Desemprego, mecanismos de coping e felicidade: Estudo exploratório na vila da Lousã
Publication year: 2014
A felicidade é a mais almejada emoção da raça humana. Como obter e manter a felicidade é
uma questão complexa (Chemali, Chahine & Naassan, 2008). O facto de se estar desempregado está associado a uma deterioração ao nível da saúde física e mental e ao aumento da mortalidade
(Thomas, Benzeval & Stansfeld, 2005) e suicídio (Milner, Page & LaMontagne, 2013). Embora a investigação tenha avançado consideravelmente na compreensão de como o desemprego pode
estar relacionado com a doença (Bartley, 1994), a relação entre desemprego e felicidade (uma construção positiva) obteve menos atenção.
O principal objetivo do nosso estudo foi avaliar a influência do desemprego na felicidade numa amostra de adultos residentes na Lousã, uma pequena vila no centro de Portugal. Pretendemos
ainda analisar como os mecanismos de coping, características sociodemográficas e outras
variáveis (sexo, estado civil, idade, ter ou não filhos, duração do desemprego, religião, exercício
físico, associativismo, recreação/lazer) medeiam esta relação.
Realizámos um estudo exploratório e transversal, com 42 desempregados (desempregados há
pelo menos 3 meses) e 45 adultos empregados, selecionados de forma não aleatória. Os dados
foram coletados através de um questionário, que incluía a "Escala de Felicidade Subjetiva "
(Pais-Ribeiro, 2012), e o "Inventário da Resolução de Problemas" (Vaz Serra, 1987). Foi
utilizado o IBM SPSS® e testes paramétricos para testar as nossas hipóteses, considerando-se
um ?=0.05 como nível de significância.
Não houve diferença estatisticamente significativa na felicidade entre os indivíduos empregados
e desempregados (t(85)=1.243, p=0.217). Encontrámos uma correlação positiva e moderada entre
coping e felicidade (r=0.402, p=0.000). Não encontrámos também nenhuma outra correlação
com a felicidade (p<0.05), nem com testes de análise multivariada (regressão linear ou two-way
ANOVA) .
Assim, concluímos que o desemprego não contribui para uma menor felicidade, mesmo quando
se consideram os mecanismos de coping individuais como covariável (que isolada provou ter
uma correlação moderada com a felicidade). Tratando-se de um fenómeno multifatorial e
complexo, a transição de desemprego deve merecer a atenção de clínicos e investigadores,
nomeadamente no que concerne à promoção da saúde mental. Estudos futuros deverão incluir
amostras maiores e medir outros conceitos relacionados com a felicidade tais como o bem-estar
subjetivo ou autoeficácia.