Maus-tratos a pessoas idosas no domicílio: a perceção dos cuidadores formais
Publication year: 2012
Numa sociedade que se tem pautado pela implementação de políticas sociais que preconizam a permanência da pessoa idosa no domicílio, assiste-se à preocupante ocorrência de maus-tratos, frequentemente induzidos pelos cuidadores informais, nomeadamente, cônjuge e/ou filhos. Os cuidadores formais dos Serviços de Apoio Domiciliário (SAD), por vezes, são os únicos elementos, externos ao meio familiar, que contactam diretamente com as pessoas idosas no domicílio, pelo que desempenham um papel determinante na prevenção, identificação e encaminhamento adequado das situações de suspeita de maus-tratos. Deste modo, emergiu a seguinte pergunta de partida: será que os cuidadores formais do SAD estão sensibilizados para a problemática dos maus-tratos às pessoas idosas no domicílio? Assim, traçaram-se os seguintes objetivos: identificar os tipos de maus-tratos a pessoas idosas com que os cuidadores formais do SAD se deparam; descrever os fatores que contribuem para a ocorrência de maus-tratos a pessoas idosas no domicílio, identificados pelos cuidadores formais do SAD; identificar as implicações dos maus-tratos a pessoas idosas no domicílio, reconhecidas pelos cuidadores formais do SAD e descrever as estratégias adotadas pelos cuidadores formais do SAD perante situações de maus-tratos às pessoas idosas no domicílio. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo em que as estratégias de colheita de dados foram o “focus group” (com 24 cuidadores formais do SAD dos concelhos de Ponta Delgada e Ribeira Grande), cujos dados foram submetidos a análise de conteúdo e para a caracterização sociodemográfica dos participantes optou-se pelo questionário. Os resultados permitiram concluir que os cuidadores formais do SAD estão sensibilizados para a problemática, ao identificarem a existência de negligência, maus-tratos físicos, psicológicos e financeiros, embora deem maior ênfase aos dois primeiros. Como fatores da sua ocorrência salientaram a relação/vinculação afetiva pessoa idosa/cuidador informal e o contexto psicosociocultural. Consideraram que os maus-tratos têm implicações não só na pessoa idosa, mas também no cuidador formal. Relativamente às estratégias acionadas, as mesmas direcionam-se para a pessoa idosa e para os cuidadores informais, tendo-se evidenciado que apesar de partilharem as suspeitas de maus-tratos com a equipa, nem sempre as comunicam aos responsáveis.