Vivências dos doentes e familiares após enfarte agudo do miocárdio

Publication year: 2017

O Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) é uma doença que ocorre frequentemente de forma súbita e grave, com necessidade de internamento numa Unidade de Cuidados Intensivos Coronários (UCIC). Apesar de os tratamentos serem cada vez mais eficazes, evitando a morte, urge cada vez mais dar resposta a um conjunto mais vasto de necessidades que favoreçam a adaptação do doente à sua nova situação de saúde. Verifica-se ainda que a família continua a ser algo negligenciada neste processo de transição. Alguns estudos têm analisado as suas vivências, mas nenhum estudo analisou ainda as vivências de doentes e familiares de forma conjunta. O objetivo deste estudo foi compreender as vivências dos doentes com EAM e dos seus familiares relativamente à doença, ao internamento numa UCIC e ao regresso a casa. Delineou-se uma pesquisa qualitativa, com recolha de informação através de entrevistas semiestruturadas, realizada a doentes com EAM internados pela primeira vez na UCIC e a seus familiares (diretos ou de aproximação), selecionados por amostragem intencional e entrevistados, no mínimo, três meses após o regresso a casa. Para a análise de dados recorreu-se à técnica de análise de conteúdo, do tipo temático e frequencial (Bardin, 2007). Participaram 6 doentes e 6 familiares, com igual distribuição em termos de género.

Emergiram duas categorias principais de vivências:

referentes ao período durante a hospitalização e após a mesma. Durante a hospitalização, salientaram-se como subcategorias: a "Perceção da doença", com uma sensação de morte eminente, dada a elevada intensidade da dor, que surgiu de forma inesperada, mas evoluiu favoravelmente; a "Perceção da UCI", com sentimentos duais de medo e segurança, momentos em que se elevou a importância dos enfermeiros no acompanhamento e educação prestada e onde foi sentida a necessidade de mais tempo de visita; os "Sentimentos", vividos de forma similar por doentes e familiares, destacando-se o medo da morte, ou a angústia, mas também a felicidade por ver o familiar. Após o internamento, as vivências continuam a ser marcadas pelo alívio pelo desfecho positivo ainda que contrabalançado pelo medo de uma recidiva. Relevantes foram sobretudo as "Mudanças no estilo de vida", nomeadamente as alterações dos hábitos alimentares, tabágicos, de exercício físico e de adesão terapêutica. As relações familiares saíram também reforçadas. Deste estudo ressalvou-se, em síntese, que doentes com EAM e seus familiares vivem um processo de transição similar, quer em termos de intensidade, quer em termos de repercussões. Naturalmente que existem diferenças, desde logo o tipo de dor sentida, mas são mais as semelhanças do que as diferenças. Os enfermeiros foram referidos como muito importantes em todo o processo, tanto por proporcionarem um sentimento de segurança como por prepararem o regresso a casa e a uma nova vida, com novos hábitos.