Opiniões, expetativas e satisfação com a autonomia nos processos de transição saúde-doença: Estudo observacional com doentes e profissionais de saúde
Publication year: 2015
O doente tem o direito à sua autonomia no processo de cuidados. Tem o direito a tomar
as suas decisões, de forma livre e consciente, sobre as intervenções que lhe são
prestadas durante os processos de transição saúde-doença. Contudo, o respeito por este
direito não é uma constante na atualidade, parecendo haver ainda algumas barreiras, que
têm sido descritas ao longo da evolução do conceito de autonomia como o paternalismo
dos profissionais, a escassez de informação e a posição vulnerável do doente face à
situação de saúde.
Este estudo tem como objetivos descrever as opiniões, expetativas e satisfação dos
doentes com o exercício da autonomia nos processos de transição saúde-doença e
descrever a perceção dos profissionais de saúde em relação às mesmas opiniões,
expetativas e satisfação dos doentes com o exercício da autonomia.
É um estudo quantitativo, transversal, do tipo observacional, descritivo-analítico, de
nível I. Entre outubro e dezembro de 2014, nos serviços de internamento do
departamento de medicina e cirurgia de um hospital da zona centro, foram colhidos
dados por questionário junto de 81 doentes e 143 profissionais de saúde (enfermeiros e
médicos), recrutados de forma não probabilística.
De acordo com os objetivos traçados, destacamos os principais resultados:
- A maioria dos doentes expressa níveis elevados de importância e satisfação em relação
aos direitos inerentes ao exercício da autonomia: direito à informação e ao
consentimento informado. Já os profissionais de saúde percecionam que os doentes
atribuiriam níveis menos elevados. As diferenças encontradas são estatisticamente
significativas (p<.05) na sua maioria;
- Tanto os doentes como os profissionais de saúde referem que aspetos inerentes às
características dos interlocutores, ao modo de comunicar e ao contexto podem melhorar
o processo de comunicação e informação ao doente. Permanecem em concordância
quando referem mais vezes o contexto da comunicação como aspeto a ser melhorado;
- Algumas terapias médicas e de enfermagem não foram objeto de consentimento por
parte dos doentes; a maioria dos doentes refere não ter recusado nenhum tratamento
com base na informação recebida. Os profissionais de saúde percecionam de forma
semelhante esta situação;
- Os doentes não conhecem as diretivas antecipadas de vontade; 65% dos doentes
permitiriam medidas invasivas em caso de agravamento da situação de saúde e 40% não
têm opinião formada. Os profissionais de saúde conhecem as diretivas antecipadas de
vontade, na sua globalidade, mas ainda não estão enraizadas nesta comunidade;
desconhecem os desejos dos doentes a quem prestaram cuidados no que concerne ao
recurso a medidas invasivas caso o estado de saúde se agravasse. Ambas as amostras
delegariam no cônjuge a tomada de decisão.
No final fica a perceção de que muito trabalho há ainda a fazer no sentido de maior
autonomia dos doentes, assim como espaço para mais e mais profundas investigações.