O cuidado ao doente terminal num hospital de agudos da Região Autónoma da Madeira: Um contributo para os cuidados paliativos

Publication year: 2015

O trabalho realizado teve como objetivo principal analisar a perceção dos enfermeiros sobre o tipo de cuidados prestados a doentes paliativos, em fase de deterioração ou terminal, num hospital de agudos, com a finalidade de constituir uma oportunidade para a implementação e disseminação de cuidados paliativos. Este emergiu da preocupação e necessidade sentidas face a esta temática, uma vez que o hospital continua a ser o local onde a maioria dos doentes morre, num cenário desadequado, onde a morte por vezes não é aceite e de difícil compreensão face ao impacto emocional causado. Tratou-se de um estudo de cariz exploratório e descritivo baseado no paradigma qualitativo. O instrumento de colheita de dados utilizado foi a entrevista semi-dirigida, aplicado a uma amostra de sete enfermeiros de um serviço de internamento de adultos do Hospital Central do Funchal, selecionados de forma aleatória por conveniência. O tratamento de dados foi realizado de forma aberta ou exploratória, procedendo desta forma à categorização no final da operação. A apresentação dos resultados da análise do conteúdo das entrevistas, orientou-se pelas áreas temáticas, suas categorias e respetivas sub-categorias, implícitas nas questões respeitantes: à perceção dos enfermeiros acerca do conceito de doente paliativo; às necessidades do doente paliativo em fase de deterioração ou terminal; às dificuldades sentidas pelos enfermeiros na prestação de cuidados; e à adequação da organização de cuidados em função das necessidades dos doentes paliativos em fase de deterioração ou terminal. Relativamente à perceção dos enfermeiros acerca do conceito de doente paliativo, a análise remeteu-nos para uma conceção composta pela pessoa e seu familiar, portadora de uma doença incurável, em fase terminal, que necessita essencialmente de cuidados de suporte e conforto, de forma continuada, de qualidade e em que haja preparação para o luto. Já as necessidades do doente paliativo em fase de deterioração ou terminal, transitaram processualmente entre diferentes patamares, desde as decorrentes de índole fisiológica até às de autorrealização, sendo as mais evidentes as sociais e de segurança, como a necessidade de acompanhamento e informação e a proteção da família. No que concerne às dificuldades sentidas pelos enfermeiros na prestação de cuidados ao doente paliativo em fase de deterioração ou terminal surgiram cinco categorias, das quais se destacaram as dificuldades do enfermeiro, como o confronto com a morte, o défice de formação ou a exaustão familiar e as provenientes da estrutura física inadequada dos serviços para a prestação de cuidados. Observou-se também que face às dificuldades encontradas os enfermeiros apresentaram dois tipos de estratégias para as superar: as de índole individual, como por exemplo o investimento na formação, e, de contexto organizacional. Uma vez reconhecida a necessidade de adequação da organização dos cuidados em função das necessidades dos doentes paliativos em fase de deterioração ou terminal, os enfermeiros projetaram a estrutura física do internamento como a mais importante e propuseram uma rede de apoio domiciliário, baseada num modelo de prestação de cuidados, oferecido por uma equipa multidisciplinar alargada com formação específica e de abordagem interdisciplinar. Face aos resultados, desejamos poder contribuir para que o doente com necessidades paliativas e seus familiares seja atendido de uma forna individual no sentido da satisfação das suas necessidades, indo ao encontro da própria filosofia dos cuidados paliativos.