Enfermeiros recém-formados e o cuidado intensivo de enfermagem em unidades de pacientes não-críticos: um estudo de representações sociais

Publication year: 2017

O cuidado intensivo vem sendo feito cada vez mais fora do ambiente especializado da Unidade de Terapia Intensiva, levando uma parcela significativa de pacientes críticos a ocupar outras unidades. Os recém-formados são a maior fonte de enfermeiros disponíveis para o recrutamento, o que resulta no seu contato com esta clientela em unidades de internação de pacientes não-críticos. Levanta-se o pressuposto de que a sua inexperiência traz um imaginário envolvendo estes cuidados intensivos, o que implica nos seus modos de atuar e pode repercutir na segurança do paciente. Objetivou-se identificar as representações sociais de enfermeiros recém-formados acerca do cuidado intensivo de enfermagem ao paciente crítico em unidades de internação de pacientes não-críticos; caracterizar as práticas de lidar do recém-formado em relação ao cuidado intensivo de enfermagem ao paciente crítico, considerando suas representações sociais; analisar as vulnerabilidades de tais práticas quanto à segurança do paciente. Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva, de abordagem qualitativa e com aplicação da Teoria das Representações Sociais. O cenário de estudo foi uma universidade privada localizada no município do Rio de Janeiro. Os participantes foram 26 enfermeiros recém-formados, e os dados foram produzidos através de entrevista em profundidade com auxílio de um roteiro semiestruturado. Os dados provenientes das entrevistas foram analisados através do software Alceste. A análise lexical produziu dois grandes blocos, cada um composto de três classes lexicais. As representações sociais dos recém-formados são construídas à luz da imagem da Unidade de Terapia Intensiva e dos cuidados que se exercem nesse campo: complexo e especializado; logo, para exercê-lo com segurança, a formação graduada não é considerada suficiente, sendo necessário cursar uma pós-graduação. No entanto, esse tipo de paciente hospitalizado fora do campo especializado confronta o recém- formado aflorando sentimentos de despreparo para cuidar. Tais sensações geram medo e insegurança no profissional, que reage de forma positiva, ao sugerir o aprimoramento de seus saberes técnicos e científicos. Há também aspectos identitários na construção da representação que implicam em identificações e diferenciações em relação ambiente da clínica. Neste entendimento, ao tempo em que a Unidade de Terapia Intensiva é categorizada como um lugar tranquilo, bonito e arrumado, fora dela é desorganizado, estressante e inseguro para o paciente crítico, pela ausência de pessoas capacitadas, recursos materiais e processos de trabalho definidos. As ações caracterizam-se então pela tentativa de transferência do paciente para a Unidade de Terapia Intensiva. Todavia, quando não conseguem, esta categorização exacerba os sentimentos de medo e preocupação advindos da inexperiência do recém-formado, conduzindo ao receio de causar algum erro que prejudique ao paciente na sua segurança e a si mesmo em relação ao exercício profissional. Conclui-se que a formação acadêmica no que tange ao cuidado intensivo na graduação deve ser ressignificada, objetivando garantir experiências mínimas de aprendizagem, bem como considerada pelas instituições quando da admissão do enfermeiro recém-formado para trabalhar. Deve-se intervir sobre aspectos da estrutura curricular e pedagógica para minimizar: o lapso de tempo entre teoria e prática, o choque com a realidade prática sem tempo de adaptação, campos sem experiências efetivas de aprendizagem.
Intensive care has been increasingly delivered out of the intensive care unit’s specialized environment, leading a significant part of critical patients to other units. Newly undergraduates are the greatest source of nurses available for recruiting, which results in their contact with this public in non-critical hospitalization units. There is a theory that the lack of experience of these professionals brings an imagery involving this intensive care, which reflects in their ways of doing and may affect patient safety. The objective was to identify social representations of newly- graduated nurses regarding intensive care nursing to critical patients in non-critical hospitalization units; to characterize the newly-graduated nurses’ coping practices in relation to intensive care nursing towards critical patients, considering their social representations; and to analyze the vulnerabilities of these practices as regards patient safety. A descriptive field study was conducted, using a qualitative approach and the application of the Theory of Social Representations. The study setting was a private university located in the city of Rio de Janeiro. The study participants were 26 newly-graduated nurses, and data were produced by means of in-depth interviews with a semi-structured script. The data resulting from the interviews were analyzed using the Alceste software. Lexical analysis produced two major blocks, with three lexical classes each. The social representations of the newly-graduated nurses are built in the light of the image of the intensive care unit and the care delivered in this field: complex and specialized; thus, undergraduate education is not considered enough to performing safely, and taking graduate training is needed. However, this type of patient, hospitalized out of the specialized field, confronts the newly-graduate nurse, making feelings of unpreparedness to care emerge.These sensations generate fear and lack of confidence in the professionals, who react positively by suggesting the improvement of their technical and scientific knowledge. There are also identity aspects in the construction of the representation that reflect in identification and differentiation in relation to the clinic’s environment. In this understanding, on one hand, the intensive care unit is categorized as a peaceful, beautiful and organized place, but on the other hand, it is disorganized on the outside, stressful and insecure for critical patients due to the lack of qualified personnel, material resources, and well-defined work processes. Actions are characterized by the attempt to transfer patients to the intensive care unit. However, when they fail, this categorization intensifies their feelings of fear and concerns resulting from the lack of experience of the newly-graduated, leading to the fear of making a mistake that can harm patients in their safety and themselves in relation to their professional activity. In conclusion, intensive care in undergraduate education must be resignified, with the aim of ensuring minimum learning experiences, as well as considered by institutions when hiring newly-graduated nurses. An intervention must be conducted on the aspects of the curricular and pedagogical structure to minimize the gap of time between theory and practice, the shock in face of the practice reality without adaptation time, and fields without effective learning experiences.
Se aplican cada vez más cuidados intensivos fuera del ambiente especializado de la Unidad de Terapia Intensiva, haciendo que significativa cantidad de pacientes críticos ocupen otras unidades. Los recién graduados constituyen la mayor fuente de enfermeros disponibles para contratar, resultando en su contacto con estos pacientes en unidades de internación de pacientes no críticos. Se presupone que su inexperiencia determina inquietudes relativas al cuidado intensivo, con implicancias en sus modos de actuar, pudiendo ello repercutir en la seguridad del paciente. Se objetivó identificar las representaciones sociales de enfermeros recién graduados sobre cuidado intensivo de enfermería al paciente crítico en unidades de internación de pacientes no críticos; caracterizar las prácticas de enfrentamiento del recién graduado respecto del cuidado intensivo de enfermería al paciente crítico, considerando sus representaciones sociales; analizar las vulnerabilidades de tales prácticas respecto a seguridad del paciente. Investigación de campo, descriptiva, de abordaje cualitativo, con aplicación de Teoría de las Representaciones Sociales. Estudio realizado en una universidad privada del municipio de Rio de Janeiro. Participaron 26 enfermeros recién graduados; datos recolectados mediante entrevista en profundidad con ayuda de rutina semiestructurada. Los datos obtenidos en las entrevistas fueron analizados utilizándose el software Alceste. El análisis lexical determinó dos grandes bloques, cada uno compuesto por tres clases lexicales.

