Segurança do paciente em Unidade de Terapia Intensiva: fatores dos pacientes, dos profissionais e do ambiente das práticas de enfermagem na ocorrência de eventos adversos
Patient Safety in Intensive Care Units: patient safety, professional satisfaction and practice environment factors in the occurrence of adverse healthcare events

Publication year: 2019

Introdução:

Fatores estruturais das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) relacionados aos pacientes, aos profissionais de enfermagem e ao ambiente das práticas podem associar-se à ocorrência de eventos adversos (EAs) comprometendo a segurança dos pacientes. Portanto, identificar esses fatores poderá contribuir para melhores práticas e redução de riscos desnecessários.

Objetivo:

Analisar as características dos pacientes (demográficas, clínicas, de internação e demanda de trabalho), dos profissionais (biossociais, burnout, satisfação profissional) e ambiente das práticas de enfermagem na ocorrência de EA moderados, graves e óbitos em UTI.

Método:

Estudo observacional, do tipo coorte histórico para análise das características dos pacientes e incidentes, realizado na UTI de um hospital privado, de nível terciário, em São Paulo, Brasil, de janeiro de 2013 a dezembro de 2014, seguido de estudo transversal com os profissionais de enfermagem, em janeiro de 2015. Dados demográficos e clínicos, incluindo Simplified Acute Physiology Simplified Score 3 (SAPS-3), Índice de Comorbidades de Charlson (ICC), Nursing Activities Score (NAS) e EAs foram obtidos dos prontuários eletrônicos e documentos digitais existentes na Unidade. Os EAs foram caracterizados segundo Classificação Internacional para Segurança do Paciente (CISP) da Organização Mundial da Saúde (OMS). A coleta de dados dos profissionais de enfermagem foi feita com a aplicação de um questionário sobre as características biossociais e de trabalho da equipe, juntamente com outros três instrumentos: Maslach Burnout Inventory (MBI), Index of Work Satisfaction (IWS) e Nursing Working Index-Revised (B-NWI-R), para o estudo do burnout, satisfação profissional e percepção sobre o ambiente das práticas, respectivamente. Para análise das variáveis de interesse, utilizaram-se os testes t Student, Mann Whitney e correlação de Spearman, além do modelo de regressão logística e linear múltipla. Considerou-se significativo valor p>0,05.

Resultados:

Das 5590 admissões no período, predominaram pacientes masculinos (52,43%), com média de idade de 67,63 anos e médias do ICC e do NAS de, respectivamente, 1,71 pontos e 56,41%. Os pacientes permaneceram na UTI, em média 3,79 dias. A probabilidade de óbito medida pelo RM SAPS 3 foi 16,90%, sendo a mortalidade observada de 8,39%. No período de dois anos, ocorreram 213 (55,20%) EAs de gravidade moderada/grave/óbito com maior frequência do tipo infecção associada à assistência (71,40%). Foram fatores dos pacientes associados à ocorrência de EA moderado, grave e óbito o tempo de permanência (p=0,00), RM SAPS-3 (p= 0,00) e NAS (p=0,01). Quanto aos profissionais de enfermagem a amostra foi composta por 36 enfermeiros e 33 técnicos de enfermagem. Observou-se que do total (69), 7 (10,10%) dos enfermeiros apresentaram burnout. Referente à satisfação profissional, 47,80% da equipe encontrava-se satisfeita, com média de 4,4 pontos (dp=0,62). O ambiente das práticas profissionais foi de 1,95 pontos (dp=0,46), indicando percepção de condições favoráveis para o trabalho. Os fatores dos profissionais associados ao burnout foram as horas de sono suficientes (p=0,04), que diminuem em 43% a chance de presença da síndrome. Sobre a satisfação profissional, também horas de sono suficientes (p=0,02) e média B-NWI-R (p=0,00) foram associados à satisfação. Horas de sono suficientes aumentaram em 0,25 pontos o ISP e cada ponto reduzido do B-NWI-R aumentaram em 0,01 a satisfação profissional. Idade (p=0,04) e horas de sono necessárias (p=0,01) foram os fatores associados à percepção do ambiente das práticas pelos profissionais. Os fatores de risco dos profissionais para a ocorrência de eventos adversos na UTI não foram possíveis pelo pequeno número de profissionais participantes no estudo.

