Fatores associados e desfechos maternos e neonatais no parto na água em um centro de parto normal peri-hospitalar: estudo transversal
Waterbirth associated factors, maternal and neonatal outcomes in a freestanding birth centre: a cross-sectional study

Publication year: 2020

Introdução:

Apesar dos resultados favoráveis sobre o parto na água na literatura, quase a totalidade das evidências são internacionais. A dificuldade em aplicar esses resultados no cenário brasileiro se deve à perspectiva do parto focada no risco. Nos centros de parto normal (CPN) liderados por enfermeiras obstétricas e obstetrizes, onde a gestação é considerada um evento fisiológico e o cuidado é centrado na mulher, o parto na água é uma prática bem aceita.

Objetivo:

Analisar os fatores associados e os desfechos maternos e neonatais do parto na água, comparados aos partos fora da água.

Método:

Estudo transversal, realizado no CPN Casa Angela, localizado em São Paulo, SP. A população são as mulheres que tiveram o parto no serviço entre 2012 e 2018, e a fonte é o banco de dados da instituição. Para a análise estatística, foram calculadas a frequência absoluta e relativa, razão de chances com intervalo de confiança de 95% e valor p. O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados:

Parto vaginal anterior (p=0,007; OR=1,39; IC95% 1,10-1,76) aumentou significativamente o parto na água, enquanto uso de ocitocina (p<0,001; OR=0,21; IC95% 0,10-0,39) e amniotomia (p=0,008; OR=0,52; IC95% 0,31-0,82) reduziram. O parto na água associou-se à posição não vertical (p<0,001; OR=6,59; IC95% 4,43-10,22), sem mecônio (p=0,027; OR=0,42; IC95% 0,18-0,86), com período expulsivo mais curto (p<0,001; OR=0,38; IC95% 0,27-0,52) e terceiro período mais longo (p=0,008; OR=1,36; IC95% 1,08- 1,71), menos lacerações perineais (p=0,018; OR=0,68; IC95% 0,50-0,94) e menos transferência do RN para o ambiente hospitalar (p=0,025; OR=0,47; IC95% 0,23-0,87). Não houve associação significante entre o parto na água e idade materna, cor de pele, escolaridade, estado nutricional, condição da bolsa amniótica na admissão, necessidade de sutura de lacerações, distocia de ombro, hemorragia pós-parto, retenção placentária, outras intercorrências no parto, transferência materna, Apgar no 1o e 5o minutos, contato pele-a-pele, amamentação na primeira hora de vida, reanimação neonatal e aspiração das vias aéreas superiores.

Conclusão:

Os fatores que aumentaram a chance de parto na água foram: parto vaginal anterior, não uso de ocitocina e não realização de amniotomia. Quem deu à luz na água teve chance menor de expulsivo acima de 1 hora, laceração perineal e transferência neonatal. A chance de dequitação depois de 30 minutos foi maior nos partos na água, porém sem hemorragia associada, indicando ser seguro às mulheres e bebês de baixo risco. Sugere-se a realização de novos estudos, com outros delineamentos, para corroborar com estes resultados.

Background:

Despite the favourable outcomes in literature, waterbirth remains limited due to the medical model of childbirth care, focused on the risks. In midwifery-led units, the care is women centred and waterbirth is a well-accepted practice. To consolidate the literature and improve the access in Brazil, it is necessary to know waterbirth outcomes in this country.

Objective:

To analyse associated factors and maternal and neonatal outcomes of waterbirth compared to birth outside the bath.

Method:

Cross-sectional study, performed at Casa Angela freestanding birth centre, in São Paulo, SP, Brazil. The population was women who gave birth at the birth centre between 2012 and 2018, and the source of information was the institution's care database. For statistical analysis were calculated the absolute and relative frequency, odds ratio with confidence interval (95%) and p value. The project was approved by a Research Ethics Committee.

Results:

The associated factor that increased the chance of waterbirth was previous vaginal birth (p=0,007; OR=1,39; IC95% 1,10-1,76). The factors that reduced the chance were oxytocin administration (p<0,001; OR=0,21; IC95% 0,10-0,39) and amniotomy (p=0,008; OR=0,52; IC95% 0,31-0,82). Waterbirth was associated with non- vertical positions (p<0,001; OR=6,59; IC95% 4,43-10,22), less meconium-stained amniotic fluid (p=0,027; OR=0,42; IC95% 0,18-0,86), second stage length < 1 hour (p<0,001; OR=0,38; IC95% 0,27-0,52), less perineum tears (p=0,018; OR=0,68; IC95% 0,50-0,94) and less newborn removal to tertiary unit (p=0,025; OR=0,47; IC95% 0,23-0,87). There was a greater chance of third stage of labour > 30 minutes (p 0,008), however, without haemorrhage. No statistical difference was found between waterbirth and women colour skin, age, education level, nutritional status, ruptured membranes on admission, delivery complications, retained placenta, perineal suture, transference to obstetric unit, newborn airway aspiration, neonatal resuscitation, Apgar scores, skin-to-skin contact and breastfeeding.

Conclusions:

Previous vaginal birth and no use of oxytocin or amniotomy increased the chance of waterbirth. Statistical significance was found between waterbirth and shorter second stage length, longer third stage length without haemorrhage, less perineal tears or newborn removal to neonatal unit. Waterbirth proved to be a safe practice for women with uncomplicated pregnancy. Studies with other designs are needed to confirm the results given the limitations of cross-sectional studies.