Avaliação da incidência de potenciais eventos adversos em Unidade de Terapia Intensiva de hospital geral: relevância para a Sistematização da Assistência de Enfermagem
Assessment of the incidence of potential adverse events in a general hospital intensive care unit: relevance to Nursing Care Systematization
Publication year: 2019
Eventos adversos (EA) são definidos como lesões ou danos não intencionais que resultam em incapacidade ou disfunção, temporária ou permanente, e/ou prolongamento do tempo de permanência hospitalar ou morte em decorrência do cuidado em saúde prestado, não havendo vínculo com o processo de doença subjacente do paciente. Quando ocorre um erro de fato, porém, que foi interceptado antes de atingir o doente, o que se tem é um incidente com potencial de dano, ou seja, potencial evento adverso (pEA). Em ambientes de terapia intensiva, esses eventos têm maior proporção, pois, nesse setor, se encontram pacientes hemodinamicamente instáveis e graves, submetidos, devido a estas condições, a diversas intervenções. A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), enquanto ferramenta gerencial do enfermeiro, é um instrumento metodológico que pode promover as práticas seguras e minimizar as chances de os indivíduos serem acometidos por um EA. Contudo, este estudo abordou uma importante lacuna existente na investigação alusiva à segurança do paciente: a escassez de conhecimento epidemiológico sobre os pEA e a relação destes com a SAE.
Objetivo geral:
Avaliar a incidência de pEA em UTI de hospital geral. Aspectos teórico-metodológicos: estudo epidemiológico, com delineamento transversal, cujos dados foram coletados por revisão retrospectiva de prontuários de pacientes adultos internados na UTI de um hospital geral do interior do Estado de São Paulo, no ano de 2015. Para a investigação a respeito da incidência de pEA, foi utilizada a versão informatizada do formulário de rastreamento (critérios de rastreamento) de pEA desenvolvido pelo Canadian Adverse Events Study (CAES). E, para a investigação da SAE, utilizou-se questionário elaborado pela pesquisadora. Empregou-se a análise estatística descritiva por meio do software estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS)®, versão 25.0. Foram realizadas análises descritivas de frequência simples, para as variáveis nominais ou categóricas, e de tendência central (média) e dispersão (desvio-padrão, valores mínimo e máximo) para as variáveis contínuas. Para comparar a relação dos diagnósticos de Enfermagem com a ocorrência de pEA, foi realizado o teste exato de Fisher. O nível de significância adotado foi α=0,05. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto com o parecer de número 2.816.824.Principais resultados:
fizeram parte da amostra, após a aplicação dos critérios de elegibilidade e aleatorização, 80 pacientes. Quanto à incidência dos critérios de rastreamento de pEA relacionados aos pacientes do estudo, tivemos um total de 98,8% (n=79) identificados na amostra. Constatou-se que os mais prevalentes foram: 97,5% (n=78) dos pacientes foram transferidos de unidade geral para a semi-intensiva ou intensiva; 53,8% (n=43) apresentaram qualquer outra ocorrência indesejada; 42,5% (n=34) apresentaram pEA para qualquer infecção associada ao cuidado; 40% (n=32), traumatismo, acidente ou queda; 38,8% (n=31), lesão após procedimento invasivo; 35% (n=28), alteração neurológia. O teste de Wilcoxon para amostras relacionadas indicou que os valores percentuais do número de fatores extrínsecos se mostraram significantemente maiores (p<0,001) que os dos fatores intrínsecos. Quando comparada a relação do diagnóstico de Enfermagem utilizado na UTI com a ocorrência de pEA nos pacientes do estudo, não foi evidenciada estatística significante (p-valor= 0,643) entre os diagnósticos risco de integridade da pele prejudicada e/ou integridade tissular prejudicada com a ocorrência do pEA traumatismo, acidente ou queda. Houve estatística significante (p-valor= 0,019) entre os diagnósticos ventilação espontânea prejudicada e desobstrução ineficaz de vias aéreas com pEA de qualquer tipo de infecção associada ao cuidado. Houve estatística significante (p-valor <0,001) entre os diagnósticos risco de aspiração e/ou risco de trauma vascular com pEA de qualquer outra ocorrência indesejada. Os dados apresentados possibilitam renovar as preocupações referentes à ocorrência de EA assim como a maneira que a Enfermagem deve conduzir processos e ferramentas, tais como a SAE, para que se alcance um melhor resultado no que diz respeito à evitabilidade desses eventos. A SAE é uma ferramenta assistencial e gerencial que leva à organização do cuidado de Enfermagem assim como traz cientificidade a esta categoria. O produto desta dissertação, assim como sua aplicabilidade na prática profissional, compreende a análise da SAE enquanto uma ferramenta essencial no processo de se prevenir EA nas organizações de saúde, principalmente nas UTI, pois são unidades que requerem uma atenção maior devido às condições clínicas e ao grande aporte de cuidados que são requeridos por esse perfil de pacientes. Nesse sentido, este estudo traz como fruto a consolidação do processo de Enfermagem e da SAE enquanto norteadores da prática segura da Enfermagem
Adverse events (AEs) are defined as unintentional injuries or injuries that result in temporary or permanent disability or dysfunction, and / or prolonged hospital stay or death as a result of health care, and are not linked to the process of underlying disease of the patient. When an actual error occurs, however, that was intercepted before reaching the patient, what one has is an incident with potential damage, ie, potential adverse event (pAE). In intensive care settings, these events have a higher proportion, because in this sector, hemodynamically unstable and severe patients are submitted, due to these conditions, to various interventions. Nursing Care Systematization (SAE), as a managerial tool for nurses, is a methodological instrument that can promote safe practices and minimize the chances of individuals being affected by an AE. However, this study addressed an important gap in patient safety research: the scarcity of epidemiological knowledge about pAEs and their relationship with SAE.