Publication year: 2011
As crianças com multideficiência apresentam comportamentos inespecíficos de dor, devido às suas limitações cognitivas e neuromusculares. Estes comportamentos são difíceis de diagnosticar, o que tem contribuído para que a dor nestas crianças seja sub-tratada. A avaliação correcta da dor só é possível através do uso de instrumentos de heteroavaliação validados para esta população específica. Porém, em Portugal não existe um instrumento de avaliação de dor traduzido e validado para português.
Objectivo:
Traduzir e validar semântica e culturalmente a escala “Face, Legs, Actvity, Cry, Consolability – Revised” (FLACC-R) para português e avaliar a sua validade, consistência interna, reprodutibilidade e utilidade clínica em crianças com multideficiência dos 4 aos 18 anos.
Metodologia:
Numa primeira fase, realizou-se a tradução e adaptação cultural e linguística da escala para português. A tradução e retroversão da escala foram realizadas, para cada uma, por duas tradutoras bilingues de forma independente. A versão final consenso foi comparada com a versão original, verificando-se equivalência entre ambas. Posteriormente, a escala na versão portuguesa foi aplicada por duas enfermeiras de forma independente e simultânea a crianças com multideficiência com idades entre os 4 e os 18 anos, internadas no Hospital Pediátrico Carmona da Mota, para a avaliação da validade, consistência interna, reprodutibilidade e utilidade clínica da escala.
Resultados:
Participaram neste estudo 40 crianças. Todos os pais caracterizaram o comportamento individual da criança, o que demonstrou ser útil na avaliação da dor. A versão portuguesa da escala (FLACC-R-P) apresentou validade (variância explicada com um factor de 51,7%), boa consistência interna (α de Cronbach = 0,763) e reprodutibilidade (Kappa médio 0,962 – 0,827; ICC = 0,966). Evidenciou ainda características como facilidade de utilização e compreensão, com tempo de preenchimento curto.
Conclusão:
A escala FLACC-R-P apresenta adequadas propriedades psicométricas. A sua capacidade de Individualização evidencia-se como uma vantagem da escala. Acredita-se que a disponibilização da versão portuguesa irá colmatar a falta de instrumentos disponíveis em Portugal, contribuir para uma melhor avaliação da dor, aumentando a qualidade de vida destas crianças.