A influência da inteligência emocional enquanto fator de proteção do stress: Que especificidades nos profissionais de saúde?

Publication year: 2019

A globalização da economia, as reduções e os ajustes nas estruturas organizacionais, conduzem a desafios tanto para as empresas como para os seus colaboradores, nomeadamente as que prestam serviços de saúde. Neste contexto, os estudos empíricos assinalam um impacte positivo da inteligência emocional (IE) na gestão de pessoas, com maior expressão nos cuidados de saúde. Assim, pretende-se com esta investigação explorar a relação entre a inteligência emocional e o stress nos trabalhadores, em especial nos profissionais de saúde. Realizou-se um estudo empírico, transversal (cross-sectional) e não-experimental, constituiu-se uma amostra não probabilística por redes de 874 trabalhadores de diferentes grupos de atividade profissional (154 profissionais de saúde). Aplicou-se o questionário que inclui três escalas: Escala de Inteligência Emocional (Rego, Sousa, Pina e Cunha, Correia, & Saur-Amaral, 2007), Escala do Stress Percebido (SP) (Chioda, Dias, Silva, Marôco & Duarte, 2013), Escala do Capital Psicológico (Luthans, Youssef, & Avolio, 2007) e Escala de Espiritualidade Organizacional (Rego, Souto, & Cunha, 2007). A escala de IE globalmente apresenta bons índices de ajustamento [?2/df = 3.965; NFI =.923; RMSEA = .055; ? = .84; ?X=5.11 (?= .63)] e a escala de SP também apresenta globalmente valores toleráveis dos índices de ajustamento [?2/df = 4. 045; NFI = .953; RMSEA= .059; ? = .82; ?X = 1.79 (? = .51)]. Nos profissionais de saúde, considerando as escalas globais de IE e SP obtivemos os valores IE [?X = 5.11 (? = .65)] e SP [?X = 1.81 (? = .46)]. Nas outras categorias profissionais, considerando as escalas globais de IE e SP obtivemos os valores de IE [?X = 5.11 (? = .63)] e SP [?X = 1.77 (? = .51)]. Em ambas categorias profissionais as variáveis sociodemográficas não exercem uma influência que se considere que tenha impacte na IE ou no SP. Os resultados sustentam empiricamente uma relação negativa entre a inteligência emocional e o stress percebido nos trabalhadores. A relação entre a Escala global de IE e a de SP é estatisticamente significativa e negativa tanto na amostra total (r=-.41), como nos profissionais de saúde (r=-.49) e também nas outras categorias profissionais (r=-.40). Verificámos que o teste multivariado indicou a inexistência de diferenças globais ao nível da IE entre profissionais de saúde e outras categorias profissionais [? de Wilks = 0.990, F (6, 867) = 1.43, p = .201]. No teste de diferença de magnitude dos coeficientes de correlação entre a IE e o SP verificámos a existência de correlações negativas significativamente mais elevadas nos profissionais de saúde [r = - .49; R2 = 24%; p < .01] em relação aos outros profissionais saúde [r = - .40; R2 = 16%; p < .01], entre o SP e a escala global da IE, apontando para uma probabilidade de 24% de a inteligência emocional atuar como buffer effect no SP nos profissionais de saúde comparativamente aos 16% em outros profissionais. Concluímos, assim, que a inteligência emocional apresenta uma relação negativa no stress percebido, apresentando maior magnitude nos profissionais de saúde. As implicações deste estudo sugerem que os resultados alcançados poderão concorrer para uma maior sensibilização de gestores e líderes, para a necessidade de implementação de ações organizacionais que promovam o desenvolvimento da IE.