Cuidados centrados no desenvolvimento do recém-nascido prematuro: Estudo sobre as práticas em unidades neonatais portuguesas
Publication year: 2015
A prematuridade é um fenómeno relevante na avaliação dos indicadores de saúde perinatal e, apesar dos avanços ao nível dos cuidados neonatais, mantém-se associada a um maior risco de comprometimento neurodesenvolvimental. Considerando a importância de cuidados de saúde seguros e de qualidade para o recém-nascido prematuro (RNP) e sua família, as práticas, baseadas em evidências, de cuidados centrados no desenvolvimento (CCD) são cada vez mais reconhecidas como uma necessidade emergente em unidades de cuidados neonatais (UCN). Contudo, estudos internacionais confirmam a inconsistência dessas práticas, havendo necessidade de conhecer o fenómeno na realidade portuguesa.
Assim, este estudo teve como objetivos analisar a frequência da aplicação das medidas centrais dos cuidados desenvolvimentais ao RNP em UCN e saber, ainda, se existe relação entre a frequência da aplicação destas medidas e variáveis das UCN/institucionais.
Neste sentido, foi realizado um estudo quantitativo, do tipo descritivo-correlacional. Recorrendo à técnica de amostragem não probabilística por redes, obteve-se uma amostra de 217 enfermeiros, com exercício de funções em UCN portuguesas, que responderam ao questionário “Quantum Caring Practice Self-Assessment” (traduzido e validado), disponível online durante dois meses.
Os resultados revelaram que, em UCN portuguesas, as medidas centrais dos cuidados desenvolvimentais ao RNP são realizadas, mas não com a frequência recomendada. A maioria dos enfermeiros (65,4%) perceciona que as práticas de CCD são realizadas apenas “às vezes” e há ainda uma percentagem de 14,3% de enfermeiros que considera que raramente são concretizadas. Somente 18,9% dos enfermeiros inquiridos considera que a sua prática é feita de forma frequente. Os resultados demonstraram ainda que a frequência da aplicação destes cuidados difere, significativamente (p<0,05), consoante a área de localização geográfica das UCN, revelando-se mais elevada na Regiões Autónomas e menos na Região Centro. A frequência é, significativamente, mais elevada nas UCN com maior nível de diferenciação de cuidados e que têm instituído um programa/protocolo específico de CCD.
Concluindo, a prática de CCD não está a ser implementada de forma consistente em UCN portuguesas, apesar de ser exequível. A melhoria da aplicação dos CCD exige uma mudança global na cultura e comportamento da equipa multidisciplinar, mais formação e investimento organizacional nesta área.