Consumo de psicofármacos por familiares cuidadores de pessoas com transtorno bipolar: fatores associados e significado do consumo
Consumption of psychotropic drugs by family caregivers of people with bipolar disorder: associated factors and meaning of consumption
Publication year: 2018
Os familiares são importantes cuidadores de pessoas com transtorno bipolar, podendo estar vulneráveis à sobrecarga, alterações na qualidade de vida e à utilização de psicofármacos. Os objetivos neste estudo foram verificar a prevalência do consumo de psicofármacos e fatores associados em familiares cuidadores de pessoas com transtorno bipolar e compreender o significado que eles atribuem para o próprio consumo do psicofármaco. Trata-se de estudo misto, realizado em duas etapas e em três serviços de um município paulista. A etapa quantitativa foi transversal analítica, para avaliar fatores associados ao consumo de psicofármacos entre familiares cuidadores. Participaram dessa etapa 100 familiares cuidadores, mediante aplicação da Escala de Avaliação da Sobrecarga Familiar; Escala de Avaliação da Qualidade de Vida e questionários para verificar o consumo de psicofármacos e dados demográficos e socioeconômicos. Para análise da associação entre variáveis demográficas e socioeconômicas e o consumo de psicofármacos foram utilizados os testes qui-quadrado e teste exato de Fisher. Para comparação dos escores médios das escalas de qualidade de vida e de sobrecarga familiar foram utilizados o teste U de Mann-Whitney, para as subescalas e domínios sem distribuição normal, e t de Student, para aqueles com distribuição normal. Foi realizado modelo de regressão logística para identificar os preditores de uso de psicofármacos. O consumo de psicofármacos foi de 32%, com predomínio de prescrições feitas por psiquiatras (41%), de antidepressivos (65,6%) e ansiolíticos (59,4%), e diferença estatisticamente significante em relação ao consumo quando comparado às variáveis sexo (p=0,031) e ocupação (p=0,006). A sobrecarga não apresentou associações estatisticamente significantes, enquanto a qualidade de vida foi melhor entre familiares cuidadores que não consumiam psicofármacos. As variáveis domínio social (OR=0,9530; IC 95% 0,9270-0,9760) da escala de qualidade de vida e unidade HC (OR=0,2674; IC 95% 0,0764-0,8141) contribuíram para o modelo de regressão. Na etapa qualitativa do estudo enfocou-se o significado que o familiar cuidador atribui ao próprio consumo de psicofármaco, utilizando-se o Interacionismo Simbólico como referencial teórico e a Teoria Fundamentada nos Dados como referencial metodológico.
Os dados qualitativos foram obtidos por meio de entrevistas abertas gravadas com 32 familiares cuidadores e foram analisados em três etapas:
codificação aberta, axial e seletiva. Os familiares cuidadores aprendem a conviver com a pessoa com transtorno bipolar e buscam o psicofármaco como forma de autocuidado para assumir a tarefa de ser cuidador. As crenças, medos e percepções relacionadas ao consumo, somadas à falta de informações e à presença de efeitos colaterais levam o familiar cuidador a repensar a importância do consumo. Contudo, a utilização do psicofármaco não é interrompida para a maioria em razão dos benefícios percebidos e da possibilidade de seguir a vida com mais equilíbrio e qualidade de vida. Os resultados desta pesquisa oferecem maior compreensão do fenômeno estudado e subsídios para a melhoria da assistência para essa clientela
Family members are important caregivers of people with Bipolar Disorder (BD) and may be vulnerable to overload, changes in quality of life and use of psychotropic drugs. This study aimed to verify the prevalence of consumption of psychotropic drugs and associated factors in family caregivers of people with BD and to understand the meaning they attribute to the consumption of psychotropic drugs. This mixed study was carried out in two stages and in three services of a city of São Paulo state. The quantitative stage used the analytical cross sectional method to evaluate factors associated to the consumption of psychotropic drugs by family caregivers. The total of 100 family caregivers participated in this stage and the Family Overload Evaluation Scale (FBIS-BR); the quality of life evaluation scale - WHOQOL-Bref; and questionnaires to verify the consumption of psychotropic drugs and demographic and socioeconomic data were used to collect data. The Chi-square test and Fisher's exact test were used to analyze the association between demographic and socioeconomic variables and consumption of psychotropic drugs. The Mann-Whitney U test for the subscales and domains with non-normal distribution and Student's t test for those with normal distribution were used to compare the mean scores of the quality of life and family overload scales. A logistic regression model was developed to identify the predictors of use of psychotropic drugs. Consumption of psychotropic drugs was of 32%, with predominance of prescriptions provided by psychiatrists (41%), antidepressants (65.6%) and anxiolytics (59.4%), and a statistically significant difference when consumption was compared with the sex variables (p=0.031) and occupation (p=0.006). The overload did not present statistically significant associations, whereas the quality of life was better among family caregivers who did not consume psychotropic drugs. The social domain variables (OR=0.9530; IC 95% 0.9270-0.9760) of the quality of life scale and HC unit (OR=0.2674, IC 95% 0.0764-0.8141) contributed for the regression model. The qualitative stage of the study focused on the meaning that the familiar caregiver attributes to the own consumption of psychotropic drug and used Symbolic Interactionism as theoretical reference and the Grounded Theory as a methodological reference.