Publication year: 2018
Introdução:
Esta pesquisa toma como objeto o desenvolvimento de uma tecnologia de comunicação e informação, o app, como instrumento educativo para abordar as necessidades em saúde de jovens. A partir da saúde coletiva, toma como referência teórica, a concepção de juventude como categoria social, conforme determinada pelo modo de produção vigente e por suas necessidades de reprodução, que impõem aos jovens, das diferentes classes sociais, padrões de socialização recortados pelas necessidades de preparação para o mercado de trabalho. Tomou-se também como referência o conceito de necessidades em saúde como necessidades sociais, ou seja, como necessidades referidas às classes sociais. Objetivo:
construir um app, de caráter educativo, relacionado às necessidades em saúde de jovens, considerando-se a perspectiva desses jovens. Método:
Trata-se de investigação de natureza qualitativa, que utilizou a metodologia da pesquisa-ação emancipatória desenvolvida por vertente teórico-metodológica materialista histórica e dialética. O processo empregou 24 oficinas com 12 jovens do segundo grau de uma escola pública, do município de São Paulo, durante período de 5 meses, em 2017. Os jovens participantes envolveram-se porque estavam motivados pela temática; são provenientes de famílias da classe trabalhadora, cujos pais trabalham em ocupações que exigem pouca ou nenhuma qualificação profissional. O app desenvolvido com a participação dos jovens foi analisado por um painel de especialistas, a partir de instrumento padronizado. Resultados:
O aplicativo foi denominado "fala sério" e apresenta como abas os seguintes temas eleitos pelos jovens: família, saúde mental (dividida em pressões e drogas), corpo e sexualidade. As oficinas foram analisadas de acordo com as categorias de análise:
necessidades de reprodução social; necessidades de presença do Estado; e necessidades de participação social. Os jovens trouxeram à tona as seguintes categorias empíricas:
as formas de enfrentamento das famílias das precárias formas de trabalhar e viver podem ser individualizadas ou coletivas; os jovens têm medo de não dar conta das pressões sociais, que supostamente viabilizariam seu futuro; o consumo de drogas é visto socialmente como a causa dos problemas dos jovens e a educação sobre drogas está desvinculada da realidade; educação sexual na escola é importante e a relação com a própria sexualidade é barrada por valores dominantes, principalmente machismo; as dificuldades sociais enfrentadas pelos jovens limitam suas possibilidades. A análise dos especialistas foi positiva para a maior parte dos conteúdos, destacando-se os conteúdos de família, pressões e drogas. Houve vários apontamentos para aperfeiçoamento dos conteúdos principalmente relativos às temáticas redução de danos, corpo e sexualidade, e ainda à dimensão técnico-operacional do aplicativo, como funções e interatividade. Conclusão:
o aplicativo foi desenvolvido a partir das necessidades em saúde que mais preocupam o grupo de jovens participantes da pesquisa, o que indica serem as maiores dificuldades do grupo. O resultado deve refletir as dificuldades de outros grupos que vivem condições semelhantes de reprodução social; eles se referem principalmente a configurações familiares, que sofrem com empregos precários e desemprego, ausência ou inconstância de apoio paterno, ressocialização através da escola e processos de sociabilidade precários, expressos em desgastes como ansiedade, depressão, consumo problemático de drogas. Certas condições contemporâneas universalizantes e geracionais, que perpassam as classes sociais, permitirão também o uso do App por grupos de jovens em diferentes condições sociais. Nota-se com frequência a preocupação com a gravidez na adolescência, como caraterística de sociabilidade e socialização desse grupo. O processo educativo gerado pela pesquisa-ação emancipatória mostrou-se importante instrumento de desalienação. Os jovens se envolveram profundamente no processo de desenvolvimento do app e reivindicaram a continuidade das discussões.
Introduction:
The objective of this research was to develop a technology of communication and information, an app, as an educational instrument to address the health needs of young people. Our theoretical reference considers the concepts of the collective health field and of youth as a social category influenced by the prevailing production mode and its needs of reproduction. This mode imposes, for young people of the different social classes, social standards permeated by the need to prepare for the labor market. We also used the concept of health needs as social needs, i.e., as the needs of social classes. Objective:
to develop an educational app aimed at the health needs of young people, considering their perspective. Method:
This is a qualitative research in which we used the emancipatory methodology of action research that was developed using the theoretical-methodological principles of dialectical and historical materialism. We performed 24 workshops with 12 young people at high school from a public school in the city of São Paulo, Brazil, for five months in 2017. They participated in the study because they were motivated by the topic; they are from working-class families whose parents work in occupations that require little or no professional training. The app developed by the young participants was analyzed by a panel of experts using a standardized instrument. Results:
The application was named Fala sério and features the following subjects as tabs: family, mental health (divided into pressures and drugs), body and sexuality. The workshops were analyzed according to the categories:
needs of social reproduction; needs of the state protection; and needs of social participation. The participants pointed the following empirical categories:
the coping strategies of the families to handle the precarious work and living conditions can be individualized or collective; they are afraid of being unable to handle the social pressures that would supposedly support their future; drug use is seen by society as the cause of their problems and the education about drugs is detached from their reality; sex education at school is important and their own relation with sexuality is difficult due to dominant values, mainly machismo; the social difficulties they face limit their possibilities. The analysis of specialists was positive for most contents, especially for family, pressures and drugs. Several notes were made to improve the contents, especially those related to the themes of harm reduction, body and sexuality and to the technical and operational dimension of the application, such as functions and interactivity. Conclusion:
the application was developed from the health needs that most concern the youth group who participated in the research, this indicates that these are the major difficulties of this group. The result must reflect the difficulties of other groups living in similar conditions of social reproduction; they refer mainly to family settings that suffer with precarious jobs and unemployment, the absence or inconstancy of paternal support, resocialization through school and precarious processes of sociability expressed by stresses such as anxiety, depression, and problematic drug use. Certain contemporary conditions are more inclusive, generational and capable of perpass social classes, these conditions will allow the use of the app for young people from different social conditions. The concern with adolescent pregnancy frequently appears as a characteristic of sociability and socialization of this group. The use of the emancipatory action research served as an important instrument of de-alienation through the educational process. The youth group became deeply involved with the development of the app and claimed the continuity of the discussions.