Perceção de enfermeiros sobre a avaliação do delirium à pessoa em situação crítica: Contributos para a melhoria dos cuidados
Publication year: 2022
O delirium é considerado uma síndrome neuropsiquiátrica aguda, que se desenvolve num curto período de tempo e com início súbito, afetando a consciência, a atenção, a atividade psicomotora e o ciclo sono-vigília (Prayce, Quaresma & Neto, 2018).
Segundo Pincelli, Waters e Hupsel (2015), o delirium é muito comum na pessoa em situação crítica sendo a sua incidência entre 47% a 80%. Contudo, e apesar da sua frequência, este contínua a ser subdiagnosticado. Pitrowsky, Shinotsuka, Soares, Lima e Salluh (2010) refere que 3% a 66% do delirium não é diagnosticado, sendo, desta forma, erradamente tratado, acarretando consequências.
Desta forma, foi definida como questão de investigação: Qual a perceção de enfermeiros a exercer funções numa unidade de cuidados intensivos sobre a avaliação do delirium à pessoa em situação critica? Os objetivos do estudo são descrever a perceção dos enfermeiros a exercer funções numa unidade de cuidados intensivos (UCI) sobre a avaliação do delirium à pessoa em situação critica; identificar registos de avaliação sobre o delirium; identificar as intervenções desenvolvidas pelos enfermeiros em situação de delirium; identificar dificuldades percebidas pelos enfermeiros na avaliação do delirium à pessoa em situação crítica e identificar estratégias de melhoria propostas pelos enfermeiros para a avaliação do delirium à pessoa em situação crítica.
Procedeu-se a um estudo de caso descritivo com abordagem qualitativa e recurso a uma entrevista semi-estruturada a doze enfermeiros de uma UCI e a um guião para recolha de registos efetuados pelos enfermeiros sobre a existência de avaliação de delirium. Os dados foram analisados recorrendo à técnica de análise de conteúdo segundo Bardin.
Como principais resultados podemos realçar que os enfermeiros têm uma perceção baseada nas suas experiências prévias e individuais sustentada na sintomatologia e comportamentos dos doentes e pouco sustentada em conhecimento científico. Não fazem menção da existência de delirium nos registos escritos, não existindo qualquer registo sobre o mesmo. Referem a inexistência de dotações seguras, a subvalorização do delirium, a dificuldade na comunicação com o doente e a inexistência de instrumentos de avaliação como as principais dificuldades na avaliação, mencionando
a otimização do trabalho em equipa, a implementação de um instrumento de avaliação e a formação como as estratégias primordiais para a valiação do delirium. Identificam algumas características inerentes à UCI como fatores modificáveis à incidência do delirium sobretudo na prevenção do mesmo, como a luminosidade, ruído, a infra-estrutura e determinados equipamentos promotores da orientação.
Podemos destacar como principais conclusões que o delirium é uma alteração multifactorial, cada vez mais frequente e constante, subdiagnosticado na UCI não sendo tratado adequadamente. Como tal, a monitorização do delirium constitui uma necessidade emergente de forma ao delirium ser identificado, monitorizado e avaliado, adotando-se intervenções adequadas, sustentadas e eficazes para o tratar mas sobretudo para o prevenir, aumentando os ganhos, em saúde e económicos.