Funcionamento familiar e recursos ambientais oferecidos pelas famílias de crianças com transtornos mentais
Family functioning and environmental resources offered by families of children with mental disorders
Publication year: 2018
Embora exista um corpo de pesquisa dedicado a investigar as relações entre família e adoecimento psíquico, ainda faltam muitas informações sobre como se dão estas interações. Os transtornos mentais apresentam um impacto significativo sobre as famílias e, ao mesmo tempo, podem ser afetados por características da mesma. Além disto, a depender dessas características, a família pode apresentar-se como fator de proteção (suporte, apoio) ou risco ao desenvolvimento do portador de transtorno mental, em especial na infância. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi caracterizar as famílias de crianças com transtorno mental em relação ao funcionamento familiar e os recursos ambientais que estas famílias oferecem para suas crianças, buscando identificar associações entre o funcionamento familiar, a disponibilização de recursos no ambiente familiar e as variáveis sociodemográficas. Responsáveis por 33 pacientes de um serviço de Psiquiatria foram entrevistados para o preenchimento de um questionário sociodemográfico, o Questionário de Capacidades e Dificuldades - SDQ, o Inventário de Recursos do Ambiente Familiar - RAF, e a Escala de Avaliação da Coesão e Adaptabilidade Familiar - FACES IV. Foram realizadas análises descritivas e aplicados o teste de correlação de Spearman para verificar associações entre as dimensões de funcionamento familiar e os recursos do ambiente familiar; as variáveis sociodemográficas foram categorizadas e submetidas a análises comparativas, utilizando o teste de Mann Whitney (variáveis dicotômicas) e teste de Kruskal Wallis (variáveis com três categorias). A maioria dos pacientes investigados eram do sexo masculino (69,7%) e frequentavam escola (78,8%). Os diagnósticos mais frequentes foram Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (39,4%) e Transtorno do Espectro Autista (39,4%). Apenas 12,1% das famílias foram consideradas disfuncionais. Os recursos mais presentes no ambiente foram brinquedos (6,9 ±2,0), a família estar reunida para atividades de rotina (6,6 ±2,3), realização de atividades conjuntas com os pais em casa (6,0 ±2,1) e organização dos horários/rotina (5,9 ±2,5). Variáveis sociodemográficas como frequência à escola, o responsável exercer atividade profissional, percepção familiar sobre a gravidade das dificuldades da criança, escolaridade do responsável e classe social mostraram influência sobre funcionamento familiar. Frequência da criança à escola, responsável trabalhar fora, presença de comorbidades, escolaridade do responsável e classe socioeconômica também influenciaram a oferta de recursos pela família. A subescala emaranhada (disfuncional) de funcionamento familiar mostrou associação positiva com sintomas emocionais (r= 0,376; p<0,01) e a subescala satisfação familiar correlacionou-se negativamente com os mesmos sintomas (r=-0,365; p<0,05). As subescalas desequilibradas (desengajada, emaranhada e caótica) apresentaram correlações negativas fracas ou moderadas com os recursos ambientais (variando de r=-0,348 a r=-0,484). As subescalas equilibradas (coesão, flexibilidade, comunicação e satisfação familiar) correlacionaram-se positivamente (variando de r=0,348 a r=0,515) com a maioria dos recursos investigados pelo RAF. A presença de sintomas de hiperatividade e de sintomas emocionais mostrou-se negativamente correlacionada com os recursos investigados. De modo geral, as famílias investigadas apresentam um bom funcionamento, entretanto, há indicadores de disfuncionalidade presentes. Os resultados evidenciam que crianças com transtorno mental têm poucos recursos disponíveis no ambiente familiar que possam promover seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e social. Além disto, os achados sugerem que quanto mais dificuldades a criança apresenta, menor é seu acesso a estes recursos. Apesar das dificuldades, recursos pessoais e familiares estão presentes
Although there is a body of research dedicated to investigate the relationship between family and mental illness, still lack a lot of information about these interactions. Mental disorders have a significant impact on families and, at the same time, may be affected by family characteristics. In addition, depending on these characteristics, the family can present itself as a protective or risk factor to the development of the bearer of mental disorder, especially in childhood. In this context, the objective of this study was to characterize the families of children with mental disorder in relation to family functioning and the environmental resources that these families provide for their children, seeking to identify associations between family functioning, the availability of resources in the family environment and sociodemographic variables. Parents of 33 patients from a Psychiatry service were interviewed to complete a sociodemographic questionnaire, the Capacities and Difficulties Questionnaire - SDQ, the Family Environment Resource Inventory - RAF, and the Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale IV (FACES IV). Descriptive analyzes were performed and the Spearman correlation test was applied to verify associations between the dimensions of family functioning and the resources of the family environment; the sociodemographic variables were categorized and submitted to comparative analysis using the Mann Whitney test (dichotomous variables) and Kruskal Wallis test (variables with three categories). The majority of the patients investigated were males (69.7%) and attended school (78.8%). The most frequent diagnoses were Attention Deficit Hyperactivity Disorder (39.4%) and Autism Spectrum Disorder (39.4%). Only 12.1% of the families considered were dysfunctional. The resources more present in the environment were toys (6.9 ±2.0), the family be gathered for routine activities (6.6 ±2.3), carrying out joint activities with parents at home (6.0 ±2.1) and the organization of schedules /routine (5.9 ±2.5). Sociodemographic variables such as attendance at school, the respondent engage in professional activity, family perception about the severity of the child's difficulties, schooling of the respondent and social class showed influence on family functioning. Frequency of the child to school, respondent work outside, presence of comorbidities, schooling of the respondent and socioeconomic class also influenced the supply of resources by the family. The enmeshed subscale (unbalanced) showed a positive association with emotional symptoms (r = 0.376, p <0.01) and the family satisfaction subscale correlated negatively with the same symptoms (r = -0.365, p <0.05). Unbalanced subscales (disengaged, enmeshed and chaotic) showed weak or moderate negative correlations with environmental resources (ranging from r = 0.348 to r = -0.484). The balanced subscales (cohesion, flexibility, communication and family satisfaction) correlated positively (ranging from r = 0.348 to r = 0.515) with the majority of the resources investigated by the RAF. The presence of hyperactivity and emotional symptoms were negatively correlated with the investigated resources. In general, families investigated have a good functioning; however, indicators of dysfunction are present. The results show that children with mental disorders have few resources available in the family environment that can promote their affective, cognitive and social development. In addition, the findings suggest that the more difficulties the child presents, the less is the access to these resources. Despite difficulties, personal and family resources are present