Publication year: 2018
Introdução:
Recomendações nacionais (RDC ANVISA 15/2012; 50/2002) e internacionais determinam que as áreas destinadas à limpeza dos produtos para saúde (PPS) no Centro de Material e Esterilização (CME) mantenham um diferencial de pressão negativo do ar ambiente (BRASIL, 2012; AAMI, 2006; ASHARE, 2013). Entretanto, essa recomendação, até o momento, não está sustentada por estudos de alto rigor científico. Embora não houvessem justificativas explicitadas para tal recomendação, presume-se que seja prioritariamente pelo risco de transferência aérea de microrganismos, da área de limpeza para as áreas adjacentes, configurando-se em risco ocupacional. Objetivo:
Avaliar o impacto da presença da pressão negativa na área de limpeza do CME mediante a avaliação da qualidade microbiológica do ar desse setor e da área de preparo dos PPS. Método:
Foram comparadas amostras microbiológicas do ar coletadas da sala de limpeza (área suja) e da sala de preparo (área limpa) de dois CME classe II de um mesmo hospital localizado na cidade de São Paulo: com e sem sistema de pressão negativa do ar na área de limpeza, este último com sistema de condicionamento do ar centralizado. Como controle, foram realizadas coletas do ar exterior ao hospital. Para obter amostras microbiológicas, foi utilizado o amostrador air six-stage Andersen, com os seguintes meios de cultura seletivos e não seletivo: agar sangue, agar sabouraud, Lowenstein jensen e agar legionella. Durante a coleta do ar, foram verificadas as seguintes variáveis: temperatura e a umidade relativa dos ambientes, número de pessoas presentes e equipamentos sendo utilizados na limpeza. Após as coletas, as amostras foram encaminhadas ao laboratório de ensaios microbiológicos da escola de enfermagem da Universidade de São Paulo, onde permaneceram em estufa microbiológica regulada a 35 ± 2ºC. Os dias de incubação foram específicos para recuperação pretendida de cada grupo microbiano quais sejam:
bactérias vegetativas - incluindo Legionella, Mycobacterium tuberculosis e fungos. As placas com crescimento positivo foram submetidas a identificação do gênero e/ou espécie, por meio das características fenotípicas e reações específicas, pelo laboratório de microbiologia da Santa Casa de São Paulo. As amostras, tanto do CME com pressão negativa como naquele sem, foram coletas em quintuplicata. Resultados:
a concentração de bioaerossóis na área da limpeza no CME sem pressão negativa e da área de preparo foi de 273,15 e 206,71 UFC/m3 respectivamente, enquanto, no CME com pressão negativa foi de 116,96 UFC/m3 na sala da limpeza e 131,10 na de preparo. Comparando a quantidade média de colônias isoladas dos CME estudados, a diferença foi significativamente menor (p=0,01541) no CME com pressão negativa. A relação I/E, onde I é a quantidade de fungos no ambiente interior e a quantidade de fungos no ambiente exterior, no CME com pressão negativa, na sala de limpeza foi de 0,5 e na sala de preparo de 0,58. No CME sem pressão negativa, a relação foi de 0,8 e 0,6, respectivamente, na sala de limpeza e preparo, ambos abaixo do padrão de referência, que deve ser 1,5, atualmente estabelecido pela resolução nº 9/2003 da ANVISA que dispõe sobre referenciais de qualidade do ar interior, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo. Em nenhum dos CME foram recuperados Mycobacterium tuberculosis ou Legionella do ar. Os microrganismos identificados foram Penicillium spp, Aspergillus niger, Rhodotorula spp., Bacillus subtilis, e Micrococcus spp., todos considerados como não apresentando riscos à saúde em imunocompetentes. Conclusão:
Os achados da presente investigação evidenciaram que o sistema de pressão negativa na sala de limpeza do CME contribuiu para redução quantitativa de bioaerossóis, tanto nesse ambiente como na sala de preparo. Entretanto, mesmo no CME sem esse sistema de tratamento do ar na sala de limpeza, a concentração de bioaerossóis foi menos da metade do padrão referencial estabelecido pela resolução nº 9/2003 da ANVISA, em que o valor máximo permitido deve ser 750 UFC/m3 de fungos. Ressalta-se que a quantidade e tipo de microrganismos existentes em qualquer ar ambiente é circunstancial, instável e principalmente dependente dos disseminadores microbianos presentes no local, sejam pessoas ou atividades. Nesse sentido, não se condena conclusivamente CME que não dispõe de pressão negativa na sala de limpeza configurando risco ocupacional.
