Razões para viver, resiliência e depressão nos desempregados da região de Leiria

Publication year: 2015

A crise económica, iniciada em 2007, na Europa, continua a representar grandes desafios para o Comité Económico e Social Europeu, para a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e para a Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta nova realidade resultou em significativos declínios na economia, aumento do desemprego, recessão dos mercados de habitação e um número crescente de pessoas que vivem em situação de pobreza. Relativamente a Portugal, desde 2011, que a situação económica desfavorável se tem agravando, refletindo-se em taxas de desemprego elevadíssimas (17,7% em 2013) e na tomada de medidas de austeridade económica severa, com cortes sucessivos na saúde e no apoio social. A taxa de desemprego, no 1º trimestre de 2014, atingiu 15,1% o que corresponde a 788,1 mil de pessoas sem emprego. Apesar de no 2º trimestre este valor ter descido para 13,9% as 728,9 mil de pessoas sem trabalho, continua excessivamente alto. Consideramos pertinente realizar este estudo para caraterizar a população desempregada da região de Leiria e os efeitos do desemprego na saúde mental, nomeadamente razões para viver, resiliência e depressão, assim como a vulnerabilidade para comportamentos suicidários. A amostra deste estudo corresponde a 207 desempregados com idades compreendidas entre os 18 e os 62 anos. Os dados foram recolhidos no 1º trimestre de 2014, tendo os mesmos sido analisados com a intenção de estudar as relações entre as variáveis sociodemográficas e razões para viver, resiliência e depressão. Este estudo é um estudo exploratório, transversal, do tipo quantitativo, de nível descritivo e correlacional, não probabilístico. A amostragem foi obtida por conveniência através do método bola de neve, através do preenchimento de um questionário, constituído por questões de caracterização sociodemográfica e três instrumentos de avaliação: ?Inventário de Razões para Viver?; ?Escala de Resiliência? e ?Inventário Depressivo de Beck?. Nos desempregados predomina o sexo feminino (66,7%) com a idade média de 35,21 anos; solteiro(a) (47,30%), com um ou mais filhos (53, 60%). A maioria vive com a família; em casa própria (39,60%) com o ensino básico. O maior número de elementos procura emprego (88,90%), há um ano ou mais (50,80%); 54,40 % e não recebe subsídio de desemprego. Maioritariamente (90%) consideram que enfrentam dificuldades económicas, sendo que 36,30% tem empréstimos bancários, sendo o crédito de habitação o mais referido. A situação de doença é também referida por 23,20% da amostra, constatando-se que 4,35 % tem depressão diagnosticada. 19,10% pratica de forma assídua uma religião e consideram boa a sua rede de suporte social, destacando como mais importantes a família, amigos e vizinhos. Salientamos que consideram ter razões para viver apesar de apresentarem baixa resiliência e um terço da amostra (35,30 %) apresenta depressão, correspondendo a depressão leve (23,55%), moderada (8,30%) e grave (3,45%). Constatámos que as pessoas que vivem sozinhas que estão desempregadas há mais tempo e as que têm dificuldades económicas apresentam maiores níveis de depressão, sendo que pessoas com dificuldades económicas têm menos Crenças de Sobrevivência e Mecanismos de Adaptação e Objeções Morais. Consequentemente as pessoas com melhor rede de suporte social apresentam menores níveis de depressão. Referente às habilitações literárias foram encontradas diferenças entre o ensino superior e o ensino básico, dado que maiores habilitações literárias (ensino superior) correspondem a menos resiliência (na dimensão ?Aceitação do Self e da Vida?). No final propomos medidas de intervenção de apoio social e Saúde Mental na população desempregada, atendendo que é uma população de risco para a depressão e consequentemente com maior vulnerabilidade para os comportamentos suicidários.