Publication year: 2012
O exercício profissional dos enfermeiros na actividade pré-hospitalar tem respondido ao benefício da intervenção clínica precoce como forma de garantir a excelência de cuidados e a prática de acordo com a evidência neste domínio. No entanto, a dificuldade em afirmar a diferenciação do seu exercício neste contexto permanece até hoje, sendo até conhecida alguma contestação social interna e externa à profissão. O facto de ser um âmbito inexplorado, pouco conhecido e esclarecido, motivou a realização deste trabalho com o objectivo de analisar em contexto, como é percebido o exercício pré-hospitalar dos e pelos enfermeiros.
Realizámos um trabalho de campo de cariz qualitativo, com recurso à ?Grounded Theory?, de acordo com Strauss e Corbin, tendo como fontes de dados entrevistas não estruturadas a 12 enfermeiros, a observação participante, a experiência da investigadora, a legislação e 12 testemunhos de enfermeiros na Suécia, França e Espanha.
Da análise emergiu o conceito central:
Exercício de Enfermagem Pré-Hospitalar: Esforço Contínuo de Afirmação Profissional. O contexto pré-hospitalar caracteriza-se por especificidades próprias, como a pluridisciplinaridade da intervenção, a abrangência pluripatológica em todo o ciclo vital e a diversidade dos espaços de trabalho.
A este conceito associam-se factores mediadores, como por exemplo a formação académica, a experiência profissional, a evolução da prática pré-hospitalar e a comparação com outros contextos internacionais, factores cuja ambiguidade determina maior complexidade e empenhamento profissional.
Como causas para o maior esforço para se afirmarem profissionalmente, os enfermeiros identificam, as lacunas na formação específica, as indefinições na regulação da actividade, entre outras.
Surgem várias estratégias de reforço interno, como a procura da formação, o trabalho de equipa e a prestação de cuidados globais que diferenciam o cuidar dos enfermeiros.
Associam-se ao fenómeno várias consequências, positivas e menos positivas ao nível dos três vectores de intervenção: os doentes que têm acesso precoce aos cuidadosdiferenciados; os enfermeiros que evidenciam evolução profissional, mas que também sentem frustração com as indefinições na actividade; o sistema/organização que ganha a diferenciação do socorro, mas igualmente desaproveita habilidades dos recursos.
Conclui-se que o esforço de afirmação profissional dos enfermeiros nesta área se faz através das suas competências, técnicas, científicas, éticas, de ajuda pela relação, e pela sua convicção na capacidade e necessidade de intervenção neste domínio.
Com base nos resultados, compreendemos que nesta estrutura, existem resistências à afirmação profissional dos enfermeiros, consubstanciadas por algumas condições que não beneficiaram de estratégias efectivas.
Estes pressupostos permitiram-nos alguma conceptualização do exercício pré-hospitalar dos enfermeiros, apresentar algumas sugestões de trabalho e investigação, convencidos que um melhor conhecimento deste processo concorrerá para uma definição mais assertiva e completa desta actividade.