A representação social de mulheres doadoras de leite humano
Social representation of women who are human milk donors
Publication year: 2016
O leite humano pasteurizado vem sendo apresentado como a alternativa mais eficaz para alimentar prematuros e também recém-nascidos cujas mães estejam com alguma dificuldade para amamentar. Para suprir essa demanda, aumentou significativamente a implantação de bancos de leite humano no Brasil e no mundo. O objetivo desta pesquisa foi conhecer as representações sociais sobre a doação de leite entre mulheres colaboradoras do banco de leite humano em um hospital universitário público. Os referenciais teórico e metodológico utilizados foram, respectivamente, a Teoria das Representações Sociais e a Análise de Conteúdo. Para os dados quantitativos, foi utilizada a análise estatística descritiva. Foram entrevistadas 30 mulheres cadastradas como doadoras no Banco de Leite Humano do Hospital Universitário de Londrina, no Paraná. A idade variou de 18 a 44 anos, a maioria teve seus filhos por cesariana, 96,7% estavam com o companheiro, 86,7% possuíam curso superior completo ou pós-graduação, 76,7% exerciam trabalho remunerado fora de casa, o maior volume de leite doado foi 88 litros, o tempo médio de doação foi 155 dias e o tempo médio de aleitamento materno foi de 371 dias.
Das falas dessas mulheres emergiram quatro temas com suas respectivas categorias:
A experiência de amamentar; O banco de leite humano: lugar de acolhimento e aprendizagem; A doação dá trabalho e exige compromisso e Ser doadora é compartilhar o que tem e ajudar a quem precisa. A gênese para uma mulher se tornar doadora é estar amamentando seu filho e esse processo, proveniente da sua vivência familiar, apresenta-se como tendo um lado bom e outro que exige desafios, mas ela percebe que seu leite é único, que sua produção é mais do que suficiente para seu filho, levando essa mulher a procurar o banco de leite para compartilhar esse alimento com outras crianças. O banco de leite se torna para ela um local de acolhimento, apoio e aprendizado e ela se torna divulgadora desse serviço. Também passa a conhecer as histórias de doação e constata que doar seu leite dá trabalho, mas o compromisso assumido supera tal dificuldade; o apoio da família é essencial e ela descobre a sua maneira de ordenhar esse leite. Expressa que sente muito orgulho por ser uma doadora e, ao se perceber nessa condição, as suas representações sociais vinculam-se à construção social da solidariedade e de um sentimento mais profundo do significado da maternidade, que lhes propicia o sentimento de ampliar, para além de seu filho, o sentir ser mãe de muitos, em que compartilhar o que tem e ajudar a quem precisa resulta na sensação de ver multiplicado o papel materno e conhecer que doar vale a pena. Os elementos aqui identificados oferecem subsídios importantes para a condução de campanhas e projetos de melhoria de adesão de doadoras nos trabalhos dos Bancos de Leite Humano.
Pasteurized human milk has presented itself as the most effective alternative to feed preterm babies as well as newborns whose mothers are having some difficulty to breastfeed. In order to supply this demand, the number of human milk banks has significantly increased worldwide and in Brazil as well. The aim of this study was to acknowledge the social representation of human milk donation among women who donated to a human milk bank from a public hospital. The Social Representation Theory and Content Analysis were used as theoretical and methodological approaches, respectively. Quantitative data was assessed using descriptive statistical analysis. Thirty women were interviewed, all were donors at the Human Milk Bank from Londrina´s University Hospital, in Paraná State. Their age ranged from 18 to 44 years old, most had caesarean-sections, 96.7% had a companion; 86.7% had higher education or were postgraduates; 76.7% had a paid job; the biggest amount of donated milk was 88 liters; average donation period was 155 days; and average breastfeeding period was 371 days. Four themes and categories emerged from the women´s speeches: The breastfeeding experience; The human milk bank: a welcoming and learning place; Donating is hard-working and demands commitment; and Being a donor is sharing what I have and helping with others need. What motivates a woman to become a human milk donor involves the experience of breastfeeding her baby, which presents itself as a positive attitude, however posing some challenges. She realizes that her milk is unique, that she produces more than her baby can take, so she goes to the milk bank to share this nourishment with other children. The human milk bank becomes a welcoming, supportive and learning place for her, who spreads the word about this service/facility. These women also become aware of donation stories and comprehends that donating their milk is hardworking, but the commitment overcomes the difficulties; family support is essential; and they find out their own way to express the milk. These donating women reveal that they are proud to be a donor, and by acknowledging themselves as such, their social representations link to the social construction of solidarity and a deeper feeling of what maternity means. This allows them to amplify the motherhood feeling, beyond their own child, as they feel they are the mother of many. Also, sharing what they have and helping those in need results in the visualization of the multiplication of the mother´s role and understanding that donating milk is worthwhile. The elements identified in this study offer important ground to implement campaigns and projects to improve compliance in Human Milk Bank donations.