Las representaciones sociales de los recién graduados están construidas en función de la imagen de la Unidad de Terapia Intensiva y del cuidado brindado en dicho campo:

complejo y especializado; consecuentemente, para ejercerlo con seguridad, la formación de graduación es considerada insuficiente, siendo necesario cursar un posgrado. Sin embargo, este tipo de pacientes hospitalizados fuera del área especializada desafía al recién graduado, haciendo que afloren sentimientos de falta de preparación para cuidar. Tales sensaciones generan miedo e inseguridad en el profesional, que reacciona positivamente considerando optimizar sus saberes técnicos y científicos. Existen también aspectos identitarios en la construcción de la representación que implican en identificaciones y diferenciaciones respecto del ambiente de la clínica. Entendiendo eso, mientras la Unidad de Terapia Intensiva es considerada un lugar tranquilo, bonito y arreglado, fuera de ella todo es desorganizado, estresante e inseguro para el paciente crítico, ante la ausencia de personal capacitado, recursos materiales y procesos de trabajo definidos. Las acciones se caracterizan por intentar transferir al paciente a la Unidad de Terapia Intensiva. De todos modos, al no conseguirlo, esta categorización exacerba los sentimientos de miedo y preocupación derivados de la inexperiencia del recién graduado, llevándolo al temor de cometer errores que repercutan en la seguridad del paciente y respecto de sí mismos en el ejercicio profesional. Se concluye en que la formación académica, en lo atinente al cuidado intensivo en el curso de grado, debe resignificarse, apuntando a garantizar experiencias mínimas de aprendizaje, y haciendo que el tema sea considerado por las instituciones al contratar enfermeros recién graduados.

Debe intervenirse en aspectos de estructura curricular y pedagógica para minimizar:

la transición entre teoría y práctica, el choque con la realidad práctica sin tiempo de adaptación, campos sin experiencias efectivas de aprendizaje.