Introduction:
National (RDC ANVISA 15/2012) and international guidelines recommend that areas for cleaning medical devices in the Material and Sterilization Center maintain a negative differential ambient air pressure (BRAZIL, 2012; AAMI, 2006; ASHARE, 2013). However, this recommendation, so far, has not been supported by highly scientifically rigorous studies. Although there are no explicit justifications for such recommendations, it can be assumed that they are grounded on the risk of airborne microorganism contamination from the cleaning area to adjacent ones, which constitutes occupational risk. Objective:
to evaluate the impact of negative air pressure on the microbiological quality of the air in the Material and Sterilization Center area where medical devices are cleaned and in the adjoining preparation room. Methods:
Microbiological air samples were collected from the room where medical devices are cleaned (also called dirty room) and from the room where these devices are prepared (clean room) at two class II Material and Sterilization Center in the same hospital, located in the city of São Paulo: with and without a negative air pressure system in the cleaning room; the latter with central air conditioning. As a control, outdoor air samples were collected. To obtain microbiological air samples, Andersen six-stage air sampler was used, with the following selective and non-selective culture media: blood agar, sabouraud agar, Lowenstein Jensen and agar legionella. During air collection, the following variables were controlled: temperature and air relative humidity in the rooms, number of people present in the sites and equipment used for the cleaning. After the collection, the samples were sent to the Laboratory of Microbiological Trials of the Nursing School of the University of São Paulo, where they remained in a microbiological oven at a temperature of 35ºC ± 2. The incubation period was specific for the intended recovery of each microbial group:
vegetative bacteria including Legionella and Mycobacterium tuberculosis and fungi. Identification of microorganisms` genus and / or species was carried out according to their phenotypic characteristics at the Microbiology Laboratory of the Santa Casa Hospital in São Paulo. The samples, in both Material and Sterilization Center, the one with negative pressure and the one without, were collected in a five-fold sample. Results:
The concentration of bioaresols in the cleaning room and preparation area without negative pressure was 273.15 and 206.71 UFC / m3, respectively, while in the Material and Sterilization Center with negative pressure the concentration of bioaerosols was 116.96 CFU / m3 in the cleaning room, and 131.10 in the preparation area. The number of isolated colonies in the negative pressure Material and Sterilization Center was significantly lower (p = 0.01541). The I / E ratio, where I is the amount of fungi in the indoor environment, and E is the amount of fungi in the outdoor environment, in the cleaning room of the negative pressure Material and Sterilization Center was 0.5, and in the preparation area, 0, 58; as for the Material and Sterilization Center without negative pressure, in the cleaning and in the preparation area, the ratio was 0.8 and 0.6, respectively, both below the reference standard currently established by ANVISA Resolution No. 9/2003, which determines indoor air quality standards at artificially climatized environments for public use. In neither of the studied Material and Sterilization Center were Mycobacterium tuberculosis or Legionella recovered from the air. The microorganisms identified were Penicillium spp, Aspergillus niger, Rhodotorula spp., Bacillus subtilis, and Micrococcus spp., all of which are considered harmless to immunocompetent subjects. Conclusion:
The findings showed that the negative pressure system in the Material and Sterilization Center cleaning room contributed to the quantitative reduction of bioaerosols, both in this area and in the adjoining preparation area. However, even in the Material and Sterilization Center whose cleaning room did not have this system the concentration of bioaerosols was less than half the reference standard established by ANVISA Resolution No. 9/2003. It should be stressed that the quantity and type of microorganisms in any ambient air is circunstancial, instable and, especially dependent on microbe disseminators in the site, whether they are people or activities. Therefore, it cannot be conclusively concluded that Material and Sterilization Center that do not have negative pressure in their cleaning rooms offer occupational risk.