP
Publication year: 2019
O Brasil vive uma transição nutricional, com mudanças no padrão alimentar, redução nos índices de desnutrição e aumento nos índices de obesidade em todas as faixas etárias, incluindo a infância. A obesidade infantil também pode estar associada a problemas na saúde mental de crianças muito novas, como ansiedade, depressão e problemas de comportamento. Sabe-se que o comportamento alimentar das crianças tem relação com seu estado nutricional, e ele começa a ser desenvolvido desde muito cedo na vida das crianças. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar o comportamento alimentar e a saúde mental entre crianças de dois a quatro anos de idade e analisar possíveis associações entre estado nutricional, comportamento alimentar e problemas emocionais e/ou comportamentais neste grupo. Participaram 95 pais/responsáveis divididos em três grupos: eutróficos (N=34), sobrepeso (n=34) e obesidade (N=32). Os participantes responderam um questionário sociodemográfico, uma escala de rastreamento de problemas psicológicos e outra para investigação do comportamento alimentar. As entrevistas ocorreram em unidades de saúde ou na residência dos participantes, com duração média de 30 minutos. Os dados foram submetidos à estatística descritiva e inferencial. A média de idade dos participantes foi de 32,7(±7,39), exclusivamente mulheres; 25,3% das crianças tinham dois anos, 38,9% três e 35,8% estavam com quatro anos. As subescalas que tiveram maiores pontuações foram Prazer em comer (3,92) e Desejo de beber (3,34) e observou-se diferença estatisticamente significante entre sexos em Resposta à saciedade (t = 2,433; p = 0,018), com resultados mais elevados para as meninas, e entre grupos etários em Seletividade Alimentar (F(2;92) = 8,02, p = 0,001), com as crianças de dois anos apresentando menores pontuações. As crianças obesas obtiveram escores maiores nas subescalas de comportamento alimentar que refletem maior interesse pela comida, enquanto as eutróficas apresentaram melhores resultados naquelas que refletem menor interesse pelo alimento. Houve diferença significativa entre o grupo de obesos (maior média) com eutróficos (p = 0,01) e com sobrepeso (p < 0,001) quanto a Sobreingestão emocional; entre grupo sobrepeso (menor média) com eutróficos (p = 0,03) e com obesos (p = 0,03) quanto a Desejo de beber; e entre grupo obeso (menor média) e eutrófico quanto a Resposta à saciedade (p = 0,05). No que tange à saúde mental, 27,4% das crianças apresentaram escores muito altos no instrumento, sinalizando problemas psicológicos; as maiores pontuações médias ocorreram nas subescalas Hiperatividade (4,75) e Problemas de Conduta (4,75). Resposta à saciedade correlacionou-se com Problemas emocionais (r = 0,215; p = 0,037) e Hiperatividade (r = 0,244; p = 0,017); Subingestão emocional apresentou correlação com Problemas de conduta (r = 0,334; p = 0,001), Hiperatividade (r = 0,358; p = 0,000) e Problemas de relacionamento (r = 0,321; p = 0,002). Há evidências da associação entre estado nutricional e comportamento alimentar bem como deste último com saúde mental. Neste sentido, os resultados alertam para a necessidade de atenção ao comportamento alimentar e à saúde mental de crianças muito novas, visando à prevenção de problemas na saúde mental e do ganho de peso
Brazil is experiencing a nutritional transition, with changes in the dietary pattern, reduction in malnutrition rates and increase in obesity rates in all age groups, including childhood. Childhood obesity may also be associated with problems in the mental health of very young children, such as anxiety, depression and behavior problems. It is known that children's eating behavior is related to their nutritional status, and it begins to be developed very early in children's lives. Thus, the objective of this study was to investigate eating behavior and mental health among children from two to four years of age and to analyze possible associations between nutritional status, eating behavior and emotional and / or behavioral problems in this group. Participants included 95 parents / guardians divided into three groups: eutrophic (n = 34), overweight (n = 34) and obesity (n = 32). Participants answered a sociodemographic questionnaire, a psychological problem tracing scale and another for food behavior research. The interviews took place in Health Units or in the participants' residence, with an average duration of 30 minutes. Data were submitted to descriptive and inferential statistics. The mean age of the participants was 32.7 (± 7.39), exclusively women; 25.3% of the children were two years old, 38.9% were three and 35.8% were four years old. The subscales that had higher scores were Enjoyment of food (3.92) and Desire to drink (3.34) and a statistically significant difference was observed between sexes in Satiety responsiveness (t = 2,433; p = 0,018), with more results (F (2; 92) = 8.02, p = 0.001), with two-yearolds presenting lower scores. Obese children had higher scores on eating behavior subscales that reflect greater interest in food, while eutrophic ones presented better results in those that reflect less interest in food. There was a significant difference between the group of obese (higher mean) with eutrophic (p = 0.01) and overweight (p <0.001) regarding emotional overdose; between the overweight group (lower mean) with eutrophic (p = 0.03) and obese (p = 0.03) regarding Desire to drink; and between obese (lower mean) and eutrophic group as to Satiety responsiveness (p = 0.05). Regarding mental health, 27.4% of the children presented very high scores on the instrument, signaling psychological problems; the highest mean scores occurred in the Hyperactivity subscales (4.75) and Conduct Problems (4.75). Satiety responsiveness was correlated with Emotional problems (r = 0.215, p = 0.037) and Hyperactivity (r = 0.244; p = 0.017); Emotional undereating presented a correlation with Conduct Problems (r = 0.334, p = 0.001), Hyperactivity (r = 0.358, p = 0.000) and Peer Problems (r = 0.321, p = 0.002). There is evidence of the association between nutritional status and eating behavior as well as the latter with mental health. In this sense, the results point to the need for attention to the eating behavior and mental health of very young children, aiming at the prevention of problems in mental health and weight gain