Persistir coletivamente no cuidado: movimentos heterogêneos na prática de trabalhadores de enfermagem em psiquiatria e saúde mental

Publication year: 2021

A produção de uma nova forma de cuidar em saúde mental convoca a Enfermagem, enquanto uma Instituição, a olhar para suas práticas nos espaços onde elas são produzidas, ou seja, durante a intervenção, na elaboração do cuidado. Nesse sentido, os hospitais psiquiátricos são estabelecimentos em que há uma realidade que mantém elementos extra hospitalares provenientes da Reforma Psiquiátrica associados às práticas que deram forma à psiquiatria exercida nos séculos XVII e XVIII. Nesse contexto, a Instituição Psiquiatria, assim como outras instituições, atravessa as práticas dos profissionais do campo da saúde. Contudo, aos profissionais de Enfermagem cabe a incumbência do papel reprodutor de práticas e modos instituídos. Entretanto, considera-se que no momento do cuidado existe um conhecimento que vem da experiência, passa pelo corpo, e se expressa sempre de modo singular, e, portanto, não pode ser previamente capturado. Aqui, neste trabalho, se faz uma aposta na porosidade no ato de cuidar, fazendo surgir experiências de cuidado centrado naquilo que passa e acontece entre o corpo do profissional e o do usuário nesses estabelecimentos. É nessa perspectiva que me proponho a explorar os movimentos de uma Enfermagem produtora de ações e de modos de funcionamento múltiplos que atravessam as instituições e os seus regimes de verdades no interior de um hospital psiquiátrico, compondo uma clínica específica, que parece ser difícil de expressar e de ser transmitida. Desse modo, considerando os desafios do cuidado em saúde mental, construímos para este estudo o objetivo de compreender a prática dos trabalhadores de Enfermagem, em um hospital psiquiátrico, a partir dos atravessamentos institucionais presentes no cotidiano do cuidado. Optamos pela pesquisa intervenção pelo seu caráter político de busca das transformações, no interrogar das ações e sentidos nas instituições e utilizamos como referencial teórico-metodológico a Análise Institucional na perspectiva da Socio-clínica Institucional. Durante o processo de intervenção, foram criados três dispositivos para os encontros de sessão de grupo: Histórias em quadrinhos; Tenda do Conto e Grupo de Discussão. Foram 8 encontros, totalizando a participação de 30 trabalhadores de Enfermagem. Restituímos aos profissionais as informações que puderam ser retiradas dos encontros, através de 7 encontros. Utilizamos os conceitos da Análise Institucional e da Socio-clínica para guiar e compreender o processo, assim como para análise dos dados. Os resultados evidenciaram o uso de si, na produção de um cuidado único. O acúmulo de experiência desses trabalhadores passa pelo corpo, se materializa em arranjos que fazem com que, muitas vezes, coloquem os seus próprios corpos à disposição do cuidado. Outros resultados encontrados referiram-se sobre o impacto da pandemia do COVID-19, na prática desses profissionais, que teve início no Brasil no mês de março de 2020. A pandemia se revelou como um analisador da dinâmica hospitalar. Na sequência, apontamos a análise da encomenda e demanda importantes para a entrada no campo e, por fim, pudemos colocar em análise as implicações primárias e secundárias da pesquisadora, a partir da identificação do seu modo de relação com as Instituições que atravessam o campo e apontam para uma clínica fluida e com capacidade de sustentar a desorganização mental dos pacientes, produzindo um território sólido entre o usuário e o profissional. Conclui-se que na cena do cuidado com o corpo dos profissionais de Enfermagem é tomado na sua plenitude, como um corpo nas suas múltiplas dimensões, funcionando como verdadeiros sensores especiais capazes de captar infinitas possibilidades de sinais, subsidiando um manejo singular durante o cuidado. Um corpo que se apresenta como prática, ligada à experimentação numa trama de forças que se faz presente de modo não funcional, promovendo “furos no muro” das práticas instituídas no interior do hospital psiquiátrico.
The production of a new way to care for in mental health demands from nursing, as an Institution, a look at its practices where they are developed, that is, during the intervention, in the development of care. In this regard, psychiatric hospitals are establishments in which there is a reality which maintains extra-hospital elements from the Psychiatric Reform associated with practices that shaped psychiatry in the 17th and 18th centuries. In this context, the Psychiatry Institution, like other institutions, crosses the practices of professionals in the health field. It is up to Nursing professionals, in a delicate way, to reproduce the established practices and modes. However, it is considered that at the moment of care there is knowledge that comes from experience, passes through the body, and is always expressed in a unique way, and therefore cannot be previously captured. In this work, there is a bet on porosity in the act of caring, giving rise to care experiences based on what happens between the body of the professional and the patient in these establishments. It is in this perspective that I propose to explore the movements of a Nursing that produces actions and multiple modes of functioning that pass through institutions and their regimes of truths inside a psychiatric hospital, composing a specific clinic, which seems to be difficult to express. and to be transmitted. Thus, considering the challenges of mental health care, we built for this study the objective of understanding the practice of Nursing workers in a psychiatric hospital, from the institutional crossings present in the daily care. We opted for intervention research because of its political character of seeking transformations, in questioning the actions and meanings in institutions, and we used Institutional Analysis as a theoretical-methodological framework from the perspective of the Institutional Socio-clinical. During the intervention process, three devices were created for the group session meetings: Comics; Tale Tent and Discussion Group. There were 8 meetings, totaling the participation of 30 Nursing workers. We returned to professionals the information that could be taken from the meetings, through 7 meetings. We use the concepts of Institutional Analysis and Socio-clinical Analysis to guide and understand the process, as well as for data analysis. The results showed the use of self, in the production of a unique care. The accumulation of experience of these workers passes through the body, materializes in arrangements that often make them put their own bodies at the disposal of care. Other results found referred to the impact of the COVID-19 pandemic, in the practice of these professionals, which began in Brazil in March 2020. The pandemic revealed itself as an analyzer of hospital dynamics. Next, we point out the analysis of the order and demand that are important for entering the field and, finally, we were able to analyze the researcher's primary and secondary implications, from the identification of her way of relationship with the Institutions that cross the field and point to a fluid clinic and capable of sustaining the mental disorganization of patients, producing a solid territory between the user and the professional. It is concluded that in the care scene, the body of Nursing professionals is taken in its fullness, as a body in its multiple dimensions, functioning as true special sensors capable of capturing infinite possibilities of signals, subsidizing a unique handling during care.