Os registos de enfermagem: Um olhar sobre o estado real da saúde das pessoas?
Publication year: 2012
A enfermagem é uma profissão essencialmente prática. Devido à sua natureza, debate-se hoje com o impacte da introdução de sistemas de informação no seu quotidiano. Há então a necessidade de se rediscutirem aspetos da profissão nunca antes questionados. A introdução dos sistemas de informação informatizados no processo de conceção de cuidados de enfermagem deve ser um veículo para o desenvolvimento da investigação em enfermagem. A presente investigação traduz a preocupação sobre se o que é registado no SAPE reflete as necessidades das pessoas em cuidados de enfermagem e possibilita encontrar os resultados que lhes são sensíveis. Assim, pretende-se identificar os registos mais valorizados e os não valorizados procedendo à análise de um instrumento comparativamente aos registos informatizados produzidos pelos enfermeiros de um serviço de medicina do nosso país. Trata-se de um estudo exploratório - descritivo com medições repetidas. Para a recolha de dados, diretamente nos doentes, recorreu-se ao instrumento de colheita de dados InterRAI para a comparação utilizaram-se os registos no SAPE sobre os mesmos doentes a quem foi aplicado o instrumento. A nossa amostra foi de 36 pessoas. A análise do instrumento permite-nos ter uma visão completa do estado de saúde/doença da pessoa em diferentes variáveis (cognição, comunicação e visão, comportamento e ânimo, estado funcional, continência urinária e fecal, condições de saúde, estado nutricional e oral, estado da pele, tratamentos e procedimentos após a alta, potencial da alta), no entanto, nos registos do SAPE, verificamos que não são valorizados focos como a capacidade cognitiva, capacidade de compreensão e expressão, ânimo, de desempenho em atividades domésticas, questões nutricionais e ainda dados sociodemográficos nomeadamente relativo à pessoa significativa e a apoios anteriores à admissão. Verificamos que os diagnósticos de enfermagem registados contemplam os autocuidados sendo este um dos focos mais sensíveis aos cuidados de enfermagem e os diagnósticos requeridos institucionalmente. Não há a identificação de muitos diagnósticos por pessoa, não há alteração de status e ainda se constatam alguns diagnósticos sem status o que não permite saber a evolução da pessoa ao longo do internamento. Não existem diagnósticos relativos a ensinos à pessoa e ao prestador de cuidados na preparação para o regresso a casa. Os registos não podem refletir a qualidade dos cuidados de enfermagem se não traduzem toda a informação que o enfermeiro tem.