Publication year: 2018
Enquadramento Teórico:
A sociedade atual está a ser marcada por conflitos, guerras, desequilíbrios socioeconómicos, violência, pobreza, fome, exploração, obrigando à migração forçada além-fronteiras. Segundo a Organização das Nações Unidas, em 2017, em todo o mundo, 68,5 milhões foram forçadas a abandonar os seus haveres por questões de sobrevivência. Por esta razão, a Europa está a receber um afluxo de requerentes de asilo sem precedentes. Esta migração forçada tem um elevado impacto na saúde física e mental de adultos e crianças, sendo estas últimas as que mais sofrem com o deslocamento, daí a saúde mental das crianças estar na agenda do dia de organismos internacionais. De acordo com o International Council of Nurses, os enfermeiros são um fator-chave nas respostas em saúde destas populações, especialmente na área de saúde mental. Por isso, este estudo propõe-se a estudar os factores de vulnerabilidade e de proteção em saúde mental de crianças requerentes de asilo a viverem num campo de refugiados. O estudo destes fatores é essencial para a construção de programas específicos de promoção de saúde mental que possam ser implementados por enfermeiros especialistas.
Metodologia:
Estudo de abordagem qualitativa, exploratório descritivo, realizado no Campo de Refugiados de Kara Tepe, Ilha de Lesbos, Grécia. Compreende uma colheita de dados integrada no método etnográfico, incluindo observação participante e entrevistas semiestruturadas. A amostra de 8 pessoas incluiu profissionais de educação, voluntários e crianças com mais de 15 anos, residentes no Campo de Refugiados de Kara Tepe, com autorização legal de responsáveis legais. Os dados foram transcritos, traduzidos e analisados por meio de análise temática indutiva.
Resultados:
Da análise dos dados colhidos emergem como factores de vulnerabilidade em saúde mental nas crianças requerentes de asilo: Experiências Traumáticas; Dificuldade de Expressão Emoções; Perda dos Referências Identitários; Sentimentos de Abandono e Solidão; Condições Atuais de Vida nos Campos de Refugiados; Falta de Perspetivas para o Futuro. Como fatores de proteção em saúde mental emergem as seguintes categorias:
Esperança e Resiliência; Educação Formal e Não-Formal; Ambiente de Segurança e Proteção.
Conclusões:
As crianças requerentes de asilo a viver em Kara Tepe apresentam um número maior de condicionantes negativas face às múltiplas e simultâneas transições que estão a vivenciar. Por essa razão, algumas já apresentam manifestações de sofrimento mental e, outras, têm elevada probabilidade de desenvolver perturbações da saúde mental. O enfermeiro especialista em saúde mental pode providenciar intervenções adequadas para ajudar estas crianças e familiares na aquisição de competências que os ajudem a incorporar novos conhecimentos e a alterar comportamentos para lidar com a situação de transição.