Publication year: 2020
Introdução:
A tuberculose (TB) ganhou expressividade como problema de saúde pública a partir da Revolução Industrial, principalmente devido às más condições de vida e trabalho, e ainda continua como enfermidade negligenciada e de relevância epidemiológica. No Brasil, apresenta índices importantes, com especial destaque para o abandono do tratamento, e acomete particularmente os grupos sociais com menor acesso. Em decorrência, recentemente, a Seguridade Social promove o amparo público para o enfrentamento de dificuldades inerentes à precariedade da vida, com destaque para o Programa Bolsa Família (PBF) e o auxílio-doença. Objetivo:
O objetivo geral deste estudo foi analisar a influência de incentivos sociais e de medidas de proteção social no processo de adesão ao tratamento de pacientes com TB no Município de São Paulo. Metodologia:
Estudo observacional descritivo-analítico com abordagem quanti-qualitativa, realizado em duas etapas. A TB como um agravo socialmente determinado, a adesão ao tratamento e a proteção social foram os pilares para a interpretação do objeto de estudo. As Supervisões Técnicas de Saúde (STS) do Butantã, Campo Limpo e Penha do Município de São Paulo constituíram o local de estudo que foi realizado com pacientes que realizavam tratamento da TB nas STS indicadas, entre 2015-2017. Na Etapa 1 foram capturados dados secundários disponibilizados pela Coordenação de Vigilância em Saúde e, a Etapa 2, foi realizada por meio de entrevista orientada por questionário semiestruturado. Foram realizadas análises descritivas, associação entre variáveis e os depoimentos foram objeto de análise de discurso. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados:
Na Etapa 1, 2.225 pessoas compuseram a amostra. Verificou-se associação significativa entre a cura e as seguintes variáveis: idade média de 37,7 anos (p<0,001), raça (p = 0,026), tipo de caso (p<0,001), forma clínica (p<0,001), tipo de tratamento (p<0,001) e algumas comorbidades como HIV/AIDS (p<0,001), alcoolismo (p<0,001) e drogadição (p<0,001). Na Etapa 2, 56 pacientes foram entrevistados; 87,5% receberam cesta básica e 16,1% receberam vale-transporte; 14,3% receberam auxílio-doença e 10,7% o aporte do PBF. Na análise dos depoimentos, emergiram quatro categorias: os benefícios sociais no tratamento da TB, fortalecedores da adesão ao tratamento da TB, barreiras para o tratamento da TB, e representações sobre o tratamento e o processo saúde-doença. Conclusão:
Os incentivos e as medidas de proteção social contribuíram para a adesão ao tratamento, salientando-se que devem constituir o alicerce da sociedade, como políticas públicas orientadas à diminuição das desigualdades. O estudo supre uma lacuna para que profissionais de saúde e gestores compreendam a importância da oferta de benefícios sociais, minimamente durante o processo de tratamento.
Introduction:
Tuberculosis (TB) has gained much attention as a public health problem since the Industrial Revolution, mainly due to poor living and working conditions and it is still considered a neglected disease of epidemiological relevance. In Brazil, TB presents important indexes with special emphasis on treatment default, and it particularly affects social groups with less access. As result, Social Security promotes public support to face difficulties inherent to the precariousness of life, with emphasis on the Bolsa Família Program (BFP) and paid sick leave. Objective:
The main goal of this study was to analyze the influence of social incentives and social protection measures in the process of adherence to the treatment of TB patients in the city of São Paulo, Brazil. Methodology:
Observational descriptive-analytical study with a quanti-qualitative approach, carried out in two stages. TB as a socially determined problem, adherence to treatment, and social protection were pillars for the interpretation of the study object. The study was performed at the Technical Health Supervisions (THS) of Butantã, Campo Limpo, and Penha in the city of São Paulo with patients who underwent TB treatment between 2015-2017. In Stage 1, the Health Surveillance Coordination provided the data; and interviews guided by a semi-structured questionnaire were done in Stage 2. Descriptive analyses and variable associations were made, and the speeches were the object of discourse analysis. The study was approved by a Research Ethics Committee. Results:
In Stage 1, the sample size was 2,225 people. There was a significant association between cure and the following variables:
mean age of 37.7 years (p <0.001), race (p = 0.026), type of case (p <0.001), clinical form (p <0.001), type of treatment (p<0.001) and some comorbidities such as HIV/AIDS (p<0.001), alcoholism (p <0.001) and drug addiction (p<0.001). In Stage 2, 56 patients were interviewed; 87.5% received food baskets, and 16.1% received transportation vouchers; 14.3% received paid sick leave, and 10.7% received the BFP. In the analysis of the speeches, four categories emerged: the social benefits in the treatment of TB, strengthening adherence to the treatment of TB, barriers to the treatment of TB, and representations regarding the treatment and the health-disease process. Conclusion:
Incentives and social protection measures contributed to treatment adherence, highlighting that they must constitute the foundation of society as public policies oriented for reducing inequalities. The study fills a gap for health professionals and managers to understand the importance of offering social benefits, at least during the treatment process.
