Adolescências: luz, câmera e ação sobre a coprodução de autonomia no cuidado em saúde mental

Publication year: 2022

Introdução:

A perspectiva da atenção psicossocial infantojuvenil é uma construção desafiadora, em que o cuidar do sofrer e das subjetividades dos adolescentes convoca as equipes a construí-lo com os próprios assistidos. Exige considerar os adolescentes como cidadãos, sujeitos de direito e trabalhar com a concepção de que eles falam, opinam, contribuem com as decisões, além de entender, interpretar e desenvolver habilidades e competências com vistas à coprodução e ao exercício da autonomia no cuidado em saúde mental.

Objetivo:

analisar a coprodução de autonomia e suas implicações no cuidado em saúde mental dos adolescentes.

Metodologia:

Trata-se de uma pesquisa que se fundamenta no paradigma construtivista, com abordagem qualitativa e participativa, mediante o percurso teórico-metodológico do Photovoice, adaptado a esta pesquisa. A produção do material empírico ocorreu entre os meses de julho a setembro de 2022, em um Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil (CAPSi) de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e contou com a participação de quatro adolescentes que estavam em acompanhamento por este serviço e frequentavam a oficina Photovice. Não participaram aqueles que tiveram alguma dificuldade de verbalizar.

Foram utilizadas as técnicas de coleta de dados:

notas de campo e a realização e gravação de 14 Círculos de Cultura. Compuseram as notas de campo as anotações do trabalho de campo e artefatos produzidos no seu decorrer, como escritas dos adolescentes e imagens do percurso. Os Círculos de Cultura compreenderam rodas de conversa com os adolescentes, semanalmente, em que suas imagens (fotos) eram selecionadas e compartilhadas, a fim de que seu autor apresentasse suas percepções e os motivos para captura, relacionando-as com a coprodução de autonomia. Foram produzidas 221 fotografias ao todo. Os dados foram analisados simultaneamente à coleta, por meio do Método Comparativo Constante, resultando em três categorias: as adolescências e suas trajetórias; o cotidiano das relações dos adolescentes e a coprodução de autonomia; o Photovoice e a coprodução de autonomia dos adolescentes nas práticas de cuidado em saúde mental. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição proponente (CAEE: 59064222.6.0000.5347) e coparticipante (CAEE:59064222.6.3001.5530), os adolescentes participantes assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, assim como seus pais e/ou responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados:

A coleção de fotografias e as narrativas representaram uma composição de criações, experiências, encontros, reflexões e movimentos sobre o que eles têm a dizer acerca da coprodução de autonomia em suas vidas e seu cuidado em saúde mental. As adolescências e suas trajetórias evidenciaram o movimento de estar atento às características do outro, conhecer as necessidades dos jovens, seus valores e seu mundo, opondo-se às abordagens tradicionais que desconsideram seus contextos histórico, sociais e culturais. Os adolescentes relacionaram a coprodução de autonomia com o que é vivido, enfatizando àquilo que fazem, como usam o tempo, aonde vão, quais são seus desejos, como o contexto social facilita ou dificulta, trazendo suas relações com a família e com seu território. Nas relações familiares, destacaram a presença ou ausências de pessoas de referência, os movimentos de afirmação como sujeitos de direitos, de “querere não poder”,de reconhecer seu mundo subjetivo e seus espaçosde subjetivação, alémdo cotidiano de fazer sozinho edos conflitos. Por sua vez, o territóriofoi o palco social para 10 acoprodução e exercício daautonomia, em que escutar suas histórias e como percebem os espaços da suacomunidade, a escola,as amizades e seus projetos de vida favorecem à reflexão sobre a realidade de habitar o lugar, as relações e as possibilidades, de ser ou não ser, como coproducão e exercício de autonomia. Por fim, discute-se o Photovoice enquanto percurso da pesquisa com adolescentes e não sobre eles, sendo também um método de cuidado, uma ferramenta que apoia processos criativos e a autonomia dos adolescentes no cuidado em saúde mental.

Considerações finais:

os resultados desta pesquisa possibilitam sustentar a tese de que a coprodução de autonomia dos adolescentes no cuidado em saúde mental imprime o caminho de superação das práticas tutelares, além de confrontar a descontinuidade do cuidado e auxiliar no enfrentamento do estigma em saúde mental.

Introduction:

The perspective of child and adolescent psychosocial care is a challenging construction because taking care of adolescents’ suffering and their subjectivities calls upon the health teams to build it along with the adolescents. It requires seeing adolescents as citizens, people under law, and considering that they are able to speak, give their opinion and contribute to make decisions. In addition, they are able to understand, interpret, and develop skills and competences to co-produce and exercise autonomy regarding their mental health care.

Objective:

the present research aims to analyze the co-production of autonomy and its implications for the mental health care of adolescents.

Method:

This research is based on the constructivist paradigm, with a qualitative and participatory approach, through the Photovoice theoretical-methodological path, which has been adapted to this research. The data collection occurred between July and September 2022, in a Child and Adolescent Psychosocial Care Center (CAPSi) in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, four adolescents assisted by this servisse that were attending the Photovice workshop participated on the study. Those who had some difficulty to speak did not participate. Research notes, and the conduction and recording of 14 Culture Circle meetings were the techniques used to build the database. Research notes consisted of fieldwork notes and produced artifacts, such as adolescents’ writings and photos along the walk. The Culture Circles involved weekly debates with the adolescents, where they selected and shared their images (photos). The adolescents could present their perceptions and the reasons for shooting them. Furthermore, they related the pictures to the co-production of autonomy. A total of 221 photographs were produced. The data were analyzed through the Constant Comparative Method, simultaneously with the collection, resulting in three categories: adolescences and their trajectories; the daily life of adolescents’ relationships and the co-production of autonomy; Photovoice and the co-production of adolescents’ autonomy in mental health care practices. The research was approved by the Research Ethics Committee of the proposing institution (CAEE: 59064222.6.0000.5347) and co-participant (CAEE:59064222.6.3001.5530). The participants signed an Informed Assent Form, as well as their parents and/or guardians an Informed Consent Form.

Results:

The collection of photographs and narratives represented a composition of creations, experiences, meetings, reflections, and movements that reflect their opinion about the co- production of autonomy in their lives and their mental health care. The category adolescence and their trajectories evidenced the movement of paying attention to the characteristics of the others, getting to know the needs of young people, their values, and their world, as opposition to traditional approaches that disregard their historical, social, and cultural contexts. Adolescents related the co-production of autonomy to their own experiences, emphasizing their daily activities, the way they spend their time, places they usually go, their desires, and how the social context facilitates or hampers them, bringing up their relationships with their families and their territory. Regarding family relationships, they highlighted the presence or absence of reference people, the movements of affirmation as people under law, “wanting and not being able to do something”, recognizing their subjective world and their spaces of subjectivation, besides the routine of doing things on their own and their conflicts. The territory consisted of their social scene for the co-production and exercise of autonomy, listening to their stories and how they perceive the community spaces, the school, the friendships, and their life projects support the reflection on the reality of inhabiting the place, the friends, and the possibilities, being or not being themselves, as the co-production and exercise of autonomy. Finally, Photovoice is discussed as a potential participative research, which is not only about adolescents, but includes them. Also, Photovoice can be a method of caring, a tool that supports creative processes and the autonomy of adolescents in mental health care.

Final considerations:

the research results support the thesis that the co-production of adolescents’ autonomy in mental health care sets the stage for overcoming guardianship practices, confronting the discontinuity of care and helping to face the stigma in mental health.