Fatores desencadeantes de stresse em sala de emergência
Publication year: 2018
Nos Serviços de Urgência (SU) portugueses, está legislado que têm de estar presentes vários espaços físicos, entre eles a Sala de Emergência (SE), que recebe todo o doente em situação crítica, isto é, aquele cuja vida está em perigo e que a sobrevivência está dependente de meios avançados de monitorização, vigilância e terapêutica. Assim, compreende-se que o enfermeiro, a desempenhar funções neste espaço, tem de possuir competência para prestar cuidados de enfermagem ao doente crítico, ou seja, conhecer a situação, prevenir complicações e intervir em tempo útil. Por tudo isto, percebe-se que é um local onde o enfermeiro, naturalmente, pode estar exposto a fatores indutores de stresse. Assim sendo, este estudo tem como objetivos, avaliar a perceção de stresse por parte do enfermeiro na sala de emergência, quais os fatores e os tipos de ambiente indutores do mesmo.
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, do tipo exploratório e transversal. Foi utilizado um questionário a todos os enfermeiros que desempenham funções na sala de emergência, constituído por duas partes: a primeira com a caracterização sociodemográfica e profissional e a segunda com a Escala de Stress Profissional em Enfermeiros (ESPE) (Santos & Teixeira, 2008). A amostra foi constituída por 85 enfermeiros.
Os resultados revelam que a carga de trabalho, a morte e sofrimento, a preparação inadequada e a incerteza nos tratamentos foram os fatores considerados como fontes mais potenciadoras de stresse nos enfermeiros. O ambiente físico e o ambiente psicológico são dimensões com maior potencial para gerar stresse nos enfermeiros. Os enfermeiros com menos idade e os que desempenharam uma atividade no Serviço de Medicina Intensiva (SMI) manifestam maior perceção de stresse face aos conflitos com os médicos; os que desempenham a sua atividade há mais tempo e os que estão há mais tempo no atual SU apresentam uma menor perceção de stresse na dimensão conflitos com os médicos; os pós-graduados em urgência/emergência patenteiam uma menor perceção de stresse na dimensão morte e morrer. Existem diferenças significativas na perceção do stresse em função da zona de residência, designadamente na dimensão morte e o morrer, sendo os enfermeiros residentes em meio urbano os que apresentam uma maior perceção de stresse. As mulheres manifestam uma maior perceção de stresse, particularmente face à incerteza dos tratamentos.
Os resultados obtidos sugerem a implementação de medidas que contribuam para a diminuição dos níveis de stresse, para uma melhor qualidade do cuidar em enfermagem, nomeadamente a criação de espaços de partilha entre os enfermeiros, servindo de base para o delineamento de mecanismos de coping que os ajudem a enfrentar as situações geradoras de stresse, o que implica o reforço de canais de comunicação, formação de dinâmicas de grupo, dando-se corpo a atividades de Team Building, isto é, através das quais os enfermeiros, em parceria, possam ser proativos, oferecendo-se, deste modo, propostas de construção de um agir profissional capaz de potenciar cuidados de saúde de qualidade; reforço das redes de apoio dentro da própria organização hospitalar a fim de se poder reavaliar positivamente as fontes de stresse dos enfermeiros, com o objetivo de se combater o impacte negativo dos fatores de stresse, de modo a que os mesmos consigam enfrentar as situações indutoras de stresse de forma positiva e que sejam capazes de enfrentar o seu quotidiano profissional com bem-estar físico e emocional.