A adaptação cultural e a validação da escala Social and Community Opportunities Profile (SCOPE)
Cross-Cultural adaptation and Validation of the scale Social and Community Opportunities Profile (SCOPE)

Publication year: 2018

Introdução:

A reforma psiquiátrica brasileira trouxe a tona questões da exclusão social de pessoas com transtorno mental e fomentou a criação de uma política Nacional de saúde mental, cuja finalidade é a inclusão social das pessoas com transtorno mental. Para alcançar tal finalidade, foram criados serviços comunitários de saúde mental possuidores de equipes multidisciplinares capazes de promoverem ações de inclusão social. No entanto, não existiam no Brasil instrumentos que medissem os resultados dessas ações. Diante desse cenário, a autora percebeu que havia a necessidade de ter instrumentos validados e confiáveis para avaliação das ações de inclusão social para contribuir de serviços comunitários de qualidade para as pessoas com transtorno mental.

Objetivo:

Adaptar culturalmente e validar a escala Social and Community Opportunities Profile (SCOPE) para o contexto brasileiro.

Método:

Estudo metodológico, com amostra aleatória simples sem reposição composta por 225 pessoas com transtorno mental atendidas em 29 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que são serviços comunitários e territoriais , cuja coleta ocorreu no período de dezembro de 2016 a abril de 2017. Essa amostra foi dividida em duas subamostras (Amostra A=110 e Amostra B=115) para as análises psicométricas, de modo a garantir pelo menos cinco pacientes para cada item do SCOPE-B nas análises de construto. A fonte de informação para a coleta dos dados foi a versão brasileira do Instrumento Social and Communities Oportunities Profile (SCOPE-B), após adaptação cultural, que compõe 48 questões autoaplicáveis, sendo 17 referentes a escala de inclusão social e 31 questões de caracterização do perfil do usuário. A adaptação cultural foi feita de acordo com o protocolo de Dorcas Beaton e colegas. Para validação de conteúdo, utilizou-se o cálculo de IVC e para a análise dos dados coletados com o SCOPE-B utilizou-se estatística descritiva para caracterizar o perfil dos participantes. Análises fatoriais, exploratória (AFE) e confirmatória (AFC), foram realizadas para a validade de construto. Para o cálculo da consistência interna foi realizado o alfa de Cronbach. As análises foram realizadas por meio dos softwares IBM-SPSS e IBM-SPSS-AMOS versões 22.0 e 21.0, respectivamente.

Resultados:

Do total de 225 pacientes, a maioria era do sexo feminino (52%), branco (52,9%), possuíam o ensino médio completo (31%), desempregado (34,2%), com idade média de 44,57 e DP±11,428, sem doença crônica (55,1%), com renda até 1 salário mínimo (52%), sendo o benefício do estado a fonte de renda mais comum (33,3%). O processo de adaptação cultural teve comitê de especialistas composto por 12 juízes e obteve IVCt= 0,97 de concordância sobre o conteúdo da escala SCOPE-B. A média da pontuação total da escala foi 60,62 e DP±10,677, máximo de 89 pontos e mínimo de 37 pontos. Segundo SCOPE-B, os participantes apresentaram índices de inclusão social baixo a médio. Após as AFE e AFC a escala ficou formada por 17 itens, divididos em duas subescalas: Subescala de satisfação (12 itens) com três domínios: Social (itens 03,08,11,27,31,40,43 e 44) Trabalho (itens 18 e 24) e Saúde (36 e 37) e =0,756; Subescala Oportunidades Percebidas, unifatorial (itens 05, 10, 14, 21 e 30) e =0,626. Os índices de ajustamento obtidos por meio da AFC para o novo modelo da subescala referente a satisfação de inclusão social (12 itens), foram 2= 57000, df= 48 (p <.001), CFI= 0.967, TLI= 0.954, RMSEA= 0.040 e NFI= 0.830 e para subescala oportunidades percebidas de inclusão social (05 itens), foram 2=5819, df= 5 (p <.001), CFI= 0.990, TLI= 0.979, RMSEA= 0.038 e NFI= 0.926. Foram classificados como muito bons.

