Gestão de material clínico de bolso por enfermeiros: Fatores determinantes e avaliação microbiológica
Publication year: 2017
A garantia dos padrões de qualidade e segurança na prestação de cuidados afigura-se
como um pilar basilar da enfermagem. O material clínico utilizado na prestação de
cuidados pode ficar contaminado com matéria orgânica ou agentes infeciosos e, de
forma indireta, contribuir para a sua transmissão cruzada. Pretende-se compreender a
gestão de material clínico de bolso realizada por enfermeiros nos serviços de medicina
interna de um hospital da região centro de Portugal, relacionar fatores inerentes à
gestão realizada e avaliação microbiológica.
Trata-se de um estudo de carácter descritivo-correlacional e transversal. A população
alvo corresponde a todos os enfermeiros que prestem cuidados diretos a utentes no
contexto visado. Os dados foram analisados no IBM SPSS Statistics versão 20.
A colheita incluiu 50 enfermeiros e 383 observações de material de bolso.
Relativamente à gestão do material clínico de bolso, partilham-no com outros
enfermeiros (90%), médicos (52%) e assistentes operacionais (40%). Reutilizam-no
entre utentes e durante procedimentos/técnicas complexas. No que concerne aos
hábitos de higienização destes materiais, 77,6% desinfeta-o, embora que destes
apenas 14% o limpe antecipadamente. Verificou-se a falta de formação no âmbito da
prevenção e controlo de infeções (42%) e falta de acesso/conhecimento de diretrizes
institucionais nesta temática (82%).
Das 100 amostras recolhidas de diferentes materiais clínicos de bolso, 53%
apresentaram pelo menos uma unidade formadora de colónia/ml. Foram identificadas
com maior representatividade colónias de Staphylococcus coagulase positivos (32%) e
negativos (27%), variando entre 1,0x101 UFC/mL e superior a 1,5×103; assim como
Enterococcus spp. (8%) entre 1,0x101 UFC/mL e 8,0x102 UFC/mL.
Relativamente aos Staphylococcus isolados, 66,6% eram S. aureus resistentes à
meticilina. Verificou-se a existência de associação estatisticamente significativa entre a
incidência microbiológica a nível do material clínico de bolso, mãos dos enfermeiros e
a sua farda clínica (p = 0,016 e p = 0,010, respetivamente).
Os resultados apresentam significado, tanto para a instituição e unidades visadas,
como para enfermagem, evidenciando a competência, responsabilidade ética e função
técnica dos enfermeiros na gestão de material clínico de bolso. Porém, ressalta a necessidade de replicação do estudo, noutros contextos clínicos, de
modo a comparar resultados e produzir diretrizes que colmatem as lacunas
testemunhadas.