Vivências, sentimentos e as ações adotadas por estudantes que observam situações de bullying escolar à luz da teoria social cognitiva
Life experiences, feelings and attitudes of students who observe school bullying based on the social cognitive theory
Publication year: 2020
Os índices elevados de ocorrência de bullying e suas consequências para os envolvidos o caracterizam como problema de saúde pública global. Na escola, bullying tem sido descrito como um tipo de violência intencional, repetitivo e com desequilíbrio de poder entre vítimas e agressores, ou seja, entre estudantes. Tal noção de violência permeia este estudo, que almejou compreender a vivência de estudantes identificados como observadores e testemunhas de bullying na escola. Trata-se de uma pesquisa qualitativo-descritiva desenvolvida em escola privada de Franca, SP. Vinte discentes do 9º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio foram selecionados como estudantes participantes da pesquisa segundo critérios de saturação. Os dados derivaram de respostas de questionário diagnóstico de testemunhos de bullying (foram consideradas ocorrências nos seis meses pré-coleta de informações), relatos em entrevistas (semiestruturadas e individuais) e falas em sessões de grupos focais (duas com alunos, duas com alunas, separadamente). A pesquisa seguiu pressupostos da teoria social cognitiva, de Albert Bandura. Os dados gerados foram analisados segundo critérios da análise temática, segundo Braun e Clarke. No diagnóstico realizado se identificou que 79% dos estudantes indicaram que na escola acontece bullying. Os resultados foram agrupados em cinco categorias temáticas (testemunho de bullying na escola; explicações para ocorrência de bullying; tomada de atitude, reforço e sentimentos; lógicas para a intervenção; escolas e famílias). No conjunto dos dados, os estudantes atribuem sentidos adicionais ao fenômeno bullying e não o reduzem à manifestação da violência física. Verificou-se também que os participantes demonstram conhecer as situações de bullying como problema, mas que muitas vezes lhes falta o senso de autoeficácia para adotar ações de ajuda ou defesa das vítimas. O estudo revela ainda que os participantes só tomaram alguma atitude perante uma situação de bullying quando havia relação de afeto ou intimidade com a vítima. A experiência de alunos e alunas divergiu pouco no caso de diálogos individuais (entrevistas) e coletivos (sessões de grupo focal). Ainda assim, cabe salientar a importância de estudantes observadores como grupo de potencial elevado para prevenir bullying na escola. Esse potencial, porém, precisa ser explorado mediante ações institucionais que lhes permitam aumentar seu senso de autoeficácia e de responsabilidade coletiva pela abordagem das agressões que testemunham na escola.
The high rates of bullying occurrences and its consequences for those involved in them characterize such problem as a global one in public health. School Bullying has been described as a type of intentional, repetitive violence with an imbalance of power between victims and aggressors, that is, among students. This notion of violence permeates this study, which aimed to understand the experience of students identified as observers and witnesses of bullying at school. It is a qualitative-descriptive research developed in a private school in the city of Franca, SP. Twenty students of the 9th grade of elementary school and from three grades of high school were chosen to participate in the research according to the saturation criteria. Data were derived from answers to a diagnostic questionnaire on bullying testimonies (occurrences in the six months before the phase of information gathering), from answers in interviews (semi-structured and individual) and accounts in focus group sessions (two sessions with male students, two with female students, separately). The research followed assumptions of social cognitive theory by Albert Bandura. Data generated were analyzed according to the thematic analysis criteria of Braun and Clarke. In the diagnosis, it was found that 79% of students indicated that bullying happens at school. Results were grouped into five thematic categories (testimony of bullying at school; explanations for the occurrence of bullying; attitude, reinforcement and feelings; logics for intervention; schools and families). In the data set, students attribute additional meanings to the phenomenon of bullying and do not reduce it to the manifestation of physical violence. It was also found that the participants demonstrate knowledge of bullying situations as a problem, but that they often lack the sense of self-efficacy to adopt actions to help or defend the victims. The study also reveals that the participants only acted in the face of a bullying situation when there was an affectionate or intimate relationship with the victim. The experience of female students and male students differed little when it comes to individual dialogues (interviews) and collective dialogues (focus group sessions). Even though, it is worth noting the importance of observer students as a group of high potential to prevent bullying at school. This potential, however, needs to be explored through institutional actions that allow such students to increase their sense of self-efficacy and collective responsibility as to addressing bullying events they witness at school.