Vivências dos adolescentes com doença hemato-oncológica na fase diagnóstica: Estudo de cariz fenomenológico

Publication year: 2014

Este trabalho teve como objetivo compreender as vivências dos adolescentes com doença hemato-oncológica na fase diagnóstica. Tratou-se de uma investigação empírica de tipo qualitativo, de cariz fenomenológico interpretativo, seguindo o método processual de Giorgi (1958). Foram entrevistados nove adolescentes, dos 15 aos 18 anos, com doença hemato-oncológica, em tratamento na unidade de oncologia pediátrica de um hospital especializado da zona centro de Portugal.

Dos dados emergiram três temas centrais relativos ao fenómeno em estudo:

antecipando uma doença grave; confrontando-se com a notícia do diagnóstico e entrando na doença como contingência existencial. Os adolescentes sentem que vivenciam a doença oncológica de forma particular, devido à fase de desenvolvimento em que se encontram. Eles percebem o diagnóstico como ameaçador às suas expectativas, planos e sonhos, confrontando-se com a ameaça de finitude como contingência pessoal. A doença é sempre compartilhada com os pais, embora a presença destes nem sempre seja percebida como desejável. Foram identificadas, ainda, por via indutiva, vivências relacionais significativas associadas ao cuidar nessa fase, relativas aos profissionais de saúde, amigos, família e pessoas externas. Os adolescentes percebem, progressivamente, o interesse e preocupação dos profissionais de saúde para com eles, tanto em interações técnicas como relacionais. Além disso, valorizam positivamente na fase diagnóstica uma experiência relacional entre si e os profissionais da equipa multiprofissional, como facilitadora do desenvolvimento de mecanismos de adaptação e superação da doença. Perante esta constatação, os profissionais de saúde devem cuidar dos adolescentes que vivenciam a fase inicial da doença oncológica de forma distinta de outras fases do desenvolvimento. Recomenda-se que os profissionais encorajem o exteriorizar e o partilhar dessas emoções e expetativas com grupos de pares e/ou com os cuidadores, com vista a modificar algum tipo de descentração da doença, de forma compreensiva e gradual, e a integrar progressivamente e pró-ativamente a doença no quotidiano dos adolescentes.