Publication year: 2018
A violência nas relações de intimidade (VRI) pode surgir na adolescência e durante a
vida adulta, é um grave problema de saúde pública que apresenta elevada prevalência e
os seus efeitos na saúde das vítimas / sobreviventes podem perdurar durante toda a vida.
A necessidade de programas de prevenção primária é uma realidade que preocupa as
entidades sociais e de saúde, de modo a eliminar este tipo de violência e a diminuir as
consequências na vida adulta (OMS, 2012).
Este estudo visa analisar a perceção dos profissionais de saúde de cuidados de saúde
primários sobre a violência nas relações de intimidade entre adolescentes à luz de
género e geração. Foi realizado um estudo exploratório e descritivo, de abordagem
qualitativa. Os dados foram colhidos através de grupos focais, em que participaram sete
profissionais de saúde de um centro de saúde da região centro de Portugal, em abril de
2016. A análise foi realizada segundo o modelo qualitativo.
Foram salvaguardados
todos os procedimentos éticos e legais e o estudo teve parecer favorável da Comissão de
Ética da UICISA:
E da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Os resultados evidenciam que os profissionais de saúde consideram não haver violência
nos adolescentes na sua comunidade, mas depois de refletirem em grupo até ponderam
que possa existir. Apresentam propostas de mudança nas suas intervenções e referem a
necessidade de ter mais tempo no atendimento dos seus utentes para que possam
identificar situações de VRI nos adolescentes. Foi ainda referida a necessidade de uma
equipa mais diferenciada no centro de saúde, nomeadamente uma psicóloga, o que não
se verifica. Referem ainda a inexistência de uma equipa multidisciplinar que trabalhe de
forma articulada entre as escolas e o centro de saúde com respostas atempadas.
Salientam ainda a falta de recursos materiais e a organização nos cuidados oferecidos no
centro de saúde, nomeadamente a falta de um horário específico e um espaço adequado
de atendimento para os adolescentes, de modo a que possam expor os seus problemas
sem ser no contato com outros utentes.
Os profissionais de saúde salientam ainda a falta de formação sobre VRI com
formadores / profissionais diferenciados sobre a violência e manifestam a falta de
motivação e valorização do seu trabalho. Estes resultados são convergentes com os
apresentados com a literatura.
Em conclusão, parece-nos poder referir que os profissionais de cuidados de saúde
primários, reconhecem que ainda não estão a responder às necessidades dos
adolescentes relacionadas com VRI, quer na prevenção primária, quer na identificação
precoce. Para isto influencia a falta de formação, a organização dos cuidados prestados
no centro de saúde e a necessidade de trabalho em rede, especialmente com as escolas.
Sugere-se mais formação para os profissionais de saúde sobre VRI, com destaque para
estratégias de prevenção primária, realizada em rede comunitária e com recurso ao
modelo ecológico. Os especialistas em enfermagem de saúde materna e obstetrícia
podem ser um recurso de proximidade junto das equipas de saúde, quer liderando
processos formativos, quer coordenando intervenções para prevenir a VRI entre
adolescentes, de modo a promoverem relações de intimidade saudáveis.