Conclusão:

O SCOPE-B, composto por 17 itens distribuídos em duas subescalas - Satisfação (12 itens e três domínios) e Oportunidades Percebidas (05 itens e um domínio), além de 31 questões de caracterização das pessoas com transtorno mental - mostrou-se um instrumento com boas evidências de validade e precisão para medir a inclusão social dos usuários de serviços comunitários de saúde mental atendidos no Município de São Paulo. No entanto, a estrutura fatorial encontrada ainda é passível de aprimoramentos para o excelente ajustamento do modelo.

Background:

Brazilian psychiatric reform has raised questions about the social exclusion of people with mental health issues and has fostered the creation of a National Mental Health Policy, whose purpose is the social inclusion of people with mental health issues. To achieve this goal, community mental health services were created with multidisciplinary teams capable of promoting social inclusion. However, there were no instruments in Brazil that measured the results of these actions. In this scenario, the author realized that there was a need to have validated and reliable instruments to evaluate social inclusion actions to contribute quality community services to people with mental health issues.

Objective:

To culturally adapt and validate the Social and Community Opportunities Profile (SCOPE) for the Brazilian context.

Method:

Methodological study simple random sample without replacement composed of 225 people with mental disorders attended at 29 Psychosocial Care Centres (CAPS), which are community and territorial services, whose collection occurred from December 2016 to April 2017. This sample was divided into two sub-samples (Sample A = 110 and Sample B = 115) for the psychometric analyzes, in order to guarantee at least five patients for each SCOPE-B item in the construct analyzes. The data source for the data collection was the Brazilian version of the Social and Communities Oportunities Profile (SCOPE-B), after cultural adaptation, which composes 48 self-applicable questions, of which 17 refer to the scale of social inclusion and 31 questions of characterization of the user profile. Cultural adaptation was done according to the protocol of Dorcas Beaton and colleagues. For content validation, the CVI calculation was used and for the analysis of the data collected with the SCOPE-B, descriptive statistics were used to characterize the profile of the participants. Factorial, exploratory (AFE) and confirmatory (AFC) analyzes were performed for the construct validity. The Cronbach's alpha was used to calculate the internal consistency. The analyzes were performed using IBM-SPSS and IBM-SPSS-AMOS software versions 22.0 and 21.0, respectively.

Results:

A total of 225 patients were female (52%), white (52.9%), had completed high school (31%), unemployed (34.2%), with a mean age of 44 , 57 and SD ± 11,428, with no chronic disease (55.1%), with income until 1 minimum wage (52%), being the most common source of income benefits of the State (33.3%). The process of cultural adaptation had a committee of specialists consisting of 12 judges and obtained IVCt = 0.97 of agreement on the content of the SCOPE-B scale. The mean of the total scale score was 60.62 and SD ± 10.677, maximum of 89 points and a minimum of 37 points. According to SCOPE-B, the participants presented low to medium social inclusion indices. After the AFE and AFC, the scale was composed of 17 items, divided into two subscales: Satisfaction subscale (12 items) with three domains: Social (items 03,08,11,27,31,40,43 and 44), Work (items 18 and 24) and Health (36 and 37) and = 0.756; Subscale Opportunities Perceived, unifatorial (items 05, 10, 14, 21 and 30) and = 0.626. The AFC adjustment indexes for the new subscale model for social inclusion satisfaction (12 items) were 2= 57000, df= 48 (p <.001), CFI= 0.967, TLI= 0.954, RMSEA= 0.040 and NFI= 0.830 and for subscale perceived social inclusion opportunities (05 items), were 2=5819, df= 5 (p <.001), CFI= 0.990, TLI= 0.979, RMSEA= 0.038 and NFI = 0.926 were classified as very good.

Conclusion:

SCOPE-B, composed of 17 items distributed in two subscales - Satisfaction (12 items and three domains) and Perceived Opportunities (05 items and one domain), as well as 31 questions characterizing people with mental disorders - was shown an instrument with good evidence of validity and accuracy to measure the social inclusion of users of community mental health services served in the city of São Paulo. However, the factor structure found is still subject to improvements for the excellent fit of the model.