Prevenção do câncer de colo de útero: fatores associados a não realização do exame Papanicolaou em participantes da Coorte de Universidades Mineiras (projeto CUME)
Prevention of cervical cancer: factors associated with not having a Pap smear in participants of the Cohort of Universities of Minas Gerais (CUME project)

Publication year: 2021

Introdução:

As neoplasias são a segunda causa de morte em todo o mundo, com destaque para o câncer de colo do útero entre a população feminina. Ressalta-se que umas das formas de prevenção, diagnóstico e detecção de lesões precursoras desse tipo de câncer é a realização do exame de Papanicolaou, preconizado no Brasil para as mulheres de 25 a 64 anos. Ainda que a proporção de mulheres que se submetem a esse exame seja alta no país, se faz importante conhecer quais fatores se associam a sua não realização entre o público-alvo, com o intuito de ampliar a cobertura.

Objetivo:

Analisar os fatores relacionados à não realização do exame Papanicolau de mulheres da faixa etária de 25 a 64 anos participantes do estudo Coorte de Universidades Mineiras (CUME).

Métodos:

Trata-se de um estudo transversal com dados da linha de base da CUME. Foram estudadas todas as mulheres na faixa etária alvo do rastreio, totalizando 2.898 participantes. Inicialmente, avaliou-se a prevalência de não realização do exame de Papanicolaou segundo as características sociodemográficas, comportamentais e de saúde das mulheres. Em seguida, foi realizada a uma análise multivariada para identificar os fatores independentemente associados à não realização do exame por meio da regressão logística múltipla. O nível de significância estatística foi fixado em 5% e todas as análises de dados foram realizadas por meio do software Stata® versão 13.

Resultados:

A prevalência de não realização do exame de Papanicolaou foi de 11,8%.

Os fatores associados ao aumento da chance de não realização do Papanicolaou foram:

cor da pele preta (OR: 2,16; IC 95%: 1,37-3,42) ou parda (OR: 1,44; IC 95%: 1,11-1,87) e graduação em curso que não fosse da área da saúde (OR: 1,45; IC 95%: 1,10-1,91).

Já os fatores associados à diminuição da chance de não realização do exame foram:

idade, com destaque para a faixa etária de 45 a 54 anos (OR: 0,40; IC 95%: 0,22-0,72); ser casada/união estável (OR: 0,27; IC 95%: 0,19-0,39) ou separada/divorciada (OR: 0,38; IC 95%: 0,15-0,93); apresentar especialização (OR: 0,62; IC 95%: 0,44-0,87), mestrado (OR: 0,69; IC 95%: 0,51-0,93), doutorado/pós-doutorado (OR: 0,63; IC 95%: 0,39-0,99); renda de 05 a 10 salários mínimos (OR: 0,59; IC 95%: 0,41-0,84) e maior que 10 salários mínimos (OR: 0,27; IC 95%: 0,10-0,68); ser fumante (OR: 0,53; IC 95%: 0,30-0,92) ou ex-fumante (OR: 0,45; IC 95%: 0,26-0,78); já ter vivenciado alguma gestação ao longo da vida (OR: 0,55; IC 95%: 0,36-0,85); ser ativa fisicamente (OR: 0,71; IC 95%: 0,53-0,94).

Conclusões:

Os resultados deste estudo mostraram uma alta cobertura do Papanicolaou e os fatores associados à não realização do exame foram semelhantes àqueles evidenciados em investigações prévias para a população geral brasileira. Tais achados demostram que mesmo em um público de alta escolaridade, estratégias de ampliação da realização do exame de rastreamento do câncer cérvico-uterino envolvem questões passíveis de modificação, tais como a própria escolaridade, a renda e, potencialmente, o racismo estrutural, além de ações de educação em saúde para mulheres que não se graduaram na área da saúde.