Estigma dos enfermeiros na prestação de cuidados ao doente com HIV

Publication year: 2022

Introdução:

O estigma e a discriminação relacionados com o HIV continuam a impedir as pessoas de aceder precocemente aos cuidados de saúde. Os profissionais de saúde, no seu quotidiano, estão constantemente expostos a eventos causadores de vulnerabilidades como a ansiedade, o medo, a tensão, o stress, entre tantos outros. É crucial, por isso, que os enfermeiros que prestam cuidados diariamente a doente com HIV compreendam a extensão e as dimensões do estigma, não só em termos da melhoria da relação terapêutica e dos cuidados prestados, mas também em termos da saúde mental e bem-estar destes doentes e deles próprios.

Objetivos:

Este estudo teve como objetivos (1) aprofundar conhecimentos sobre o estigma, a ansiedade e medo dos enfermeiros; (2) estudar o estigma dos enfermeiros que prestam cuidados a doentes com HIV; e (3) analisar a influência do estigma na ansiedade e no medo dos enfermeiros na prestação de cuidados ao doente com HIV.

Metodologia:

Neste estudo participaram 233 enfermeiros que prestam cuidados diários a doentes com HIV. A avaliação do estigma nesta população tornou necessária a realização de um estudo metodológico de tradução e adaptação transcultural do instrumento de avaliação HPASS para português europeu. Foi realizada análise fatorial para verificar a validade do instrumento e, para verificar a sua fidelidade, foi realizada a análise de consistência interna. Posteriormente foi realizado um estudo quantitativo, descritivo correlacional para determinar a influência do estigma na ansiedade e no medo dos enfermeiros que prestam diariamente cuidados a doentes com HIV. Na análise inferencial optámos pelo Teste t Student para grupos independentes e a análise de variância ANOVA para comparar três ou mais grupos independentes.

Resultados:

O instrumento final que designámos como EscAvE-HIV (Escala de Avaliação de Estigma para com doentes com HIV) é composto por três subescalas, ?Estereótipo?, ?Preconceito? e ?Discriminação?, que apresentam índices de fiabilidade aceitáveis, e uma estrutura fatorial que é consistente com os pressupostos teóricos do estigma descritos na literatura. Nos resultados obtidos não existe correlação estatisticamente significativa entre o nível de ansiedade e o nível de medo (r = 0,785 e p = 0,000), nem entre a média do score do estigma e nível de ansiedade (r = 0,163 e p = 0,275), nem entre a média do score do estigma e nível de medo (r = 0,082 e p = 0,607).

Conclusões:

Os achados mais relevantes deste estudo são que: (i) Apesar de prevalecerem nos enfermeiros que prestam cuidados diários aos doentes com HIV estereótipos e preconceitos, estes não se manifestam através de comportamentos e atitudes discriminatórias nos cuidados prestados; (ii) A ansiedade e o medo estão intimamente relacionados, mas não são influenciados pelo estigma na prestação diária de cuidados a doentes com HIV. Neste estudo ainda verificámos que a versão portuguesa da HPASS, denominada de EscAvE- HIV, demonstra ser um instrumento útil para avaliar o estigma dos enfermeiros que prestem diariamente cuidados a doentes com HIV.