Avaliação do programa comportamental - educação em grupo e intervenção telefônica (PCEGIT) em diabetes tipo 2: ensaio clínico randomizado

Publication year: 2021

Introdução:

O Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma condição crônica de causa multifatorial, associado, principalmente, a maus comportamentos, como alimentação inadequada e sedentarismo. Frente a este cenário, o programa comportamental composto por estratégias metodológicas, como a educação em grupo e intervenção telefônica (PCEGIT), pautadas na comunicação e na construção de alicerces para o autocuidado, configura­se uma alternativa viável.

Objetivo:

Avaliar o efeito do programa comportamental educação em grupo e intervenção telefônica (PCEGIT) na modificação das atitudes psicológicas, melhora do empoderamento e das práticas de autocuidado visando à melhora do controle clínico em diabetes mellitus tipo 2.

Método:

Trata­se de um ensaio clínico randomizado por cluster, com acompanhamento de doze meses, realizado com 199 pessoas com diabetes mellitus tipo 2, provenientes de seis Unidades Básicas de Saúde, que foram alocadas em dois grupos: três unidades como grupo controle (n=91), que receberam o atendimento convencional, e três como grupo intervenção (n=108), que receberam as estratégias metodológicas comportamentais. Compôs­se o estudo em seis etapas de seguimento. Antes do tempo inicial (Ti), realizou­se a fase exploratória com análise descritiva dos dados de todas as pessoas com diabetes tipo 2 das Unidades Básicas de Saúde da regional Leste de Belo Horizonte – Minas Gerais (MG). Em tempo inicial (Ti), realizou­se a coleta das variáveis clínicas, sociodemográficas, antropométricas, atitudes psicológicas, autocuidado e empoderamento para os grupos controle e intervenção. Em tempo zero (T0), três meses (T3) e seis meses (T6), realizaram­se as estratégias metodológicas comportamentais, como a educação em grupo e a intervenção telefônica, com intervalo de três meses entre os tempos e o monitoramento telefônico uma vez por mês, nos intervalos. Em tempo final (Tf), três meses após tempo seis meses (T6), realizouse novamente a coleta das variáveis clínicas, sociodemográficas, antropométricas, atitudes, autocuidado e empoderamento. Em tempo doze meses (T12), um mês após o tempo final (Tf), realizou­se o encerramento das estratégias para os grupos controle e intervenção, e a análise descritiva, por meio do cálculo de frequências para as variáveis categóricas e medidas de tendência central (média e mediana) e de dispersão (desvio­padrão ­ DP) para as variáveis quantitativas. Aplicou­se o teste de Shapiro­Wilk para verificar a suposição de distribuição normal para as variáveis hemoglobina glicada (Hb1Ac), atitudes (ATT­19), empoderamento (DES) e nível de autocuidado (ESM) (p < 0,05). Para as mesmas variáveis, utilizou­se o teste dos sinais para testar diferenças consistentes entre pares de observações antes e depois da intervenção. Definiu­se o efeito do experimento como a diferença entre seus valores, no período final e período inicial (Δ), dividido pelo valor inicial. Por fim, para avaliar os efeitos do programa comportamental, utilizaram­se os testes t de Student pareado e Wilcoxon para comparação da média e mediana. Em todas as análises, utilizou­se um nível de significância de 5%.

Resultados:

A média de idade do grupo estudado foi de 63 anos; a maioria foi do sexo feminino, 68,3%; 68,3% eram casados; em relação à escolaridade, 42,7% estudaram até o ensino fundamental; 52,8% declaram­se pardos ou amarelos; 39,8 % eram aposentados e 69,6% possuíam renda familiar mensal entre 1 a 2 salários mínimos. Com relação aos parâmetros clínicos, observou­se que, entre as pessoas do GI, houve uma redução estatisticamente significativa nos valores medianos de HbA1c (p<0,05) no tempo final. Entre os indivíduos do GC, após o término do estudo, houve aumento significativo nos valores medianos de HbA1c (p<0,05). Ademais, considerou­se, estatisticamente, a diferença entre as medianas de ΔHbA1c dos dois grupos significantes (p = 0.000). No que tange à modificação das atitudes (ATT­19), perceberam­se evidências significativas de diminuição da pontuação ao final do estudo no GC(p<0,05), enquanto, no GI, houve diferença estatisticamente significativa, com indicativo de aumento nos escores ao final do estudo (p<0,05). Quanto à escala do empoderamento (DES), houve estabilidade do escore mediano após a intervenção tanto no GI quanto no GC (p>0,05). No entanto, comparando­se os efeitos medianos do GI e do GC, consideram­se os dois grupos estatisticamente diferentes (p<0,05). Quanto à adesão às práticas de autocuidado (ESM), obtiveram­se resultados estatisticamente significativos na comparação dos períodos pré e pósintervenção no GI, evidenciando um aumento do escore mediano nesse grupo (p<0,05). O mesmo resultado não pode ser observado no GC (p>0,05). Considerou­se a diferença entre os dois grupos, quanto ao efeito do experimento, nos escores do ESM, significante (p = 0.000). Além disso, ao se compararem os efeitos medianos dos GC com GI para as varáveis clínicas, no tempo final, verificou­se que VLDL, LDL e TGL foram estatisticamente diferentes (p<0,05).

Conclusão:

O programa comportamental educação em grupo e intervenção telefônica (PCEGIT) se mostrou capaz de modificar as atitudes psicológicas, manteve os níveis de empoderamento e favoreceu as práticas de autocuidado, principalmente para uma alimentação saudável e prática de exercício físico, além de melhora dos níveis glicêmicos, evidenciada pelos resultados da hemoglobina glicada.