Publication year: 2018
Introdução:
Os traumas perineais são um dos problemas mais frequentes durante o parto e podem afetar a saúde da mulher, interferindo em sua mobilidade, eliminação vesical e intestinal, cuidados gerais ao recém-nascido (RN) e outras atividades diárias. O local do nascimento, os profissionais que prestam assistência à mulher e as intervenções no parto influenciam a ocorrência do trauma perineal. Os centros de parto normal (CPN) favorecem a adoção de práticas para humanizar o parto e nascimento, respeitam sua fisiologia, a autonomia da mulher e dessa forma contribuem para o cuidado perineal. Objetivos:
1) Verificar a prevalência e o grau de lacerações perineais; 2) Analisar a relação entre a ocorrência e o grau da laceração perineal e as variáveis maternas, neonatais e assistenciais; 3) Analisar a relação entre o grau da laceração perineal e a prevalência do reparo perineal; 4) Analisar a relação entre a realização da sutura perineal e a prevalência de complicações na cicatrização perineal; 5) Verificar a prevalência do uso de métodos naturais no cuidado perineal após o parto. Método:
Estudo transversal, com coleta de dados nos prontuários das mulheres que deram à luz no CPN peri-hospitalar Casa Angela, em São Paulo, SP, de janeiro de 2016 a junho de 2017 (n=415). Como exposição, foram considerados: idade materna, cor da pele, parto vaginal anterior, uso de ocitocina, compressa morna, posição no parto, duração do período expulsivo, distocia de ombros, peso e perímetro cefálico do RN, parto na água, grau de laceração perineal e reparo perineal. Como desfechos, foram considerados: laceração perineal, grau da laceração perineal, reparo perineal e complicações no processo de cicatrização. Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial. O erro tipo I adotado foi de 5%. As variáveis com valor-p <0,20 foram inseridas em um modelo de análise múltipla. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Resultados:
A prevalência de lacerações de primeiro e segundo graus foi de 61,9% e 26,3%, respectivamente. O períneo manteve-se íntegro em 11,8% das mulheres e não houve nenhuma episiotomia. As variáveis relacionadas com aumento da ocorrência e do grau das lacerações perineais foram:
idade materna (aumento de 4% na chance para cada ano); período expulsivo do parto acima de 2 horas (2,8 vezes mais chance). Os fatores que se mostraram protetores contra a ocorrência e maior grau das lacerações foram:
número de partos vaginais anteriores (redução 56% na chance para cada parto); posição materna diferente da vertical durante o parto (redução de 51% a 67% na chance, para as posições sentada, semi-sentada, quatro apoios e lateral). O reparo perineal foi realizado em 16% e 70,6% das mulheres com lacerações de primeiro e segundo graus, respectivamente. As complicações perineais predominantes foram o edema (53,6%) e a dor (29,4%) e reparo aumentou a chance dessas complicações (OR=2,5; 95%IC 1,5-4,3). A compressa de gelo no períneo foi usada em 53,8% das mulheres no pós-parto e a de calêndula em 36,6% delas. Conclusão:
Fatores maternos e de assistência ao parto contribuíram para o aumento ou a redução da prevalência e grau da laceração perineal. Houve predomínio das lacerações de primeiro grau, reparadas em um número reduzido de mulheres. Quando o reparo perineal foi realizado, foi maior a frequência de complicações no processo de cicatrização, independentemente do grau da laceração. Os métodos naturais para o cuidado perineal foram usados em pouco mais da metade das mulheres.
Introduction:
Perineal trauma often occurs during labour and can affect women's health by interfering with her mobility, bladder and bowel elimination, general newborn (NB) care and other daily activities. Place of birth, caregivers, and labour and delivery interventions influence the occurrence of perineal trauma. The birth centres (BC) favour the adoption practices to humanize the birth assistance, respecting its physiology, the womens autonomy and thus contribute to the perineal care. Objectives:
1) To verify the prevalence and degree of perineal trauma; 2) To analyse the relationship between the occurrence and degree of perineal trauma and maternal, neonatal and assistance variables; 3) To analyse the relationship between the degree of perineal trauma and the prevalence of perineal repair; 4) To analyse the relationship between the perineal suture and the prevalence of complications in perineal healing; 5) To verify the prevalence of the use of natural methods in perineal care after childbirth. Method:
A cross-sectional study was carried out with data collection from the records of women who gave birth at Casa Angela alongside BC, in São Paulo, SP, from January 2016 to June 2017 (n=415). As exposure were considered:
maternal age, skin colour, previous vaginal delivery, oxytocin use, warm compress, birth position, duration of the second stage of birth, shoulder dystocia, weight and head circumference of the newborn, water birth, degree of perineal trauma and perineal repair. As outcomes were considered:
perineal trauma, degree of perineal trauma, perineal repair and complications in the healing process. Data were analysed by descriptive and inferential statistics. The type I error was 5%. The variables with p-value <0.20 were inserted in the multiple analysis model. The project was approved by the Research Ethics Committee of the School of Nursing of the University of São Paulo. Results:
The prevalence of first and second degree trauma was 61.9% and 26.3%, respectively. The perineum remained intact in 11.8% of the women and there was no episiotomy. The variables related to increased chance of occurrence and degree of perineal trauma were:
maternal age (each year increase 4% in chance); duration of the second stage of birth over 2 hours (2.8 times more chance). The factors that were protective against the chance of perineal trauma occurrence and second degree trauma were:
number of previous vaginal deliveries (for each delivery, 56% chance reduction); maternal birth position (reduction from 51% to 67% of the chance for sitting, semi-seated, squads and lateral). Perineal repair was performed in 16% and 70.6% of women with first and second degree trauma, respectively. The predominant perineal complications were oedema (53.6%) and pain (29.4%) and repair increased the chance of these complications (OR = 2.5; 95% CI 1.5-4.3). The perineum ice pack was used in 53,8% and calendula compress in 36,6% of postpartum women. Conclusion:
Maternal and childbirth factors contributed to increase or decrease the prevalence and degree of perineal trauma. There was a predominance of first degree trauma, which was repaired in few women. When the perineal repair was performed, the frequency of complications in the healing process was higher, independent of the degree trauma. Natural methods for perineal care were used in more than half of women.