Barreiras à utilização de sacarose no alívio da dor em pediatria
Publication year: 2015
O alívio da dor em pediatria é um tema muito debatido e investigado nos últimos anos,
que envolve questões éticas e humanitárias. Contudo, apesar da existência de
orientações e normas neste contexto, a prática clinica não está ainda de acordo com as
recomendações actuais. A sacarose é uma intervenção de alívio da dor que pode ser
utilizada em procedimentos dolorosos, tendo sido já confirmada a sua eficácia até ao
primeiro ano de idade. Contudo, a sua utilização continua a ser inferior ao ideal.
Com o objetivo de perceber quais as barreiras à utilização da sacarose no alívio da dor
em procedimentos dolorosos foi realizado um inquérito a uma amostra de 131
enfermeiros de um hospital pediátrico. Os enfermeiros foram questionados quanto às
suas práticas e conhecimentos na administração da sacarose. Procurou-se também
desvendar quais as barreiras percebidas pelos próprios enfermeiros à utilização da
sacarose em procedimentos dolorosos.
Os resultados mostram que os enfermeiros referem não utilizar a sacarose
frequentemente (10,7% ?quase nunca? e 6,1% ?nunca?). Relativamente aos registos
desta intervenção, 38,5% dos enfermeiros quase nunca registam e 37,7% nunca fazem
esse registo. A punção venosa é o procedimento em que os enfermeiros referem utilizar
a sacarose com maior frequência (97,4%) sendo que noutros procedimentos essa
percentagem é muito mais reduzida. Referem utilizar a sacarose até ao primeiro ano de
vida 33,3% contudo 25,4% assumem utilizar apenas até aos 3 meses e 34,1% até aos
6 meses. Relativamente ao teste de conhecimentos, nenhum enfermeiro respondeu
correctamente à sua totalidade sendo que a classificação média foi de 3,4 valores (entre
0 a 8). As principais razões pelas quais os enfermeiros referem não utilizar a sacarose
foram a utilização de EMLA® (35,4%), não ser eficaz numa situação específica (26,0%)
e não ter tempo para utilizar (15,3%). Além destes aspectos referiram ainda o factor
esquecimento como uma razão frequente (13%). As barreiras que estes enfermeiros
percepcionam para a não utilização desta intervenção em procedimentos dolorosos
estão relacionadas com a organização do serviço (25,2%), o esquecimento (20,6%) e
as necessidades formativas (18,3%).
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Em conclusão, os resultados indicam que a sacarose não é utilizada com a frequência
desejada e existem ainda importantes lacunas no conhecimento sobre a sua utilização.
Deverão, pois, ser delineadas estratégias com o objectivo de tentar introduzir uma
mudança a nível dos conhecimentos e habilidades dos enfermeiros, nos valores e na
organização dos serviços.