Atividade educativa para o desenvolvimento de competências culturais de enfermeiras(os) que atuam na saúde indígena na Amazônia paraense
Educational activity for the development of cultural competencies in nurses who work on indigenous health in the Amazon region of Pará

Publication year: 2020

Introdução:

A diversidade sociocultural na Amazônia brasileira requer dos profissionais da saúde competências culturais. No entanto, a assistência de enfermagem não difere entre os povos indígenas e não indígenas, a formação profissional e permanente é verticalizada e centrada na operacionalização dos serviços e as competências exigidas na saúde indígena são de natureza técnico-assistencial.

Objetivo geral:

Desenvolver, implementar e avaliar uma atividade educativa mediada pelos Círculos de Cultura para o desenvolvimento de competências culturais críticas com enfermeiras(os) que atuam na saúde indígena do DSEI Guatoc no estado do Pará.

Método:

Estudo de intervenção, de enfoque qualitativo com triangulação na obtenção, análise e avaliação dos dados. Utilizou-se os Círculos de Cultura como itinerário de pesquisa no desenvolvimento da atividade educativa. Realizaram-se cinco encontros na CASAI Icoaraci, CASAI e Polo de Marabá e sete encontros na CASAI e Polo Paragominas. Participaram dezenove enfermeiras(os) que atuavam mais de um ano nos serviços e não estavam afastadas do trabalho por qualquer motivo. A investigação iniciou após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da USP. Os resultados do perfil das(os) participantes e do instrumento de autoavaliação foram lançados no programa Microsoft Excel, versão 2007, para análise descritiva. Os dados qualitativos foram organizados pela versão livre do software Atlas Ti e analisados segundo a hermenêutica-dialética.

Resultados:

A maioria das(os) participantes era constituída por mulheres, nortistas, negras e pardas, casadas; formada(o) em Instituições de Ensino Superior privadas; tinha especialização em Saúde Indígena e vínculo empregatício celetista. A autoavaliação não mostrou resultados tendenciosos a respostas socialmente aceitáveis, o que demonstra possível autoavaliação crítica e reflexiva. Emergiu na atividade educativa, mediada pelos círculos de cultura, na investigação temática, o tema gerador dificuldade de comunicação; na tematização, a interculturalidade funcional; e na problematização percebeu-se que ao analisar das situações-problemas as(os) participantes desenvolveram uma transitividade de consciência e produziu-se uma cartilha idiomática.

Discussão:

O conhecimento regulação é norteador da atuação das(os) participantes, mas durante os Círculos de cultura apresentaram uma transitividade de consciência, especialmente no domínio cognitivo dos atributos sensibilização/consciência e conhecimento cultural, pois manifestaram reflexão, crítica e mobilização no sentido de interconhecimento, reconhecimento e autoconhecimento, apontando para uma aproximação com a Ecologia de saberes e do conhecimento emancipação.

Conclusão:

Por meio da atividade educativa, mediada pelos círculos de cultura, apreendeu-se que o desenvolvimento de competências culturais na perspectiva crítica é um processo educativo dialogado, coletivo, colaborativo, insurgente e permanente que considera os domínios afetivo, cognitivo e comportamental, que interseccionam aos atributos do desejo, sensibilização/consciência, conhecimento, habilidades e encontros culturais, mas que também compreende a dimensão política da atuação da(o) enfermeira(o) que lê, codifica e interpreta o contexto histórico, social e cultural em que está inserida(o), ressignificando seus saberes, práticas e cuidado do outro e de si.

Potencial de impacto da pesquisa:

Ressignificar o cuidado e a atuação da(o) enfermeira(o) na saúde de povos tradicionais; contribuir para a teoria de enfermagem transcultural ao abordar as competências culturais a partir do paradigma crítico; impactar na educação permanente de enfermagem ao articular a dimensão profissional com a dimensão sociopolítica como proposta de processo educativo que considera as zonas de conflitos culturais do cotidiano de enfermeiras(os) que atuam em contexto de diversidade sociocultural; produzir um instrumento inédito de autoavaliação das competências culturais de enfermeiras(os) que atuam na saúde indígena. E por fim, produzir inovação por meio de uma tecnologia assistencial que possibilitou o exercício do trabalho coletivo e colaborativo e promoveu a interlocução idiomática do universo cultural indígena com os profissionais de saúde.

Introduction:

The sociocultural diversity in the Brazilian Amazon demands cultural competences from the health professionals. Despite this fact, the nursing care provided to indigenous and non-indigenous people does not differ. The professional and permanent training is verticalized and centered around the operation of services. The competences required by the indigenous health have a technical-care nature.

General goal:

Develop, implement and evaluate an educational activity mediated by Culture Circles focused on the development of critical cultural competences alongside nurses who work on indigenous health at DSEI Guatoc in the state of Pará.

Method:

Qualitative intervention study approached through the triangulation of data acquisition, analysis and assessment. Culture Circles were used as research itinerary in the development of the educational activity. Five meetings were held at the CASAI Icoaraci, CASAI and Polo de Marabá, and seven meetings were held at CASAI and Polo Paragominas. Among the participants, there were 19 nurses who were working in these services for more than a year continuously without taking a work leave. The investigation started after the approval from the Research Ethics Committee of the University of São Paulo Nursing School. The results of the participants profile and the self-evaluation instrument were collected using Microsoft Excel, version 2007, for descriptive analysis. The qualitative results were organized using the free version of Atlas Ti and analyzed according to the dialectical hermeneutics method.

Results:

Most of the participants were women, northerner, black and colored, married; alumni from private universities; specialized in indigenous health and in a work contract under the general labor law, known as CLT. The self-evaluation did not show biased results towards socially accepted responses, which can demonstrate critical and reflective self-evaluation. During inquiry stage of the educational activity, mediated by culture circles, communication issues emerged as generative theme; in the thematization stage, the functional interculturality; and in the problematization, it became evident that the participants developed transitive consciousness owing to the analysis of the problem-posing situations, which resulted in the production of a idiomatic booklet.

Discussion:

The knowledge-regulation is the guiding principle for the work of the participants, yet they presented transitive consciousness during the culture circles. The cognitive domain brought out sensibleness/consciousness and cultural knowledge due to the manifestation of reflection, critical thinking and mobilization towards inter-knowledge, acknowledgement and self-knowledge. These pointed to a closeness to the ecology of knowledge and the knowledge emancipation.

Conclusion:

Through the educational activity, mediated by the culture circles, it was possible to understand that the cultural competences from a critical perspective is an educational process based on dialogue which can be described as collective, collaborative, insurgent and permanent. It takes into account the domains of affection, cognition and behavior, and intersects with the attributes of desire, sensibleness/consciousness, knowledge, abilities and cultural encounters. Furthermore, it comprehends the political dimension of a nurses work who reads, codes and interprets his or her social, cultural and historical context, changing the meaning of his or her knowledge, practice and care of others and him or herself.

Research impact:

Changing the meaning of the care and the work of a nurse regarding the health of traditional people; contributing to the transcultural nursing theory through the discussion of cultural competences from a critical paradigm; impacting the permanent nursing education as a result of articulating the professional dimension with the sociopolitical dimension, proposing it as an educational process that considers the cultural-conflicting zones in the daily life of a nurse who works in the context of sociocultural diversity; producing an unprecedented instrument of self-evaluation regarding cultural competences of nurses working on indigenous health; producing innovation by means of a care technology which allowed for collective and collaborative work, and promoted the idiomatic dialogue between the universe of the indigenous culture and the health professionals.