Conclusões:

Tempo de permanência (p=0,00), RM SAPS-3 (p= 0,00) e demanda de cuidados NAS (p=0,01) foram os fatores dos pacientes associados aos eventos adversos moderados, graves e óbitos na UTI. Dada a importância do tema, recomenda-se a continuidade da investigação dos fatores da equipe de enfermagem relacionados à ocorrência desses incidentes em amostras mais amplas para a obtenção de melhores evidências.

Introduction:

Structural factors of Intensive Care Units (ICUs) related to patients, nursing staff and the environment of the practices may be associated with the occurrence of adverse events (AEs), compromising patient safety. Therefore, to recognizing these factors beforehand may be of great contribution to the best practices and reduce unnecessary risks.

Objective:

To analyze the influence of the characteristics of the patients (demographic, clinical, hospitalization and workload), professionals (biosocial factors, burnout and professional satisfaction) and occurrence of AEs in the environment of nursing practices and ICU deaths.

Method:

Study was performed at the general ICU of a private tertiary-level hospital in São Paulo city, Brazil. Prospective cohort study was carried out from January 2013 to December 2014, Followed by a transversal study involving nursing professionals in January 2015. Demographic and clinical data, including Simplified Acute Physiology Simplified Score 3 (SAPS-3), Charlson Comorbidity Index (ICC), Nursing Activities Score (NAS) and EAs were obtained from electronic records and digital documents available in the Unit. AEs were categorized according to International Classification for Patient Safety (ICPS) from the World Health Organization. A cross-sectional approach was taken by the application of three instruments: Maslach Burnout Inventory (MBI), Index of Work Satisfaction (IWS) and Nursing Working Index (NWI) which enables for the analysis of the characteristics of nursing professionals, burnout, professional satisfaction and perception of the practice environment. Student's t test, Mann Whitney and Pearson / Spearman correlation and the logistic regression model were considered in the analysis of interest variables. A p value above 0.05 was considered significant.

Results:

5590 admissions, male patients predominated (52.43%), average age of 67.63 years. Average ICC and NAS were, respectively, 1.71 points and 56.41%. Patients stayed in the ICU for 3.79 days, in average. Death probability, measured by SAPS 3, was 16.90% and the mortality observed was 8.39%. Within a two-year period, 213 (55.20%) AEs occurred in the moderate/severe/death range, with the higher frequency being stated as "infection associated with healthcare" (71.40%). Patients' factors associated with the occurrence of moderate and severe AE were the length of stay (p = 0.00), SAPS 3 (p = 0.00) and NAS (p = 0.01). Nursing staff was composed of 36 nurses and 33 nursing technicians. It was observed that of the total (69), 7 (10.10%) of the nurses presented burnout. Concerning professional satisfaction, 47.80% of the team was satisfied, with an average of 4.4 points (SD = 0.62). The professional practice environment was 1.95 points (dp = 0.46), indicating the perception of favorable conditions for the work environment. Factor associated with burnout was sufficient hours of sleep (p = 0.04) that can be reduce by 43% the chance of the syndrome. Also enough sleep hours (p = 0.02) and mean NWI-R (p = 0.00) were associated with professional satisfaction. Sufficient hours of sleep increased ISP by 0.25t point, and each point decrease of NWI-R enhanced 0.01 professional satisfactions. Age (p = 0.04) and hours of sleep required (p = 0.01) were factors associated with the professionals' perception of the environment. Risk factors of the professionals for the occurrence of AEs in the ICU were not possible associated due to the small number of professionals in the study.

Conclusions:

Length of stay (p = 0.00), RM SAPS 3 (p = 0.00) and workload of NAS (p = 0.01) were patients' factors associated with moderate, severe and deaths in ICU. In spite of these results, it is recommended to continue the investigation of the factors of the nursing staff related occurrence of these variables using more robust samples of multicenter surveys to obtain better evidence.